Bloomberg — A maioria dos bancos centrais ao redor do mundo pode estar perto de um pico de juros ou já ter feito o aumento necessário das taxas, indicando um hiato antes que um possível afrouxamento monetário apareça.
Com os primeiros sinais de enfraquecimento do crescimento econômico agora visíveis e as consequências das tensões no mercado financeiro persistentes, qualquer pausa do Federal Reserve após pelo menos mais um aumento em maio pode consolidar uma virada no que foi o mais agressivo aperto monetário que o mundo já viu em décadas.
O Banco Central Europeu e as contrapartes regionais podem continuar por mais tempo e até aspirar a manter as configurações restritivas, mas uma mudança na política monetária dos Estados Unidos liderada pelo presidente Jerome Powell seria um sinal importante para os pares globais.
Do Brasil à Indonésia, um pivô em direção a cortes de juros pode começar ainda este ano, com muitas autoridades do mundo desenvolvido não muito atrás. No geral, pelo menos 20 das 23 principais jurisdições monitoradas pela Bloomberg devem reduzir os custos de empréstimos em 2024.
O pico de curta duração para as taxas globais, de acordo com um medidor calculado pela Bloomberg Economics, será de 6% no terceiro trimestre. Até o final do ano que vem, essa medida deve cair para 4,9%.
Como nos ciclos anteriores, o Japão pode se destacar. Sob o recém-empossado governador Kazuo Ueda, sua taxa – atualmente a mais baixa do mundo – deve permanecer inalterada até o próximo ano, quando um aumento para zero é finalmente considerado.
“A reabertura mais rápida da China, a Europa se esquivando de uma desaceleração e os mercados de trabalho apertados dos EUA pedem por taxas mais altas. O colapso do Silicon Valley Bank e do Credit Suisse puxa na direção oposta. Até agora, com sinais limitados de uma crise bancária mais ampla, são os argumentos a favor do aperto que estão ganhando o dia. As taxas de pico estão à vista, mas ainda não chegamos lá”, disse Tom Orlik, economista-chefe da Bloomberg Economics.
Confira a seguir as principais estimativas da Bloomberg para as taxas de juros no Brasil, nos EUA e na zona do euro:
Banco Central (BC)
- Taxa Selic atual: 13,75%;
- Expectativa da Bloomberg Economics para o fim de 2023: 12%;
- Expectativa da Bloomberg Economics para o fim de 2024: 9%
No Brasil, o Banco Central não deu nenhuma indicação de que está pronto para começar a reduzir sua taxa após o maior patamar para a Selic em seis anos. A autoridade monetária resiste à intensa pressão política por uma política monetária mais frouxa.
Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sua equipe econômica e muitos líderes empresariais reclamam que os custos dos empréstimos estão sufocando a maior economia da América Latina, os banqueiros centrais insistem que o custo de reduzir a inflação para a meta seria ainda maior no futuro se eles vacilassem em sua luta agora.
A autoridade monetária liderada por Roberto Campos Neto manteve a Selic estável em 13,75% por cinco reuniões consecutivas, após aumentá-la de uma mínima histórica de 2% durante a pandemia.
Mesmo com a inflação desacelerando por 10 meses consecutivos em meados de março, o banco central ainda está tentando desacelerar o setor de serviços enquanto luta contra um recente aumento nas expectativas de inflação para os próximos três anos.
Um plano para fortalecer as finanças do governo proposto pela equipe de Lula pode ajudar o banco a reduzir as taxas no futuro, mas não antes de ser aprovado pelo Congresso.
“A inflação está caindo no Brasil e o governo preparou uma nova estrutura fiscal, mas as condições ainda não justificam um corte de juros. O BC vai querer ver uma nova queda na inflação subjacente, as expectativas de inflação de longo prazo convergindo para a meta e uma melhora nas perspectivas de mercado para a dívida pública. Não vemos isso acontecendo até o terceiro trimestre. Depois disso, um caminho de flexibilização gradual deve manter a política rígida até o final de 2024″, avalia Adriana Dupita, economista da Bloomberg Economics.
Federal Reserve (Fed)
- Taxa de juros atual: 5%;
- Expectativa da Bloomberg Economics para o fim de 2023: 5,25%;
- Expectativa da Bloomberg Economics para o fim de 2024: 4,25%
As autoridades do Fed parecem estar no caminho certo para continuar elevando as taxas, apesar das recentes tensões bancárias, com os preços mais altos do petróleo contribuindo para novo aumento dos juros na reunião do Fomc de maio.
Embora os formuladores de políticas enfatizem a paciência ao avaliar o que o colapso do SVB significa para a economia dos EUA, não houve muita mudança em sua retórica sobre a necessidade de diminuir as pressões de preços.
As autoridades preveem que as taxas cheguem a 5,1% este ano, implicando outro aumento de 25 pontos-base em relação à atual meta de referência do Fed de 4,75% a 5%.
Dito isso, as condições financeiras ficaram mais rígidas após a quebra do SVB e as autoridades não descartam que isso ajude a desacelerar a economia dos EUA, o que pode reduzir a necessidade de novos aumentos.
Os investidores preveem que as taxas atingirão um pico abaixo de 5%, com o Fed cortando cerca de 50 pontos-base antes do final de 2023.
“Com os recentes cortes de produção da Opep+ e o ainda apertado mercado de trabalho dos EUA, a inflação provavelmente permanecerá em torno de 4% em 2023 e impedirá o Fed de cortar as taxas, como os mercados atualmente preveem. Vemos o Fed mantendo as taxas no nível de pico durante este ano, mesmo com a probabilidade de uma recessão leve se desenvolver no final de 2023″, avalia Anna Wong, da Bloomberg Economics.
Banco Central Europeu (BCE)
- Taxa de juros atual: 3%;
- Expectativa da Bloomberg Economics para o fim de 2023: 3,5%;
- Expectativa da Bloomberg Economics para o fim de 2024: 2,5%
As autoridades do BCE estão sinalizando cada vez mais que seu período mais agressivo de aumentos de juros pode estar chegando ao fim. Alguns prováveis aumentos menores permanecem - para combater a inflação subjacente, que quebrou outro recorde em março e permanecerá elevada.
Mas com os ganhos dos preços voltando firmemente para a meta de 2%, a maior parte do aperto – 350 pontos-base desde julho passado – está completa.
As discussões sobre o fim do ciclo acompanham as recentes turbulências do setor financeiro. Alguns formuladores de políticas avaliam que os credores podem controlar o crédito como resultado dessa turbulência, uma medida que pesaria no crescimento econômico e na inflação.
Enquanto isso, outra frente na batalha com os preços começou, já que o BCE permite que uma média de 15 bilhões de euros (US$ 15,8 bilhões) por mês sejam retirados de seu balanço patrimonial entre março e junho. Uma quantidade maior pode ser permitida além disso.
-- Com a colaboração de Beril Akman, Sarina Yoo, Clarissa Batino, Ruchi Bhatia, Toru Fujioka, Walter Brandimarte, Matthew Brockett, Alister Bull, Myungshin Cho, Jeremy Diamond, Patrick Gillespie, Ruth Olurounbi, Michael Heath, Erik Hertzberg, Harumi Ichikura, Sam Kim, Peter Laca, Andrew Langley, Prinesha Naidoo, Nasreen Seria, Scott Johnson (Economist), Piotr Skolimowski, Yuko Takeo, Stephen Wicary e Ott Ummelas.
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