Bloomberg — Planejar uma viagem está diretamente relacionado a felicidade – pelo menos é o que dizem centenas de artigos, pesquisadores e estudos científicos. Mas então por que é uma tarefa tão difícil?
Talvez porque acreditamos que estamos procurando algo único quando na realidade não queremos nos aventurar tão longe do básico. Ou porque a internet parece cheia de ideias, mas sempre acaba nos levando aos mesmos clichês ou até porque nossos sonhos são maiores que nossos orçamentos.
Depois de muito tempo sem saber o que eu realmente queria quando fui planejar minhas próximas férias, decidi usar a inteligência artificial generativa. Afinal, o ChatGPT-4, a versão mais recente do chatbot da Open AI, promete ajudar criativamente os usuários a fim de resolver problemas complexos.
Confira como a ferramenta enfrentou uma variedade de situações de planejamento de viagens para testar a tecnologia e como ela poderia ajudá-lo também.
Case de sucesso
Missão: Uma viagem relaxante e familiar com duas crianças (muito) jovens
Nota: 9/10
A maioria dos hotéis glamourosos preferem contar como eles atendem casais em lua-de-mel do que crianças, apesar do fato de que millennials – seu público-alvo outrora cobiçado – agora têm e viajam com seus filhos. Eu tentei confundir o ChatGPT, pedindo não apenas para que encontrasse resorts caribenhos cinco estrelas com áreas infantis mas especificamente aqueles que aceitariam minha filha de 4 anos; para minha frustração, a maioria das áreas infantis aceita crianças acima dos 5 anos de idade.
Sua primeira sugestão foi certeira: o Four Seasons Nevis realmente permite que crianças de até 3 anos participem de sua programação Kids for All Seasons.
Muitas dessas atividades são cortesia, fiquei surpresa! Quando eu pesquisei no site do resort para verificar a sugestão do ChatGPT, vi evidências de um parque de diversões na areia (que minha filha adoraria) e uma bela estação artesanato na área infantil. Adorei.
O chatbot também sugeriu o Eden Roc Cap Cana na República Dominicana, destino que eu realmente planejei para minhas férias deste ano, mas desisti dos planos porque as passagens de Nova York estavam muito caras. O resort é um sonho cheio de comodidades para famílias com filhos, e o Koko Kid’s Club aceita crianças de 4 anos.
Sugestões menos adequadas foram os resorts all-inclusive Beaches Turks & Caicos e Grand Velas Riviera Maya. Eles até aceitam crianças, mas não estão no mesmo patamar de luxo.
Em outra pesquisa, o ChatGPT recomendou grandes hotéis como o Malliouhana em Anguilla, onde meu filho não tem idade suficiente para participar do Programa Mini-Explorers, que aceita crianças a partir de 5 anos de idade (aviso: nenhuma dessas informações é fácil de encontrar on-line; eu procurei nos cantos mais obscuros dos sites dos hotéis. Também é possível que o ChatGPT estivesse simplesmente passando informações desatualizadas; isso é algo que a OpenAI adverte explicitamente quando você começa a usar a ferramenta).
O chatbot também se saiu surpreendentemente bem quando eu lhe dei ainda menos parâmetros. Em uma nova consulta, pedi ideias para férias relaxantes que eu poderia tirar com meu bebê de 1 ano de idade, idealmente em até dois fusos horários de casa.
Como a ferramenta não sabia que eu morava em Nova York, a segunda parte da minha pergunta o confundiu, e ele chegou a sugerir as cidades de Vancouver e San Diego. O ChatGPT parece um ser humano na forma como expressa as respostas, mas não faz perguntas para saber mais sobre a consulta. É melhor ser específico. Mesmo assim, suas sugestões incluíram a Costa Rica e sua reserva de floresta tropical perto do vulcão Arenal (para onde eu realmente vou viajar em breve).
O ChatGPT não acertou o hotel que estou pesquisando (o Nayara Tented Camp), mas passou perto, sugerindo o Four Seasons Resort Costa Rica em Peninsula Papagayo, onde poderíamos curtir “uma série de comodidades e atividades para a família, incluindo um clube infantil, uma piscina familiar, e uma variedade de aventuras ao ar livre, como tirolesa e aulas de surf” (será que ele lembrou que eu tenho uma filha de 4 anos e um apreço pelo luxo?). A sugestão foi um palpite de sorte: acontece que Papagayo fica a dois fusos horários de distância de Nova York.
Terrível fracasso
Missão: Viagem para ficar na saúde mental com orçamento de US$ 750 por diária
Nota: 2/10
“Preciso tirar uma folga para cuidar da minha saúde mental”, confessei ao ChatGPT. “Você consegue encontrar uma viagem com yoga em um resort de luxo para maio?” A pergunta era um desejo – eu queria saber se passar um tempo longe da minha família (e do trabalho) fosse remotamente possível.
Infelizmente, o ChatGPT fez toda a premissa parecer ainda mais esquisita quando recomendou que eu fosse para o remoto spa Ananda no Himalaia ou para alguns lugares chiques em Bali – uma vibe meio Comer, Rezar, Amar, eu pensei. Reescrevi a pergunta: “alguma sugestão que fique na Europa ou no Caribe?” O chatbot disse que sim, claro, e me ofereceu resorts no Sri Lanka e na Tailândia.
Comecei de novo. “Preciso tirar uma folga para cuidar da minha saúde mental”, enfatizei. “Para onde devo viajar?” Dessa vez, recebi um conjunto melhor de sugestões, mas eram todos destinos, não resorts específicos. Mas eu queria recomendações de hotéis, e o chatbot me ofereceu os clássicos: Ranch Malibu, SHA Wellness Clinic, Kamalaya Koh Samui.
Então continuei: “meu orçamento é de US$ 750 a diária, algum desses resorts tem esse preço?”
O que a ferramenta me disse foi cômico. “Sim, há algumas opções que funcionam com seu orçamento de US$ 750 a diária”, disse o bot. “Confira alguns exemplos”.
O Ranch Malibu normalmente custa US$ 1.050 a noite, disse o ChatGPT, mas um pacote mais barato poderia levar o preço a US$ 1.114. O SHA Wellness Clinic custa US$ 826 por noite. E no Como Shambhala, em Bali, as suítes do terraço começam a US$ 815 a diária. “Isso significa que você poderia ficar em uma suíte do terraço por menos de US$ 750 por noite”, explicou a ferramenta. Eu não acho que ela estava sendo sarcástica.
Aceitável
Missão: Viagem para a Europa para locais sem multidões
Nota: 5/10
Essa é uma viagem que todos pedem: “como viajar para a Europa em agosto [na alta temporada de verão] sem enfrentar multidões?” Repassei a pergunta ao ChatGPT. As respostas foram, em geral, sensatas: Escandinávia, Portugal e Turquia estavam na lista. Decidi focar neste último.
“Istambul não fica lotada em agosto?” perguntei. “Como é o clima?” O chatbot respondeu às minhas perguntas com informações padrão que eu poderia encontrar nas primeiras páginas de um guia de viagem. O mesmo aconteceu quando perguntei sobre experiências culturais: recebi respostas básicas, como ir a um hammam ou fazer uma aula de culinária, sem recomendações específicas.
Mas quando perguntei sobre destinos a visitar na Turquia além de Istambul, o ChatGPT foi criativo. É claro que recebi respostas óbvias como Capadócia e Bodrum, mas também sugestões como Antalya e Trabzon, uma cidade pequena e pitoresca no Mar Negro de que eu nunca tinha ouvido falar e que não consegui encontrar em nenhuma revista de viagens.
As conclusões
Eu provavelmente vou para Trabzon ou a recomendarei a outras pessoas? Não sei dizer, preciso saber mais. E o ChatGPT também.
Embora a ferramenta tenha recomendado alguns mercados nos quais eu poderia teoricamente comprar artesanato e comida típica, bem como alguns dos hotéis de luxo da cidade, isso nunca me faria sentir confiante ao planejar uma viagem para um lugar desconhecido do outro lado do mundo.
Considerando sua incapacidade de fazer contas básicas, a IA não passa confiança suficiente para que eu adote recomendações de alto risco.
Isso me leva a um ponto que não acredito que vai mudar logo. Quando se trata de viagens, não faz sentido confiar em nada automatizado ou genérico. O que estamos procurando é felicidade, certo? Isso significa algo diferente para cada um de nós.
No entanto, como uma ferramenta de planejamento preliminar, conversar com o chatbot foi mais satisfatório do que pesquisar no Google e clicar em infinitas galerias de imagens dos melhores hotéis.
Quando funciona, a aleatoriedade do ChatGPT fomenta uma sensação de descoberta – que é o mais legal quando estamos planejando uma viagem. E quando não dá certo, pelo menos é engraçado. Pelo jeito, será necessário usar o Google pra descobrir o que dá certo ou não.
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