Inter quer ampliar peso de PJ em busca de maior rentabilidade, diz CEO

João Vitor Menin diz à Bloomberg Línea que foco em empresas e ‘pejotinhas’ vai contribuir também com diluição de custos; área responde hoje por 25% das receitas

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São Paulo — O banco Inter (INTR), listado na Nasdaq e um dos maiores do país com atuação digital, quer reduzir o CAC (custo de aquisição de cliente) e elevar rentabilidade com maior foco em serviços para correntistas PJ (pessoa jurídica), principalmente pequenas e médias empresas, além de microempreededores individuais (MEI), conhecidos como “pejotinhas”.

O segmento PJ, que hoje responde por 25% da receita do Inter, deve ganhar maior relevância na composição do faturamento com uma plataforma mais completa de serviços financeiros e não financeiros, segundo o CEO João Vitor Menin, em entrevista à Bloomberg Línea.

“2023 está sendo o ano de consolidação do nosso posicionamento como também um banco de PJ. Não é uma mudança de estratégia mas um fortalecimento da plataforma Inter tanto para PF [pessoa física] como para PJ”, afirma Menin, que descartou aquisições para crescer no segmento PJ.

O banco encerrou o ano de 2022 com 24,7 milhões de clientes e crescimento anual acima de 50% na base.

O Inter projeta um aumento de 25% em sua carteira de crédito em 2023. O CEO disse que esse crescimento deve ser impulsionado pela receita advinda do segmento PJ, que oferece uma “conta mais suculenta”, de maiores volumes transacionados, na comparação com o grupo de PFs.

O grupo dos “pejotinhas” (correntista registrado com CNPJ, cadastro nacional de pessoa jurídica, mas que trabalha sozinho) também é um dos mais visados pelo Inter devido à possibilidade de menor CAC. Nessa categoria também estão influenciadores digitais, que monetizam seus conteúdos na internet e recebem recursos por meio de transferências internacionais.

“Se o nosso cliente PF consegue abrir uma conta para a empresa dele, para a padaria, para o salão de cabeleireiro, para a academia de ginástica dele, não temos mais aquele CAC, ou seja, diluímos nosso custo de aquisição de cliente e melhoramos nossa rentabilidade”, disse Menin.

O reforço da plataforma PJ ainda está em andamento. A funcionalidade de permitir transferências internas de recursos nos Estados Unidos, por exemplo, ainda não foi implementada. “Não temos 100% das funcionalidades para PJ no app ainda, estamos em 95%”, estimou o executivo.

Maquininhas

O mercado de adquirência também integra a estratégia do Inter para a plataforma de PJ. O plano inclui um rebranding da Granito, joint venture com o banco BMG adquirida há um ano e meio. “Vamos fazer mudança de branding para que tenha identidade e converse com nossas marcas”, afirmou Menin.

Ele acrescentou que o app já possui o botão de opção de solicitar maquininhas. O CEO apontou operações de saques, transferências e pix (sistema de pagamentos instantâneos) como a “espinha dorsal” da plataforma, mas o tipo de serviço mais procurado depende do perfil e do tamanho do PJ.

“Comerciantes usam mais a adquirência, enquanto autônomos fazem mais operação de câmbio. Empresas maiores utilizam mais a plataforma de cobrança. Fazemos também investimentos, antecipação de recebíveis, BNDES FGI [Fundo Garantidor de Investimentos], seguros, consórcios e há o nosso shopping, em que o PJ pode comprar uma poltrona ou um computador para sua empresas”, disse.

Inadimplência

A atenção maior do Inter no segmento PJ ocorre em um contexto desafiador de aumento da inadimplência no setor bancário. Analistas já alertaram para piora desses indicadores, indicando uma “uma deterioração sequencial da inadimplência” do banco digital em 2022.

“O sinal amarelo aceso pela inadimplência observada nos trimestres mais recentes, em especial na linha de cartões, permanece, e inclusive se agravou no quarto trimestre (4,4% ante 4,0% no terceiro). Por causa disso, vimos a manutenção de uma postura mais conservadora na concessão de crédito”, avaliou Rafael Reis, analista do BB Investimentos, em relatório sobre o último resultado do Inter.

O CEO reconheceu que a piora do NPL (Non Perfoming Loan, empréstimos bancários não pagos pelos clientes) é uma “grande preocupação” tanto nos segmentos de pessoas físicas como jurídicas, mas diz que o banco segue um conservadorismo na concessão de crédito e tem ajustado seus modelos.

“A maioria dos nossos produtos é de crédito colateralizado [que tem garantia]. Conseguimos aumentar os limites dos cartões de PJs com nível bom de segurança. Adotamos um modelo híbrido, concedemos um produto não colateralizado se o cliente contratar um produto colateralizado ou fizer uma aplicação de CDB. Temos boas ferramentas para dar crédito sem machucar o NLP”, afirmou.

Plano de 5 anos

No fim de 2022, a instituição informou que sua carteira de crédito alcançou R$ 25 bilhões, aumento de 40% em relação ao ano anterior. O Inter reportou uma base de 25 milhões de clientes e um ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) de 1,6%. Em janeiro, no Investor Day, o Inter apresentou um plano de 5 anos que inclui atingir 60 milhões de clientes e ROE de 30%.

“Se por um lado tais números parecem distantes, por outro a indicação destas metas demonstrou uma preocupação do Inter em endereçar a principal inquietação de curto prazo dos investidores, que é a rentabilidade. O management também vem sinalizando um maior foco na alavancagem operacional, permitida através de uma estrutura física, humana e tecnológica em grande parte já estabelecida”, avaliou o BB Investimentos em relatório.

O analista do BB manteve a recomendação neutra para os papéis do Inter, mas cortou o preço-alvo de R$ 42 para R$ 13,50 para o final de 2023. O BDR (recibo) do Inter (INBR32) acumula uma desvalorização de 21% neste ano, até a última quarta-feira (6).

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