Bloomberg — A fundadora da startup Frank, Charlie Javice, foi libertada nesta semana sob uma fiança de US$ 2 milhões no processo em que é acusada de ter enganado o JPMorgan Chase (JPM) para adquirir por US$ 175 milhões o seu site de planejamento financeiro da faculdade, ao inflar enormemente o número de seus usuários.
Javice, 31 anos, esteve “envolvida em um esquema descarado para fraudar” o JPMorgan, disse o procurador dos Estados Unidos, Damian Williams, em um comunicado na terça-feira. “Ela mentiu diretamente para o JPMC e forjou dados para apoiar essas mentiras – tudo para ganhar mais de US$ 45 milhões com a venda de sua empresa.”
As acusações criminais incluem conspiração, fraude eletrônica afetando uma instituição financeira e fraude bancária, cada uma das quais acarreta uma pena máxima de 30 anos de prisão se Javice for condenada. Ela também foi acusada de fraude de valores mobiliários, que tem uma pena máxima de 20 anos.
Javice, que tem dupla nacionalidade, da França e dos Estados Unidos, mora em Miami. Ela foi presa na noite de segunda-feira (3) no Aeroporto Internacional Newark Liberty e compareceu ao tribunal federal de Manhattan na terça-feira (4).
Sob um acordo com os promotores, Javice entregou seus passaportes dos EUA e da França e suas viagens agora são limitadas à cidade de Nova York e ao sul da Flórida.
Sua fiança de US$ 2 milhões será garantida por duas pessoas e pelo patrimônio de sua casa em Miami. Ela terá que observar um toque de recolher e não tem permissão para contato com testemunhas ou com funcionários atuais do JPMorgan ou ex-profissionais da Frank.
Alex Spiro, advogado de Javice, se recusou a comentar, assim como um porta-voz do JPMorgan.
Mais cedo na terça-feira, Javice foi processada por fraude pela Securities and Exchange Commission, o equivalente da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos.
Forbes ‘30 under 30′
Javice fundou a Frank em 2017 como uma plataforma online para ajudar os estudantes universitários a preencher o Formulário Gratuito de Auxílio Estudantil Federal, ou Fafsa. Foi considerada tão promissora que a Forbes a nomeou para sua lista “30 Under 30″ para finanças em 2019.
Em 2021 ela começou a procurar um comprador para o site, iniciando o processo de aquisição com o JPMorgan e um banco que não é citado na denúncia criminal aberta na terça-feira. Ela disse aos dois bancos que a Frank tinha 4,25 milhões de clientes que abriram contas, de acordo com o governo. Na realidade, afirmam os Estados Unidos, Frank tinha menos de 300.000.
Os promotores afirmam que, durante as discussões com o JPMorgan, Javice pediu ao diretor de engenharia da Frank que pegasse o conjunto de dados reais do cliente da empresa e o usasse para criar um conjunto sintético maior. O engenheiro de computação, que não foi identificado, manifestou preocupação, dizendo: “Não quero fazer nada ilegal”, segundo a denúncia.
Javice e um co-conspirador não identificado disseram que o pedido era legal.
‘Macacões laranja’
“Não queremos acabar vestindo macacões laranja”, ela disse a ele, de acordo com a denúncia, em referência ao uniforme obrigatório em penitenciárias americanas. O engenheiro, que atualmente é funcionário do JPMorgan como resultado da aquisição, recusou.
Javice então contratou um cientista de dados externo para criar o conjunto falso, alegando falsamente que o banco de dados completo dos usuários da Frank era na verdade uma amostra aleatória menor de um banco de dados muito maior, segundo a acusação dos EUA. Ela supostamente usou os novos dados para apoiar sua afirmação de que o site tinha mais de 4 milhões de usuários em discussões com o JPMorgan.
O JPMorgan, o maior banco do país, está em uma onda de compras desde que o CEO Jamie Dimon disse em 2020 que queria adquirir mais empresas de tecnologia financeira focadas em investimentos sustentáveis e questões tributárias.
O JPMorgan, que adquiriu o Frank em 2021, processou Javice e outro executivo, Olivier Amar, no tribunal federal de Delaware em dezembro passado, alegando que eles usaram contas falsas de clientes para levar o banco a concluir o negócio, exagerando o número de pessoas que usam seu site.
Para encobrir as mentiras sobre os clientes de Frank, Javice comprou conjuntos de dados de 4,5 milhões de estudantes universitários no mercado aberto, de acordo com o processo.
Amar não foi citado como réu em nenhuma das queixas de terça-feira. Anteriormente, ele disse em uma tentativa de rejeitar o processo do JPMorgan que não fazia parte do acordo de fusão e não compareceu a mais de uma reunião com o banco antes do acordo.
Javice: culpa foi do JPMorgan
Javice, que processou o JPMorgan no tribunal estadual de Delaware para forçá-lo a cobrir seus honorários advocatícios, argumenta que o banco se apressou para comprar Frank sem fazer a devida diligência e também estava tentando desviar a atenção de suas violações das leis de privacidade dos alunos.
Javice disse em uma resposta ao processo do JPMorgan que Dimon pressionou para adquirir a Frank por medo de que outro banco estivesse olhando para a empresa; que ela estava sendo usada como “bode expiatório” pela área de due dilligence do banco; e que foi o JPMorgan que pediu a ela para apresentar informações sintéticas dos dados sobre os usuários da Frank.
Javice e JPMorgan concordaram com a venda em agosto de 2021, que foi fechada no mês seguinte. O acordo previa que Javice recebesse cerca de US$ 21 milhões com a fusão e continuasse trabalhando na Frank para o banco, com um bônus de retenção de US$ 20 milhões a ser pago ao longo do ano.
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