Com juro alto, fundos iniciam 2023 com resgates líquidos pela 1ª vez em 5 anos

Saídas líquidas totalizaram R$ 82,1 bilhões no primeiro trimestre e foram lideradas por fundos multimercados e de ações, segundo dados da Anbima

Aversão ao risco e juros elevados levam a maiores resgates de fundos
06 de Abril, 2023 | 03:57 PM

Bloomberg Línea — A indústria de fundos de investimento somou resgates líquidos de R$ 82,1 bilhões no primeiro trimestre deste ano, na primeira vez em cinco anos que registrou mais resgates do que aportes.

O montante representa uma reversão de tendência em relação aos aportes líquidos de R$ 42,6 bilhões apurados no mesmo período de 2022, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (6) pela Anbima, a associação que representa as entidades do setor.

O sentimento de maior aversão ao risco global somado a um cenário de incerteza, inflação e juros elevados tem levado investidores a optarem por produtos mais conservadores e de alta liquidez, o que, por sua vez, implica resgates que vão desde fundos de renda fixa aos de ações, previdência e fundos de índice (ETFs).

“A aversão ao risco e a taxa de juros mais alta está fazendo com que outros instrumentos disponíveis se tornem mais atrativos do que fundos. É o caso de instrumentos isentos de Imposto de Renda (IR), como CRIs, CRAs e LIGs”, disse Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima, nesta quinta.

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“Com uma taxa de juros de quase 14%, não pagar IR é um diferencial bastante relevante e faz com que as pessoas acabem redistribuindo seus investimentos, tirando o dinheiro de fundos de renda fixa para comprar títulos isentos diretamente, por exemplo.”

Multimercados lideram saídas

Nos primeiros três meses do ano, os fundos multimercados lideraram as saídas, com captação líquida negativa de R$ 37,4 bilhões. No mesmo período do ano passado, o movimento já havia sido negativo em R$ 41 bilhões.

Na sequência, os fundos de ações – que também sofrem com a aversão ao risco – tiveram resgates de R$ 23,9 bilhões, abaixo dos R$ 30,7 bilhões entre janeiro e março de 2022.

Na comparação anual, contudo, a maior queda foi a dos fundos de renda fixa, cuja captação líquida passou de R$ 108,4 bilhões no primeiro trimestre de 2022 (em um movimento concentrado em fundos soberanos), para resgate líquido de R$ 12,2 bilhões nos primeiros três meses deste ano.

Nesse caso, a Anbima destacou que foi um movimento concentrado de resgate de R$ 19 bilhões em um único fundo de renda fixa do tipo duração baixa grau de investimento.

Apesar do desempenho negativo da indústria brasileira de fundos, o vice-presidente da Anbima destacou que não é só essa indústria no Brasil que tem sido prejudicado pela saída de recursos.

Ele citou os mercados de Luxemburgo e dos Estados Unidos, por exemplo, que têm tamanhos da ordem de US$ 30 trilhões e de US$ 5 trilhões, respectivamente, e que também foram impactados pela aversão ao risco que tem afastado investidores de fundos.

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FIIs são destaque

Apesar dos resgates no período, a Anbima chamou a atenção para os números relacionados aos fundos imobiliários, classe cujo número de contas passou de 6.714.368, em março de 2022, para 9.730.253 em março deste ano – um crescimento de 45%.

“O aumento de quase 3 milhões de novas contas acontece em meio ao lançamento de novos FIIs, o que faz com que a quantidade e a pulverização de cotistas seja grande”, disse Rudge. A ressalva é que o número de investidores não corresponde necessariamente ao total de CPFs, dado que um investidor pode ter mais de uma conta.

A avaliação é compartilhada por Giuliano De Marchi, diretor da Anbima. “As primeiras impressões são as de um trimestre ruim, do ponto de vista da captação. Mas a indústria continua crescendo mesmo com a captação negativa, seja em número de fundos, gestores e contas.”

Entre janeiro e março deste ano, o patrimônio líquido total da indústria cresceu 4,2% ano sobre ano, para R$ 7,5 trilhões em março de 2023.

Juros como fator determinante

Para De Marchi, daqui para frente a taxa de juros e o cenário internacional serão os principais pontos que vão ditar o fluxo dos investimentos no mercado local.

Por ora, contudo, a demanda por fundos de renda fixa mais conservadores e instrumentos ligados ao CDI deverá prevalecer. “Ativos de maior risco acabam sofrendo mais nesse contexto, até termos mais claridade da situação fiscal e econômica.”

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.