Bancos vs. techs: trimestre afeta estratégias vencedoras do último ano

Gestores cautelosos que colheram retornos mais altos em 2022 são pegos de surpresa com rali do começo do ano e quebra de bancos nos EUA

Ganhos de ações, principalmente de tecnologia, pegaram de surpresa muitos gestores neste começo de 2023 (Bloomberg)
Por Lu Wang
06 de Abril, 2023 | 10:54 AM

Bloomberg — Profissionais especializados na escolha de ações que se beneficiaram da volatilidade no ano passado estavam posicionados para a mesma tendência em 2023. O resultado foi totalmente diferente e eles estão pagando por isso em seus retornos.

Apenas um em cada três fundos mútuos com gestão ativa ficou à frente dos índices acionários de referência no primeiro trimestre, o pior desempenho desde o final de 2020, mostram dados compilados pelo Bank of America (BAC). O dado contrasta com uma taxa de acerto de 47% em 2022, a melhor em cinco anos.

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A maioria dos fundos ativos sentiu o impacto quando sua preferência pelo setor bancário pagou o preço após o colapso de três bancos regionais, começando pelo SVB, e o conjunto de ações vencedoras encolheu em meio a um mercado cada vez mais concentrado em termos de capitalização. Para piorar, o posicionamento cauteloso se mostrou inoportuno com um avanço surpreendente das bolsas.

“A percepção era baixista no início do ano, deixando fundos ativos potencialmente pegos de surpresa pelo rali do mercado”, escreveram em nota estrategistas do BofA, entre eles Savita Subramanian.

O posicionamento em dinheiro se tornou uma das ferramentas de hedge favoritas de Wall Street após o bear market de 2022. Na pesquisa mais recente do Bank of America com gestores de recursos, os níveis de dinheiro seguiam acima de 5% por 15 meses consecutivos, o período mais longo desde 2002.

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Embora o rendimento de 5% ao ano com posições em dinheiro não seja trivial, ficou aquém do ganho de 7% no primeiro trimestre do S&P 500.

Até mesmo os mais bem-sucedidos corretores ficam atrás do mercado de vez em quando, e toda a cautela pode acabar sendo profética, dado o cenário sombrio para os ativos de risco, com o aperto monetário, o corte das previsões de lucro e os valuations elevados de ações.

No entanto o péssimo começo para a gestão ativa contrasta com o ano passado, quando gestores de ações conseguiram brilhar durante a onda vendedora do mercado. Qualquer desempenho inferior enfraqueceria sua posição em uma batalha difícil contra a expansão do investimento passivo.

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Além disso, apostas equivocadas não ajudaram. No início do trimestre, fundos de grande capitalização favoreceram ações do setor financeiro mais do que qualquer outro grande grupo, exceto o segmento industrial, de acordo com dados do Goldman Sachs (GS). O segmento de tecnologia, por outro lado, teve menos demanda.

Tecnologia vs. bancos

No fim, o desempenho real do setor foi quase exatamente o oposto. Ações do setor financeiro foram classificadas no piso dos 11 setores do S&P 500, com perdas de 6%, pois as quebras de bancos aumentaram a preocupação com a saúde da indústria. Enquanto isso, investidores buscaram segurança em empresas com mais capital, o que levou a um ganho de 21% em tecnologia.

Como resultado, uma cesta do Goldman com as ações favoritas dos fundos mútuos ficou 7,5 pontos percentuais abaixo dos papéis de menor preferência durante o primeiro trimestre.

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A lista de ações líderes de mercado que gestores de recursos podem escolher tem encolhido. Neste ano, apenas 33% dos componentes do índice Russell 3000 tiveram melhor desempenho em comparação com 47% em 2022. E muitos dos grandes vencedores estão concentrados em um setor: tecnologia.

“Os fundos mútuos tiveram um desempenho significativamente inferior recentemente devido ao excesso de peso em finanças e à alocação underweight em tecnologia de megacapitalização”, escreveram estrategistas do Goldman, incluindo David Kostin, em nota no final de março.

Para destacar o desafio enfrentado por gestores de renda variável, considere essas estatísticas: enquanto o Russell 3000 subiu 6,7% no primeiro trimestre, o Nasdaq 100, com forte peso em tecnologia, avançou 20%. Esse é o spread mais amplo a favor do Nasdaq desde 2001.

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