Haddad: governo mapeia R$ 300 bilhões em receitas sem elevar a carga tributária

Em entrevista à Bloomberg News, ministro afirma que medidas podem ajudar a sustentar o novo arcabouço fiscal para elevar arrecadação, mas poderiam ser adotadas gradualmente

'Vamos fazer a reforma tributária e depois calibrar no final do ano as medidas'
Por Martha Beck
05 de Abril, 2023 | 12:21 PM

Bloomberg — A equipe econômica já mapeou R$ 300 bilhões em medidas de aumento de receita que poderão ajudar a sustentar seu novo plano para fortalecer as contas públicas, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista à Bloomberg News na terça-feira (4).

Nem todas as medidas serão implantadas imediatamente e algumas podem nem ser necessárias, disse ele na entrevista. O ritmo de implementação também é crucial: Haddad não quer que a receita do governo cresça muito rápido porque, pela nova proposta fiscal, os gastos públicos também cresceriam mais rapidamente, sem possibilidade de cortes futuros.

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“Nós estamos com um cronograma muito bem definido, cada coisa a seu tempo”, disse Haddad, em uma entrevista em seu gabinete em Brasília. “Vamos fazer a reforma tributária e depois calibrar no final do ano as medidas.”

O novo arcabouço fiscal estabelece um teto e um piso para a expansão dos gastos públicos, limitando-a a 70% do crescimento da receita, ou 50% quando o governo não cumprir suas metas de superávit primário. O gasto, porém, sempre crescerá entre 0,6% a 2,5% ao ano, mesmo que a economia encolha.

O plano também projeta que o governo alcançará superávits primários pequenos, mas crescentes, a fim de estabilizar a dívida pública. A meta é atingir um superávit fiscal de 0,25% a 0,75% do PIB em 2025 e de 0,75% a 1,25% do PIB em 2026. Para 2024, a meta é eliminar o déficit, que não leva em conta o pagamento de juros da dívida. Mas o intervalo de tolerância ainda permitiria um déficit de 0,25% do PIB.

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Haddad disse que pretende usar três medidas num primeiro momento: tributar compras de pequeno valor feitas no exterior por comércio eletrônico e apostas eletrônicas, além de fechar uma brecha relacionada a créditos de ICMS que diminuem o imposto a pagar de empresas. A previsão é que o combo de medidas aumente a receita do governo em mais de R$ 100 bilhões, disse Haddad.

Se necessário, o governo também poderia tributar fundos exclusivos e dividendos. Mas primeiro, a equipe econômica quer focar na reforma tributária.

Pelo novo plano fiscal, a dívida bruta do Brasil chegaria a 75,07% do PIB até o final de 2023, ante o patamar atual de 72,96%. O número chegaria a 75,70% em 2024, antes de cair para 75,05% em 2026.

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A proposta é crucial para os esforços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conquistar investidores que se preocupam com a saúde das finanças públicas desde que o petista obteve autorização do Congresso para aumentar os gastos públicos após sua apertada vitória eleitoral em outubro.

As preocupações com o aumento da dívida ajudaram a alimentar as expectativas de inflação, que por sua vez levaram o Banco Central a manter a taxa Selic estacionada em 13,75%, no maior nível em seis anos.

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