Bloomberg — O fim turbulento da era do dinheiro fácil esfriou as expectativas de um ano de expansão para ativos de mercados emergentes, depois de um começo de 2023 com otimismo. Investidores esperavam que se tornassem uma história de resiliência e oportunidades neste ano. No entanto essa visão foi trazida de volta à realidade depois de um primeiro trimestre volátil. As esperanças de retornos razoáveis só devem se concretizar se os fundamentos, e não o risco de contágio, impulsionarem os fluxos.
Um rali na virada do ano, com base nas expectativas de que o Federal Reserve (Fed) seria menos agressivo e que o crescimento da China impulsionaria a demanda por commodities, logo se tornou tênue à medida que a turbulência bancária global abalou a confiança dos investidores.
Esse nervosismo fez com que as ações de países em desenvolvimento reduzissem um ganho inicial, encerrando o trimestre com alta de apenas 3,5% — cerca da metade do retorno dos índices dos mercados desenvolvidos. A dívida em dólar de emergentes aumentou 2,2%, menos do que outros segmentos globais de renda fixa.
Mas mesmo ganhos modestos destacam um grau de resiliência após um 2022 sombrio, segundo Steven Quattry, gestor de recursos do Morgan Stanley Investment Management.
“Se eu dissesse há mais de um ano que a taxa do Fed estaria perto de 5%, o dólar fortalecido e os mercados emergentes ainda aguentando, você poderia se surpreender”, disse Quattry, em entrevista de Nova York.
Em janeiro, o Morgan Stanley (MS), um dos gigantes de Wall Street, destacou o que apontou como o início de uma década de desempenho mais forte de mercados emergentes, com o deslocamento de fundos de ações nos EUA para a compra de ativos mais arriscados com valuations atraentes.
No ano passado, a dívida em dólar de mercados emergentes trouxe perdas de 15%, enquanto os índices acionários caíram 22%, o pior resultado desde 2008. A retomada de 2023 deveria estar a caminho, mas foi interrompida por tremores no sistema financeiro global.
Prêmios ainda atraentes
Apesar desse soluço e de possíveis novas ondas de instabilidade à medida que o mundo se acostuma ao cenário de juros mais altos, os fundamentos dos mercados emergentes permanecem atraentes com uma perspectiva de crescimento superior, estimativas de desaceleração da inflação e reabertura da China com o fim das restrições da covid-19.
“Ainda há prêmios atraentes – mas se isso significa que os emergentes superarão os mercados de renda fixa de mercados desenvolvidos, é muito difícil dizer”, disse Liam Spillane, chefe de dívida de mercados emergentes da Aviva Investors Global Services. “Mas realmente acreditamos que os fundamentos dos mercados emergentes parecem relativamente fortes em comparação aos dos desenvolvidos.”
Um total líquido de US$ 40,9 bilhões fluiu para fundos globais de ações de mercados emergentes até 29 de março, o maior volume em um ano, sendo que fundos chineses responderam por quase 25% desse volume, de acordo com dados da EPFR Global.
Fundos de renda fixa, por sua vez, registraram retiradas líquidas de US$ 1,6 bilhão no período, após resgates de US$ 13 bilhões nos últimos três meses de 2022.
Questões de qualidade
A dívida de alto rendimento - high yield - de mercados emergentes foi atingida pela fuga para ativos de qualidade nos mercados globais, após episódios como a quebra do SVB e a venda do Credit Suisse. O rendimento extra que investidores exigem para ficar com títulos soberanos de grau especulativo na carteira em relação aos Treasuries aumentou 62 pontos-base no trimestre, em comparação com uma alta de 19 pontos-base para títulos com grau de investimento, segundo dados do JPMorgan Chase (JPM).
Wall Street está dividida. Spillane, da Aviva, disse que dívidas de maior qualidade no universo de grau de investimento ajudarão a gerar retornos totais, enquanto Jean-Charles Sambor, chefe de renda fixa em mercados emergentes do BNP Paribas Asset Management, aposta em nomes de alto rendimento e de fronteira.
Isso elevou a diferença entre os dois — “um spread de spreads” — para 732 pontos-base, ou mais que o dobro da média dos últimos 20 anos. Isso gera dúvidas sobre se os chamados junk bonds, ou títulos de alto risco, estão relativamente sobrevendidos e prestes a mostrar melhor desempenho.
“Toda vez que houve um deslocamento tão grande de high yield em relação ao grau de investimento, isso sempre se normalizou. Desta vez, não deve ser exceção”, disse Sambor. “Já tivemos enormes saídas no ano passado, é difícil ter mais resgates” quando investidores estão com posicionamento muito underweight [abaixo da média] e os valuations são muito mais atraentes em mercados emergentes.”
- Com a colaboração de Srinivasan Sivabalan e Kenneth Hughes.
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