Bloomberg — Manan Gosalia, do Morgan Stanley (MS), viu os riscos crescendo com relação ao Silicon Valley Bank à medida que as startups de tecnologia gastavam dinheiro.
Assim, no início de dezembro, ele emitiu um alerta: era hora de cortar a exposição às ações do SVB Financial Group, controladora do banco. O call fez dele uma voz pessimista solitária entre os analistas de Wall Street.
Poucos dias antes de um pânico levar o Silicon Valley Bank (SVB) a um colapso, os analistas estavam amplamente otimistas sobre a empresa. Segundo dados compilados pela Bloomberg, das 24 casas que tinham cobertura para as ações do banco, metade ainda tinha recomendação de compra.
Uma delas previa que o preço das ações quase dobraria para US$ 500 em um ano. Mesmo alguns que viram as cenas que mais tarde afundariam o banco mantiveram suas classificações de espera – uma postura neutra, equivalente a ficar de fora.
Em suma, assim como reguladores e investidores, os analistas foram pegos de surpresa por uma corrida bancária na era do Twitter que abalou os mercados globais, destacando uma questão complexa com a qual Wall Street lutou por décadas: a análise quase infalivelmente otimista produzida por muitas de suas áreas de research.
No entanto, até Gosalia ficou surpreso com a rapidez com que o Silicon Valley Bank se tornou a maior quebra bancária desde 2008. “Ninguém esperava o ritmo em que isso aconteceu”, disse.
Olhando para trás, porém, os sinais de alerta parecem claros. Uma base de depósitos concentrada em uma indústria agora em baixa, taxas de juros crescentes e participações maciças em títulos atingidos pelas piores perdas em décadas. Bastou uma faísca para abalar a fé de seus clientes.
Ainda assim, esses riscos não foram suficientes para levar os analistas de Wall Street a recomendarem a venda das ações, que viam uma franquia lucrativa no status do Silicon Valley Bank como o credor preferido do setor de tecnologia.
O preço de suas ações mais que dobrou nos dois anos até 2021, acompanhando uma recuperação nas ações de crescimento enquanto o Federal Reserve inundava os mercados com dinheiro.
Em julho, quando as ações caíram com resultados decepcionantes, Michael Diana, analista do Maxim Group, disse aos investidores para comprar na queda. “Essa é a chance de comprar o banco mais exclusivo/melhor posicionado para 2023 e a longo prazo”, escreveu ele em nota aos clientes.
Diana continuou sendo o maior touro de Wall Street, com um preço-alvo de US$ 500 para a ação pouco antes do fim do banco. Ele não baixou sua classificação de compra até que o Silicon Valley Bank foi adquirido pelo Federal Deposit Insurance Corp. em 10 de março. Diana se recusou a comentar.
Chris Kotowski, da Oppenheimer, disse que gostaria de ter cortado a recomendação de SVB para venda, em vez de tê-la mantido neutro. Em uma nota de janeiro aos clientes, ele disse que os títulos do banco seriam “como uma âncora de pedra”.
Mas, como quase 12 outras casas, ele manteve uma classificação de espera para as ações, parando de aconselhar os investidores a sair dos papéis. Ele disse que o desastre foi uma lição sobre o risco de investir em bancos cujos destinos estão muito ligados a uma base estreita de clientes.
“Existem todas essas empresas financiadas por capital de risco que têm US$ 5, US$ 10, US$ 20, US$ 25, às vezes centenas de milhões de dólares estacionados neste pequeno banco”, disse ele. “E você pode movimentar dinheiro com um clique no mouse agora. Então, em retrospecto, eu deveria ter visto isso vindo mais facilmente.”
No início de outubro, Gosalia, do Morgan Stanley, rebaixou as ações do SVB para posição neutra, o equivalente a manutenção, antecipando que a desaceleração no financiamento de capital de risco persistiria.
Na época, ele disse que o banco tinha liquidez suficiente para cobrir as saídas de depósitos e que o financiamento de empresas de venture capital tinha potencial para “acelerar significativamente” quando as perspectivas econômicas mudassem.
No final daquele mês, as ações caíram ainda mais depois que o SVB reduziu sua previsão de receita líquida de juros - uma métrica importante - enquanto assegurava que seus negócios subjacentes eram fortes.
Gosalia tinha dúvidas. No início de dezembro, ele e seus colegas disseram que esperavam que o SVB continuasse sob pressão à medida que as empresas de capital de risco consumiam fundos.
Essas preocupações levaram Gosalia a rebaixar o SVB para “underweight” (abaixo da média do mercado), equivalente a venda (aposta na queda).
Mas ele também viu problemas mais amplos no setor devido ao aumento dos custos de financiamento: ele cortou o Signature Bank para neutro e as ações do Silvergate Capital e do First Republic Bank para “underweight”.
Embora as ações do SVB tenham subido no início deste ano, com o guidance da empresa apoiando uma perspectiva mais otimista, Gosalia se manteve firme.
A classificação, disse ele por e-mail, foi baseada na antecipação de que “a pressão contínua sobre a implantação de VC e a queima de caixa pesariam na receita líquida de juros do banco e que a dor ainda não havia acabado”.
Relembre a crise bancária
O colapso começou na noite de 8 de março, quando o SVB disse que planejava levantar mais de US$ 2 bilhões em capital adicional depois de se desfazer de seus títulos com prejuízo. Isso se transformou em uma bola de neve em um colapso em horas.
Em 10 de março, o banco foi adquirido pelo FDIC e, desde então, o First Citizens Bank concordou em comprar o Silicon Valley Bank. O SVB foi retirado da bolsa de valores Nasdaq com um último preço de fechamento de US$ 106. Quando começou a ser negociado no mercado de balcão no final de março, atingiu apenas 1 centavo de dólar.
Os temores que desfizeram o SVB passaram para outros credores, mesmo com as pressões diminuindo à medida que os reguladores dos EUA tomam medidas para restaurar a fé no setor.
Mas Gosalia está atento ao que disse ser uma lição das últimas semanas: “As coisas podem mudar rapidamente no mercado financeiro”.
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