EY recebe punição de 2 anos para auditar na Alemanha após fraude da Wirecard

Auditoria não poderá aceitar novos trabalhos e terá que pagar multa de 500 mil euros por não ter apontado falhas nas contas da empresa alemã que quebrou

Letreiro da EY em Berlim: empresa não poderá aceitar trabalhos de 'interesse público' por dois anos na maior economia da Europa (Jeremy Moeller/Getty Images)
Por Steven Arons - Nicholas Comfort
03 de Abril, 2023 | 09:04 AM

Bloomberg — A operação na Alemanha da EY foi proibida por dois anos de aceitar novos mandatos de auditoria importantes, depois de não ter descoberto a fraude na Wirecard.

A Ernst & Young alemã violou seu dever profissional ao auditar os relatórios anuais da empresa de pagamentos para 2016, 2017 e 2018, disse o órgão fiscalizador de auditoria da Alemanha, Apas, em comunicado nesta segunda-feira (3), que não mencionou o nome da EY.

Aplicou uma multa de € 500 mil (US$ 542.330) à EY e a proibiu de novos trabalhos de auditoria para empresas de “interesse público”, embora isentasse as renovações de contrato.

A punição acontece no momento em que autoridades regulatórias de diferentes países avaliam as responsabilidades de auditorias sobre casos de fraudes em empresas que são clientes. No Brasil, o caso mais notório é o da Americanas (AMER3), cujas contas foram aprovadas pela PwC sem que houvesse objeção ou apontamento dos riscos que levaram ao rombo contábil de R$ 20 bilhões.

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A PWC não se manifestou publicamente, mas, em sua defesa a ações que correm na Justiça e na esfera administrativa da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), negou que tenha responsabilidade no caso da Americanas, ainda que tenha auditado os números da empresa por quatro anos.

A decisão na Alemanha é a consequência regulatória mais dura para a EY no país desde o fim da Wirecard há quase três anos. Também houve repercussões comerciais, incluindo decisões do Commerzbank AG, do KfW e do DWS Group de afastar os negócios da empresa.

A Wirecard quebrou depois de reconhecer que € 1,9 bilhão que havia listado como dinheiro provavelmente não existia. Embora o colapso também tenha exposto graves deficiências de supervisores e bancos, as repetidas aprovações da EY aos relatórios anuais da empresa atraíram fortes críticas.

EY: ‘aprendemos lições com o caso’

“Lamentamos que a fraude conspiratória na Wirecard não tenha sido descoberta antes e aprendemos lições importantes com o caso”, disse um porta-voz da EY Alemanha em comunicado por e-mail.

“O importante é que a EY Alemanha é uma empresa diferente hoje”, diz o comunicado, apontando para mudanças na avaliação de risco de fraude da empresa e uma nova equipe de gestão.

A Apas também aplicou sanções a cinco funcionários de auditoria, dizendo que não poderia punir outros sete porque eles devolveram sua licença de auditoria, encerrando efetivamente a sua jurisdição sobre eles. A EY e os indivíduos podem apelar da decisão, disse o órgão regulador no comunicado.

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