Bloomberg Línea — Morar sozinho se tornou mais complexo financeiramente, o que tem feito muitos jovens optarem morar com os pais por mais tempo, segundo pesquisas. Um estudo da Pew Research Center Study, por exemplo, aponta um quarto dos adultos de 25 a 34 anos moravam com a família em 2021. Em comparação, em 1971, apenas 9% da mesma faixa etária estava nas mesmas condições. Outro estudo, da Harris Poll, indica que 54% dos jovens entre 18 e 25 anos nos Estados Unidos preferem morar com os pais por conta do ambiente econômico adverso atual.
Mesmo assim, apesar das preocupações financeiras, o sonho da casa própria (ou do aluguel) continua a existir entre millennials e zoomers (jovens da geração Z). E, para essas pessoas, algumas dicas podem ajudar na hora de arrumar as malas e sair da casa dos pais.
Myrian Lund, coordenadora de MBAs e professora convidada da Fundação Getúlio Vargas, explica que o primeiro passo é pensar no planejamento de vida.
“Antes de comprar um imóvel, é preciso se questionar: por que, para quê. É preciso se questionar para quê você está comprando o imóvel: para morar ou para investir? Assim, você possa escolher o que é mais adequado para o seu objetivo”, diz ela.
Depois de definir se a pessoa pretende morar em um novo bairro, cidade ou estado, o próximo passo é pesquisar sobre a região, caso você não a conheça. A ideia é saber um pouco sobre a vizinhança — aqui, segundo Lund, fica um conselho extra: vale a pena até alugar um imóvel para “experimentar” um pouco o local antes de realizar uma compra.
“Por exemplo, se você for se casar agora, vale a pena alugar para entender o tamanho do imóvel, quais são as necessidades, o que é preciso. Alugar primeiro é sempre uma estratégia melhor para entender o que você quer”, afirma. “Mesmo que você alugue, ainda vai ser um preço inferior à prestação, então você pode pegar essa diferença e ir juntando para comprar a prestação.”
O conselho, segundo a especialista, vale também para quem pensa em ter uma carreira internacional. Para jovens nessa situação, não faz muito sentido comprar um imóvel para morar, mas juntar dinheiro e pensar na vida futura.
“Antigamente as pessoas compravam uma casa e moravam lá a vida inteira. Elas se preocupavam em comprar um imóvel porque aquilo iria servir para a vida toda, mas hoje temos uma vida diferente, é preciso ter esse planejamento”, diz a especialista.
Na hora de comprar, segundo Lund, a escolha entre financiamento e consórcio também depende da organização pessoal.
No modelo de financiamento, a pessoa dá um sinal e já começa a morar no imóvel. Ela deixa de pagar o aluguel, e começa a pagar a prestação do financiamento. Mesmo se a taxa de juros estiver num patamar alto, como agora, é possível fazer a portabilidade para um financiamento com juros menores se a taxa cair. Além disso, é possível quitar prestações futuras ao longo do tempo.
A situação muda se a pessoa estiver com foco a longo prazo. Para quem não tem pressa de se mudar, de acordo com a especialista, vale a pena avaliar investir em um consórcio. Nesse caso, os integrantes de um grupo contribuem mensalmente para o mesmo fundo e a cada mês o valor das parcelas é usado para que um consorciado adquira um imóvel por meio de leilões ou sorteios.
“Tudo depende do seu objetivo de vida. O caro e o barato tem muito a ver com o seu momento de vida e com o planejamento que foi feito”, afirma.
Para a especialista, comprar um apartamento ou uma casa também é um bom investimento a longo prazo no Brasil, mesmo que, no futuro, a pessoa não vá residir no imóvel comprado.
“O imóvel fará parte do seu patrimônio, ele é uma reserva — é importante fazer uma reserva que ofereça qualidade de vida. A maioria das pessoas que compram imóvel estão melhor de vida, porque imóvel é um bem e as pessoas não sabem ainda administrar seu dinheiro, então um imóvel valoriza”, diz.
A compra de um imóvel é sintetizada da seguinte forma: pensar, pesquisar, (talvez) alugar e, então, comprar. Sem pressa, sem correr — e, é claro, com foco no planejamento financeiro.
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