Bloomberg Línea — A Marisa (AMAR3) anunciou na noite desta sexta-feira (31) novas medidas de seu plano de reestruturação para reduzir o endividamento e melhorar a estrutura de custos. A rede varejista de moda receberá um aporte de R$ 90 milhões dos acionistas controladores, a família Goldfarb, no seu braço financeiro, a MPagamentos, em transação já submetida ao Banco Central; e prevê o fechamento de cerca de 90 lojas que tenham “sistematicamente geração de caixa negativo” em sua rede com 334 unidades.
Caso necessário, os acionistas controladores poderão fazer um aporte adicional de R$ 26 milhões até agosto deste ano, segundo o comunicado.
O aporte será realizado em abril para reenquadrar a MPagamentos nos índices regulatórios e prudenciais exigidos de instituições financeiras. A decisão decorre da análise tomada pela nova gestão que tomou posse há pouco mais de um mês, liderada pelo CEO João Pinheiro Nogueira Batista.
O fechamento das estimadas 90 lojas terá um custo estimado de R$ 50 milhões, mas, por outro lado, a redução proporcional de SG&A (Despesas de Vendas, Gerais & Administrativas) deverá viabilizar uma geração extra de caixa da ordem de R$ 30 milhões ao ano, segundo cálculos da empresa.
A rede varejista informou ainda a contratação do Lefosse Advogados e da Deloitte Brasil para compor uma comissão externa para análise de alçadas e práticas contábeis, em decisão também tomada pela nova gestão e apoiada pelo conselho de administração.
No início de fevereiro, a Marisa anunciou ao mercado a saída do então CEO Adalberto Pereira Santos e a contratação da BR Partners para cuidar da reestruturação das dívidas, e da Galeazzi Associados, para aperfeiçoar a estrutura de custos. Duas semanas depois, o conselho aprovou a nomeação de Nogueira Batista, membro do conselho da Codesa e da Braskem, como novo CEO.
As ações da empresa, como reflexo da desconfiança de investidores, acumulam queda da ordem de 90% em 12 meses e de 50% neste ano, em mais um caso - dos mais agudos - da crise de varejistas diante do quatro de aumento dos juros e do custo de capital e de desaceleração das vendas. E de resultados decorrentes da administração das companhias.
A Marisa também anunciou nesta noite de sexta as primeiras medidas decorrentes do trabalho de fiscalização nas contas promovido pela nova gestão.
“Apoiada pelo resultado da auditoria interna e da comissão externa, a companhia já refletiu as poucas sugestões de melhoria que ainda não haviam sido implementadas em suas práticas contábeis e demonstrações financeiras, quais sejam:
(i) baixa de receitas registradas de forma equivocada no valor de aproximadamente R$ 50 milhões;
(ii) reclassificação de despesas operacionais (OPEX) como despesas de capital (CAPEX) no valor de aproximadamente R$ 48 milhões; e
(iii) revisão de provisão para contingências no valor de aproximadamente R$ 34 milhões.”
A produção de novas informações sobre o verdadeiro estado das contas levou a empresa a decidir publicar o balanço do quarto trimestre sem a aprovação neste momento da auditoria externa, a Ernst & Young: o prejuízo líquido saltou 8 vezes na comparação com o mesmo período de 2021, saltando de R$ 24,5 milhões para R$ 188,6 milhões, sem contar os efeitos de eventos não recorrentes.
“A companhia encerrou o ano de 2022 com uma perda líquida de R$ 391 milhões, resultado que teve impacto direto do custo de rolagem do funding do Mbank, em função do significativo aumento nas taxas de juros no Brasil e da redução do saldo de aplicações de caixa”, apontou a Marisa em comunicado.
A rede varejista chegou ao fim do ano passado com dívidas brutas de R$ 874,6 milhões, das quais mais da metade de curto prazo.
Há uma semana, a Marisa anunciou a venda de direitos creditórios com valor de face de R$ 380 milhões, com pagamento antecipado de R$ 100,1 milhões e variável atrelado ao cumprimento de métricas. Segundo a empresa, a expectativa é a de fechar essa operação em até 45 dias.
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