O que esperar do mercado de trabalho após desemprego subir em fevereiro

Taxa de desemprego subiu pela segunda vez consecutiva em fevereiro e chegou a 8,6%; economistas veem sinais de fraqueza

Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, a trajetória da taxa de desemprego daqui para frente é de 'lenta elevação'
31 de Março, 2023 | 12:02 PM

Bloomberg Línea — Depois de duas altas consecutivas da taxa de desemprego, economistas do mercado financeiro avaliam que o mercado de trabalho tem dado mais sinais de desaceleração. Para especialistas, o cenário de menor expansão da economia e juros elevados pode fazer com que o desemprego suba mais ao longo do ano, em um sinal ruim para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem buscado formas de estimular a economia e critica frequentemente o Banco Central por sua política de juros elevados.

A taxa de desemprego do Brasil aumentou para 8,6% em fevereiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sua segunda alta consecutiva, passando por um aumento de 0,5 ponto percentual na comparação com os três meses anteriores. O número, divulgado nesta sexta-feira (30), veio abaixo do consenso de 8,7% esperado pelos economistas consultados pela Bloomberg.

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Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, a trajetória da taxa de desemprego daqui para frente é de “lenta elevação”. “Nossa expectativa é que a taxa ajustada sazonalmente encerre 2023 perto de 9%, podendo ficar um pouco abaixo disso. Para 2024, nossa projeção é que a taxa evolua para 9,5%”, disse. Segundo ela, a previsão do banco é de que a taxa de ocupação fique de lado ou “até caia” nos próximos meses.

A economista nota que que houve também uma queda na participação de pessoas no mercado de trbaalho (-0,3%) o que indica uma piora na dinâmica do emprego. “Quando o mercado está aquecido, as pessoas se animam a buscar emprego, elevando a PEA (população economicamente ativa)”, disse em comentário a clientes.

O Banco Original também enxerga um crescimento na desocupação nos próximos meses, sobretudo “após a recuperação de trabalho no pós-pandemia”, projetando uma taxa média de desemprego de 8,8% ao final do ano.

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“É verdade que a ocupação começa a perder fôlego, mas vale salientar que boa parte do aumento na taxa de desemprego é explicada pela constante contração da taxa de participação, que saiu de 61,9% em janeiro para 61,7% em fevereiro, e ainda se encontra em patamares inferiores à média pré-pandêmica (aproximadamente 63%). Ou seja, muitas pessoas consideradas aptas a trabalhar não estão procurando emprego”, afirmam os economistas do banco, Marco A. Caruso e Igor Cadilhac.

Já o Santander avalia que, mesmo com a queda, o resultado da Pnad de fevereiro ainda mostra um mercado de trabalho superaquecido e que a taxa de desemprego continua em níveis baixos mais por redução da taxa de participação do que por crescimento do emprego. Os economistas do banco estimam uma recuperação do emprego pontual em janeiro e fevereiro, seguida de uma desaceleração.

“Esperamos que a tendência de desaceleração do mercado de trabalho volte à frente, mas a continuidade de uma baixa taxa de participação implica em risco de queda em nossas projeções para a taxa de desemprego”, afirmam os economista Gabriel Couto, em comentário a clientes.

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Apesar do aumento da taxa de desemprego no mês para 8,6%, o IBGE ressalta esse é o menor resultado para o período desde 2015. No total, o número de desocupados cresceu 5,5% e chegou a 9,2 milhões de pessoas, representando um acréscimo de 483 mil pessoas à procura por trabalho.

“No trimestre encerrado em fevereiro, esse aumento da desocupação ocorreu após seis trimestres de quedas significativas seguidas, que foram muito influenciadas pela recuperação do trabalho no pós-pandemia. Voltar a ter crescimento da desocupação nesse período pode sinalizar o retorno à sazonalidade característica do mercado de trabalho. Se olharmos retrospectivamente, na série histórica da pesquisa, todos os trimestres móveis encerrados em fevereiro são marcados pela expansão da desocupação, com exceção de 2022″, afirmou a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy.

A Pesquisa por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) ainda aponta que, entre as categorias que mais perderam postos de trabalho no período, estão o empregado sem carteira no setor público, sem carteira assinada no setor privado e o trabalhador por conta própria com CNPJ. Não houve crescimento de ocupação em nenhum dos setores analisados pela pesquisa.

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Já o rendimento médio real ficou estável quando comparado ao trimestre terminado em novembro, estimado em R$ 2.853.

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Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.