Apetite de investidores globais por risco está caindo drasticamente, aponta BoE

Segundo o banco central inglês, movimento poderia criar desafios de refinanciamento para dívidas corporativas mais arriscadas

empresas de capital fechado e altamente endividadas podem ter dificuldades para refinanciar suas dívidas
Por Philip Aldrick - William Shaw
30 de Março, 2023 | 09:52 AM

Bloomberg — Os investidores globais estão diminuindo seu apetite ao risco devido à turbulência no sistema financeiro. É o que mostra uma pesquisa feita pelo Banco da Inglaterra (BoE) entre os dias 6 de janeiro e 3 de fevereiro, antes das mais recentes turbulências bancárias.

Segundo o levantamento, mais da metade dos entrevistados informaram que estavam se preparando para um evento de “alto impacto”.

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O resultado contrasta com os comentários do presidente da autoridade monetária Andrew Bailey na terça-feira (28), que expressou confiança de que uma nova crise não está prestes a ocorrer, embora reconheça que os mercados estão testando os bancos em busca de fraquezas.

Foi a primeira avaliação oficial do banco central inglês sobre as condições financeiras do Reino Unido desde o colapso do Silicon Valley Bank e do Credit Suisse. De todo modo, a indicação é de que o sistema bancário britânico está em uma posição forte para responder a uma ampla variedade de cenários.

O banco apontou ainda que os fundos hedge (equilavente aos multimercados no Brasil) têm ampliado a volatilidade nos mercados de taxas de juros ao reduzir sua exposição enquanto as autoridades resgataram duas grandes instituições.

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O relatório mostrou ainda que a calma está voltando aos mercados após um aperto nos fundos de pensão no final do ano passado devido ao aumento nas taxas de juros.

No entanto, o BoE alertou pela primeira vez para o fato de que as empresas de capital fechado e altamente endividadas podem ter dificuldades para refinanciar suas dívidas, já que o aumento das taxas de juros força os investidores a reavaliarem seus ativos.

“Empréstimos corporativos mais arriscados são particularmente vulneráveis a condições financeiras mais rigorosas” e “riscos geopolíticos elevados aumentam a probabilidade de que as vulnerabilidades financeiras se cristalizem”, disse o relatório do BoE divulgado na quarta-feira (29).

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Títulos de alto rendimento, empréstimos alavancados e mercados de crédito quase dobraram de tamanho na última década. Uma redução severa no apetite por risco dos investidores pode agora “resultar em desafios de refinanciamento”. O BoE disse que o setor imobiliário comercial é um risco particular.

O relatório aponta que cerca de 2,5 milhões a mais de mutuários de hipotecas serão expostos a taxas mais altas este ano, uma vez que seus negócios com taxa fixa expiram. Eles enfrentam em média um aumento de 250 libras por mês nos reembolsos. Cerca de 110.000 estarão em risco de inadimplência, embora esse número seja inferior ao de dezembro.

O documento também alerta que os custos mais altos do serviço da dívida poderiam levar a perdas de crédito para os bancos no Reino Unido e as condições de crédito mais rigorosas no exterior poderiam afetar os ativos estrangeiros dos bancos do Reino Unido.

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Entre outros pontos relevantes, o levantamento indicou que:

  • A confiança líquida no sistema financeiro diminuiu desde o ano passado, mas é maior do que a média de 2016 a 2019;
  • A inflação está entre os riscos mais frequentemente citados, mas a preocupação tem diminuído;
  • Ataques cibernéticos, geopolíticos e riscos de inflação ainda são considerados os mais desafiadores;

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