Bloomberg Opinion — Quando o Signature Bank, de Nova York, pediu recuperação judicial este mês, os clientes de bancos em estados distantes, como Arkansas, Geórgia e Ohio se assustaram. Isso ocorreu porque existem quatro Signature Banks nos Estados Unidos, e os clientes não tinham certeza de qual estava em apuros. O Signature Bank do Arkansas lembrou os depositantes em seu perfil no Twitter que o banco daquele estado não estava em recuperação judicial e então publicou um anúncio formal.
O fato de haver tantos Signature Banks é um reflexo do alto número de bancos no país. No final de 2022, havia 4.706 bancos comerciais no país, muito mais do que em qualquer outro lugar. O Canadá tem menos bancos do que o estado da Dakota do Norte. O Japão tem apenas 4% do número de bancos dos EUA. A União Europeia é muito mais fragmentada, mas tem 1,2 banco para cada 100 mil habitantes, em comparação com 1,4 nos EUA.
Os Estados Unidos têm tantas instituições que aceitam depósitos segurados e fazem empréstimos devido ao histórico do sistema. Até meados da década de 1980, muitos estados não permitiam que os bancos operassem além das divisas. Alguns nem mesmo permitiam a abertura de agências fora da região metropolitana da sede. Apenas em 1994 os bancos puderam operar em outros estados. As mudanças levaram a uma onda de consolidação. Nos últimos 30 anos, o número de bancos diminuiu em cerca de 3% ao ano.
Mas mesmo após múltiplas fusões e aquisições (e colapsos), o número de bancos nos EUA ainda pode ser alto demais. Os consumidores têm muitas opções, mas a concorrência em um sistema tão fragmentado pode levar à instabilidade.
Há muitos estudos de caso de como a concorrência pode levar os banqueiros a crises. Um caso clássico é o do Citigroup (C). O então presidente e CEO Chuck Prince certa vez afirmou que “era necessário dançar conforme a música”. Quinze meses depois, o banco solicitou resgate do governo.
Mais recentemente, os executivos do Silicon Valley Bank podem ter sido incentivados a assumir mais riscos porque sua remuneração estava diretamente atrelada ao retorno sobre o patrimônio que eles geravam “em relação aos concorrentes”. E, na busca de uma vantagem competitiva no negócio estável dos bancos, Alan Lane, CEO da Silvergate, viu os criptoativos como “uma oportunidade de bancar essas empresas que estavam sendo essencialmente derrotadas por outros bancos”.
Em uma disputa entre estabilidade financeira e concorrência, as autoridades escolherão principalmente a estabilidade. A presidente do órgão regulador financeiro suíço Finma afastou recentemente as preocupações antitruste quando pressionou o UBS Group (UBS) a assumir um Credit Suisse Group (CS) que estava perigosamente perto do colapso. “Podemos anular monopólios e fusões como instituição, e isto é algo que fizemos”, declarou ela em uma coletiva de imprensa.
Essa é uma prática que os órgãos reguladores britânicos usaram durante a crise financeira global em 2008. Quando a HBOS se envolveu em uma fusão com o Lloyds-TSB, colocando um terço das contas correntes pessoais do Reino Unido nas mãos de uma única instituição, as autoridades de defesa da concorrência hesitaram. Contudo, elas foram ignoradas por uma autoridade superior: “o interesse público de garantir a estabilidade do sistema financeiro britânico superou as preocupações com a concorrência”, disse o secretário de Estado, Peter Mandelson.
As autoridades dos EUA são excepcionalmente reticentes com relação a essa disputa. Em parte, isso reflete um respeito pelos mercados privados, mas principalmente porque seus bancos menores reúnem um poder de lobby significativo. Mais parlamentares do Congresso têm um banco pequeno entre seus 25 maiores doadores do que um grande banco, de acordo com dados compilados por Byrne Hobart.
Assim, os bancos americanos ficam sujeitos a um limite de tamanho. A Lei Riegle-Neal limitou a participação dos bancos nacionais a 10% do mercado de depósitos, embora, com a aprovação do Fed, a lei possa ser revogada se um banco comprar outro “em inadimplência ou em perigo de inadimplência”. No entanto, mesmo com essa isenção, os órgãos reguladores supostamente não queriam deixar os bancos maiores entrarem no leilão pelo Silicon Valley Bank (SVB).
O resultado é um sistema de dois níveis nos EUA: grandes bancos, sujeitos a um escrutínio de supervisão total, e uma longa lista de bancos menores que acabam isentos. A recente crise bancária expôs essa divergência.
Corrigir o sistema pode exigir um aumento geral no seguro de depósitos – uma característica pela qual os clientes acabarão pagando à medida que os bancos repassam os prêmios mais altos em que incorrem. A concorrência extra tem um preço; se não for maior a instabilidade, então são prêmios de seguro mais altos.
Talvez por isso o Canadá não passe por tantas crises bancárias.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Marc Rubinstein é ex-gestor de fundos de hedge. Ele escreve a newsletter financeira semanal Net Interest.
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