Bloomberg Línea — O ex-CEO da Americanas (AMER3) Sergio Rial negou que tivesse um contrato com a varejista desde maio de 2022 por meio de sua consultoria, antes de ser anunciado como o próximo CEO da companhia. Rial, no entanto, afirmou que tinha um acordo de prestação de serviço de setembro a dezembro, para poder se familiarizar com a companhia antes assumir o cargo em janeiro.
Em depoimento no Senado nesta terça-feira (28), o executivo foi questionado por senadores sobre um suposto contrato de remuneração com a Americanas que teria sido assinado em maio de 2022.
Rial relatou que o documento se tratava de um contrato com validade de setembro a dezembro como consultor da varejista, antes que ele assumisse o cargo de diretor-presidente em 1º de janeiro de 2023.
“Nunca houve qualquer contrato em maio de 2022. Meu anúncio se dá em 19 de agosto de 2022″, disse o executivo.
“Em qualquer processo normal de transição de presidência, faço um contrato de setembro a dezembro como consultor, de forma que me permita o mínimo de ambientação da empresa que eu estaria assumindo em janeiro. Esse é um processo absolutamente normal”, afirmou.
A questão foi levantada pelo senador Carlos Portinho (PL-RJ), que indagou Rial sobre o fato de que o executivo só teve conhecimento das inconsistências contábeis “em poucos dias” antes de o caso ser revelado, sendo que, segundo ele, já que existiria um contrato de consultoria de Rial com a Americanas, assinado pelos acionistas-chave da empresa e pelo presidente do conselho.
Não é a primeira vez que o executivo é questionado sobre um contrato com a empresa antes de assumir como CEO.
No último dia 17 de março, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu um processo de investigação relacionado ao caso Americanas com o objetivo “analisar eventuais irregularidades a respeito do recebimento por Sergio Rial de remuneração paga pela companhia durante o período compreendido entre o anúncio de sua escolha como CEO, em agosto de 2022, e sua efetiva posse no cargo, em janeiro de 2023″.
À época, em nota enviada à Bloomberg Línea, Sergio Rial afirmou que estava à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos e que o contrato com a Americanas foi “100% regular”.
Também presente na audiência no Senado, o presidente Comissão de Valores Mobiliário, João Pedro Nascimento, disse que a autarquia tem um processo administrativo em curso que trata de apurações feitas sob a remuneração que Rial recebia “seja de maio, seja de dezembro de 2022, mas de fato existe inconsistência apontada e o papel da CVM é apurar”.
Segundo Nascimento, o contrato, enviado pelo senador Carlos Portinho, não tinha sido juntado até hoje aos autos de investigação da CVM.
“Realmente existe uma contradição nessas falas, uma confusão temporal. Rial anunciou na sequência que os trabalhos começaram em setembro, mas existe o contrato de maio”, disse Nascimento.
Comitê independente
O senador Carlos Portinho também questionou a formação de um comitê independente para investigar a possibilidade de fraude na Americanas, dado que uma pessoa da auditoria faz parte desse comitê.
“Qual a independência desse comitê que está dentro da própria estrutura da Americanas?”, ao que Rial respondeu que não cabe a ele responder a formação do comitê de investigação.
Para Portinho, também há a necessidade de investigação se houve uma criação de uma recuperação judicial desde 2022 para que a Americanas tivesse uma negociação de crédito com deságios e pudesse vender ativos como as empresas adquiridas de Hortifruti e grupo Puket.
-- Colaborou Tamires Vitorio
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