Bloomberg — A XP Asset Management, uma das maiores administradoras de fundos do Brasil, já inclui em seus modelos a possibilidade de o governo elevar a meta de inflação para 4% para este ano, em resposta à relutância do Banco Central em afrouxar a política monetária.
A gestora, detentora de R$ 150 bilhões de ativos sob administração, acredita que o governo também deva mudar o sistema de metas, retirando o marco temporal para cumprimento do objetivo, segundo Fernando Genta, economista-chefe. Uma meta de inflação maior do que a atual de 3,25% pode, no entanto, gerar resultados contrários à intenção do governo.
“Se a gente está mudando a meta partindo do pressuposto de que uma meta mais alta vai permitir que a gente trabalhe com juro mais baixo e crescimento mais alto, eu discordo”, diz Genta.
A chance de o governo decidir mexer no sistema de metas aumentou depois que o Banco Central manteve estável a Selic em 13,75% — o maior nível em seis anos — e disse em comunicado na semana passada que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros têm criticado duramente a política monetária do BC, alegando que ela impede o crescimento do país.
Na avaliação de Genta, se a meta de inflação aumentar, os agentes econômicos devem demandar um prêmio em relação ao novo objetivo legal e, por esta razão, as expectativas de inflação do mercado devem convergir para 5% neste ano.
Nesse caso, a estimativa da XP Asset para a inflação é ainda mais elevada — núcleos ainda pressionados em conjunto com o aumento do gasto público devem resultar em uma inflação de 6% nos próximos quatro anos, acima da mediana das projeções de economistas do Boletim Focus do BC ao redor de 4% para prazos mais longos.
Genta atuou como secretário adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo de Michel Temer de 2017 a 2018 e, na função, participou do processo de redução das metas de inflação.
BC ‘hawk’
Para ele, haveria espaço para um aperto ainda maior na politica monetária, mesmo em um momento em que o governo escala a pressão por cortes de juros. “Há uma leitura de que o BC foi ‘hawk’ [postura agressiva nos juros], mas com ele projetando inflação acima da meta por todo horizonte, com as expectativas todas desancoradas, não consigo dizer isso”, disse Genta.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chamou a decisão do BC de “muito preocupante” e disse que suas observações serão levadas à instituição monetária.
O corte de juro publicamente demandado pelo governo deve acontecer só no último trimestre de 2023, prevê Genta.
A XP Asset administra o XP Macro Plus, um dos cinco melhores fundo multimercado macro de uma lista de 193 fundos monitorados pela Bloomberg, com retorno de 22% descontadas as taxas no período de um ano.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Vale: como novo padrão de crescimento da China deve alterar demanda por minério
Este empreendedor brasileiro transferiu US$ 200 mi ao SVB após o colapso do banco