Deutsche Bank: onda vendedora foi causada por fundos, mas duração é incerta

Analistas de bancos como Citi e JPMorgan e de outras casas apontam que queda nos ativos do player alemão não guardou relação com os seus fundamentos

Por

Bloomberg — A semana começa com investidores atentos aos preços dos ativos do Deutsche Bank (DB), depois da queda de mais de 8% das ações do banco alemão e do aumento no custo do seguro de sua dívida contra inadimplência (CDS) na última sexta-feira (24).

Foram movimentos repentinos, no entanto, que alguns grandes investidores atribuíram aos fundos hedge que buscam lucrar com a turbulência e a volatilidade mais ampla que assola o setor financeiro.

Não houve um gatilho claro para as quedas na sexta-feira.

Mas os fundos hedge, equivalentes aos multimercados no Brasil em termos de diversificação de portfólio e que podem adotar estratégias como a alavancagem, voltaram sua atenção para o Deutsche Bank após o colapso do Credit Suisse (CS) e de três bancos regionais dos Estados Unidos. Eles aumentaram suas apostas contra o banco nos mercados de ações e swaps de crédito, disseram investidores familiarizados com o assunto, que não estavam autorizados a falar publicamente.

A onda vendedora na sexta levou o chanceler alemão, Olaf Scholz, a apoiar publicamente o banco, que fortaleceu seu balanço após alguns erros caros de gestão anos atrás. Em uma entrevista coletiva de imprensa em Bruxelas, Scholz disse que o “banco é muito lucrativo” e que a supervisão bancária na Europa é “robusta e estável”. Um porta-voz do Deutsche Bank se recusou a comentar.

“É um caso claro em que o mercado vende primeiro e faz perguntas depois”, disse Paul de la Baume, estrategista sênior de mercado do FlowBank SA.

As ações do setor bancário têm sido castigadas desde que o Silicon Valley Bank (SVB) quebrou há duas semanas, após sofrer uma onda de saques de recursos de seus clientes. As perdas das ações continuaram na semana passada, mesmo depois que a secretária do Tesouro, Janet Yellen, disse que os reguladores estariam preparados para novas medidas para proteger os depósitos, se necessário.

O chefe do agente regulador bancário da Alemanha, a BaFin, havia declarado na última quarta-feira (22) que, embora não houvesse risco direto para os mercados bancários da Europa devido à recente turbulência, existe o perigo de um “contágio via psicologia dos mercados”.

Os swaps de inadimplência de crédito nos títulos seniores de cinco anos foram cotados em cerca de 200 pontos-base na tarde de sexta-feira, de acordo com o ICE Data Services, abaixo dos cerca de 220 pontos-base no início do dia.

O volume de cotações de CDS do Deutsche Bank enviadas aos participantes do mercado na semana passada aumentou 30% em comparação com o início do mês, de acordo com dados do ICE CDS. Isso indica um aumento na demanda pela compra da proteção, impulsionada principalmente pelos fundos hedge, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto.

“Vemos isso como um mercado irracional”, escreveram analistas do Citigroup (C), incluindo Andrew Coombs, em nota. “O risco é se houver um impacto psicológico de várias manchetes da mídia sobre os depositantes, independentemente de o raciocínio inicial por trás disso estar correto ou não.”

Os juros a descoberto no Deutsche Bank atingiram o nível mais alto desde maio na terça-feira (21), segundo dados compilados pela IHS Markit. Ficou em 2,6% das ações em circulação na quinta-feira, ante menos de 1% no início de fevereiro.

“A recente ampliação do CDS do Deutsche Bank está, em nossa opinião, relacionada a negociações unilaterais de redução de risco em todos os participantes do mercado”, escreveram analistas do JPMorgan Chase (JPM), incluindo Kian Abouhossein. “Não vemos isso e o declínio do preço das ações associado como um reflexo dos fundamentos.”

Força vista como fraqueza pelo mercado

Com os mercados em um estado de ansiedade elevada, as demonstrações de força causaram efeito oposto, pois os investidores as olharam como sinais de fraqueza. O anúncio do Deutsche Bank na sexta de recomprar um título subordinado ocorreu no primeiro dia em que o banco tinha o direito de anunciá-lo. Mas, em vez de aumentar a confiança, seus swaps de inadimplência aumentaram.

O banco alemão emergiu recentemente de um plano de recuperação de quatro anos que incluiu milhares de cortes de empregos e uma saída de grandes partes do banco de investimento. O CEO Christian Sewing, que assumiu em 2018, até explorou um potencial acordo com o rival alemão Commerzbank em 2019 a pedido do governo, antes de decidir contra ele.

Os investidores estavam preocupados com sua exposição a imóveis comerciais nos Estados Unidos e sua grande carteira de derivativos, de acordo com Stuart Graham, analista da Autonomous Research. No entanto, ambos são “bem conhecidos” e “simplesmente não muito assustadores”, acrescentou ele em nota.

“Não temos preocupações sobre a viabilidade ou as marcas de ativos do Deutsche”, escreveu Graham. “Para ser claro, o Deutsche NÃO é o próximo Credit Suisse.”

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Credit Suisse não duraria nem mais um dia sem acordo, diz ministra da Suíça

Os escândalos e a desconfiança que acabaram com o Credit Suisse após 166 anos

A trajetória do CEO do SVB, de bajulado por fundos de VC e startups a renegado