Bloomberg — Em meio aos alertas de uma crise bancária, uma recessão fomentada pelo crédito, giro dos bancos centrais e estagflação, a melhor estratégia até agora nos mercados – principalmente em ações – tem sido ficar parado.
O índice S&P 500 acabou de encerrar sua segunda semana consecutiva de alta e, embora as Treasuries (títulos do Tesouro de 10 anos dos Estados Unidos) tenham agitado os short sellers (que apostam na queda), aguentar a pior volatilidade em quatro décadas teria gerado lucros consideráveis.
Fechar os ouvidos ao burburinho é um conselho de investimento geralmente confirmado. “O pânico nunca compensa”, diz April LaRusse, chefe de especialistas em investimentos da Insight Investments.
“A coisa mais inteligente a fazer quando você tem muita incerteza é sentar, reunir informações e montar sua análise, sem tentar fazer grandes mudanças.”
Fazer isso agora é algo quase heroico. Em poucas semanas, o tema dominante do mercado mudou de um cenário “sem pouso“, onde o crescimento persiste ao mesmo tempo em que os bancos centrais pressionam políticas restritivas por mais tempo, para tudo, desde o caos bancário a uma recessão, bem como algum tipo de rali das ações de tecnologia impulsionado pelo Fed.
“Há décadas em que nada acontece; e há semanas em que décadas acontecem”, escreveu Marko Kolanovic, estrategista-chefe de mercados globais do JPMorgan (JPM), em nota.
Por enquanto, os “touros” (investidores mais otimistas) estão aproveitando a resiliência das ações, encorajados pela esperança de que o Federal Reserve (Fed) em breve faça uma pausa em sua agressiva campanha de combate à inflação e reguladores, incluindo a secretária do Tesouro, Janet Yellen, possam conter qualquer consequência financeira.
O S&P 500 subiu 1,4% em cinco dias, quase apagando toda a perda do dia anterior à queda dos bancos regionais há duas semanas. O Nasdaq 100 subiu pela terceira semana em quatro, ficando cerca de 5% acima do nível pré-crise.
Os “ursos” (investidores mais pessimistas) são rápidos em notar: a mesma coisa aconteceu em 2008, quando o colapso do Lehman Brothers incitou uma turbulência extrema, mas os índices de referência das ações ainda conseguiram terminar a semana seguinte praticamente estáveis.
Atualmente, as ações permanecem mais próximas de suas mínimas do que das máximas do ano passado, quando uma queda de 25% no S&P 500 enviou um claro sinal de recessão — muita dor está no preço dos ativos. Mas isso também foi verdade quando a pior parte da última crise começou.
Efeitos da crise
Ninguém, incluindo os formuladores de políticas do Fed, tem uma visão firme sobre o impacto da turbulência bancária. Embora quase todos, incluindo o presidente do Fed, Jerome Powell, esperem que a crise contribua para um aperto nas condições financeiras, o consenso é escasso sobre o escopo exato dos danos.
Entre várias tentativas de quantificar o impacto da turbulência dos empréstimos na política monetária, as estimativas variam de 50 a 150 pontos base no equivalente a aumentos de juros.
É o mesmo ao tentar avaliar o efeito nos indicadores econômicos. No Citigroup (C), estrategistas sugerem que a crise bancária já está reduzindo a demanda do consumidor, citando dados da empresa sobre gastos com cartão de crédito.
Por outro lado, os usuários de cartões do JPMorgan e do Bank of America (BAC) permanecem otimistas, mostram outros relatórios de seus economistas.
“O Fed elevou a temperatura, a água está começando a ferver e estamos começando a ver alguns sapos morrendo”, disse George Cipolloni, gerente de portfólio da Penn Mutual Asset Management.
“Enquanto o Fed mantiver essa temperatura, há potencial para mais falências de bancos neste ciclo. E essa é uma das razões pelas quais Yellen e algumas outras pessoas estão respondendo da maneira que estão em termos de garantia de depósitos.”
Apostas divergentes
Embora as opiniões divididas sejam uma característica constante no investimento, o tamanho da divergência raramente foi tão amplo. No mercado de ações, a diferença entre os maiores e menores preços-alvo para o índice S&P 500 ao fim deste ano é de 47% – a maior nesta época do ano em duas décadas, segundo dados compilados pela Bloomberg.
O conflito também está presente na renda fixa. Mesmo quando Powell insistiu na quarta-feira (22) que os cortes nas taxas não são seu “cenário-básico”, os operadores de títulos mantiveram as apostas de que o banco central reverterá o curso este ano.
As taxas de swap vinculadas às datas das reuniões agora mostram cortes totalizando cerca de um ponto percentual até o final do ano.
As visões em constante mudança da economia e do Fed sustentaram uma turbulência quase sem precedentes nos títulos do governo. Pela 11ª sessão até quinta-feira (23), os rendimentos dos títulos do Tesouro de dois anos avançaram mais de 10 pontos base, algo não visto desde 1981.
Em meio à confusão e volatilidade, o índice Nasdaq 100 se destacou como um dos ativos de melhor desempenho deste ano, graças ao domínio das big techs, com fortes caixas. Enquanto o índice subiu quase 17%, chegar até lá foi de embrulhar o estômago.
O momento ruim pode ser punitivo: perder os cinco melhores dias teria deixado os investidores com um ganho de apenas 1%.
Para Que Nguyen, diretor de investimentos de estratégias de ações da Research Affiliates, é melhor os investidores se prepararem para um caminho turbulento pela frente.
“Na maioria das vezes, quando você tem um problema de dívida ou liquidez, ele não desaparece em duas semanas”, disse ela. “Os mercados estão estáveis quando as coisas terminam. Então, o fato de ainda estarmos nessa enorme quantidade de volatilidade me diz que as coisas ainda não acabaram.”
-- Com a colaboração de Vildana Hajric, Liz Capo McCormick e Quer Carly
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