Cogna: ‘lição de casa’ para ter condições de crescer sem depender do Fies

Após dois anos de execução de estratégia, maior grupo de educação do país amplia captação de alunos e mantém evasão e inadimplência sob controle diante de ambiente macro adverso

Retomada do ensino presencial tem impacto para a Cogna em termos de receitas e despesas no fim de 2022
23 de Março, 2023 | 09:11 PM

Bloomberg Línea — O começo do governo Lula e as expectativas sobre a retomada do Fies, o fundo de financiamento estudantil, levaram a uma valorização de ações de empresas de educação em alguns momentos deste ano. Mas ainda não há clareza sobre a questão. Para a Cogna (COGN3), maior grupo de ensino do país e dona da Kroton, empresa com o maior número de alunos no ensino superior, o momento é de reforçar a operação sem depender de eventuais impulsos, ainda que bem-vindos, de políticas públicas.

A empresa colhe os resultados de dois anos de execução de estratégia para reduzir a dependência de cursos presenciais e ampliar a relevância de híbridos e digitais à distância no mix de alunos, com reflexos para o crescimento e a geração de caixa operacional. “Tínhamos confiança de que 2022 seria o ponto da inflexão depois da estratégia desenhada em 2020, com execução desde então”, disse Roberto Valério, CEO da Cogna, em entrevista à Bloomberg Línea.

Ele aponta que as unidades de negócios, tanto a Kroton como a Vasta, plataforma de serviços para o ensino básico, tiveram crescimento de receitas, de Ebitda (métrica de geração de caixa operacional) e de margens (rentabilidade). “Estamos gerando mais caixa do que um ano atrás, apesar das circunstâncias macro e da volta da presencialidade na Kroton, em que ambos que pressionam custos”, disse Valério.

Segundo ele, a geração de caixa da Kroton deve melhorar em 2023 com o crescimento das receitas, dado que isso já acontecia nos últimos anos em conjunto com o aumento da rentabilidade mesmo com receitas em queda, ainda que o ambiente macroeconômico adverso seja um ponto de atenção.

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A base de alunos da Kroton encerrou o ano com aumento de 11,5%, enquanto as métricas de evasão e de inadimplência estão sob controle - como percentual da receita líquida.

“Estamos com uma perspectiva de crescer base e receitas, e os alunos que estão conosco indicam números saudáveis. Isso significa safra boa de captação de alunos, safra boa de rematrícula e safra boa de adimplência e nos dá confiança para o ano. Estou menos otimista do que em setembro passado, dadas as condições da economia, mas estamos preparados para o curto prazo”, disse Valério.

Segundo o executivo, a geração de caixa é suficiente para honrar o serviço da dívida, e os valores em caixa, para as amortizações previstas para o ano de 2023. “Não precisamos fazer nenhum rolagem adicional e estamos atentos para a troca de dívida por outra mais barata se houver oportunidades.”

No quarto trimestre de 2022, cujos resultados foram divulgados nesta noite de quinta-feira (23), depois do fechamento do mercado, as receitas da Kroton cresceram pelo segundo período seguido, na ordem de 12,6%, algo que só estava originalmente previsto para acontecer a partir de 2023.

As receitas líquidas somaram R$ 952,6 milhões, enquanto o Ebitda recorrente ficou em R$ 208,1 milhões, com avanço de 9,8% na comparação anual. A margem ficou em 21,8%, versus 22,5% um ano antes.

No ano, as ações da Cogna acumulam queda da ordem de 4%, e, em 12 meses, de 10%; nos mesmos períodos de referência, o Ibovespa tem desvalorização de 11% e 18%, respectivamente.

Na Cogna, as receitas líquidas subiram 13% na base anual no quarto trimestre de 2022, totalizando R$ 1,7 bilhão, enquanto o Ebitda recorrente subiu 13%, para R$ 471,5 milhões, com margem de 27,8%, a mais elevada em três anos.

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Na Vasta, as receitas líquidas subiram 26,8% no quarto trimestre na base anual, para R$ 505 milhões, enquanto o Ebitda recorrente avançou 27%, para R$ 198,4 milhões, com margem de 39,3%.

O ACV (valor anual de contratos), uma métrica que dimensiona a receita para o ano, encerrou 2022 na casa de R$ 1 bilhão, e os números dos três meses finais do ano, quando as escolas do ensino básico se planejam para o ano letivo seguinte, levaram a Cogna a anunciar um guidance de R$ 1,23 bilhão para 2023.

“O resultado do quarto trimestre foi muito positivo, o que é significativo para Vasta porque nos dá confiança para entregar esse guidance que foi anunciado”, disse o CEO da Cogna.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.