O CEO e fundador da Creditas, Sergio Furio, acredita em uma recuperação da margem de lucro da fintech de crédito com o cenário de estabilização ou até redução dos juros no Brasil num horizonte de dois anos. Em entrevista à Bloomberg Línea, Furio afirmou que espera atingir margem de lucro de 40% até 2024, o que pode ser acelerado em caso de redução das taxas de juros no país já este ano.
“À medida que a empresa reduz inventário, consome menos capital e aumenta o lucro bruto na margem de contribuição. Com juros se estabilizando, vamos expandir a margem”, disse o CEO da fintech que tem garantia financiada pela Fidelity. A Creditas é a terceira maior startup unicórnio do Brasil, com avaliação de mercado de US$ 4,8 bilhões, de acordo com a consultoria CB Insights, atrás de QuintoAndar (US$ 5,1 bilhões) e o banco C6 (US$ 5,05 bilhões)
“Fizemos nosso plano em juros estável em 13,75% até final do ano. Mantendo os juros no nível atual, chegaríamos aos 40% de margem em 2024. Se os juros caírem, aceleramos essa subida de lucro bruto e acabamos 2023 com margem de contribuição de 40%.”
O executivo vê baixa a chance de elevação da Selic em 2023. Mas, se isso acontecesse, a reação da Creditas seria aumentar preços, repassando custos ao cliente. Mas, se a Selic se mantiver em 13,75% e a taxa de juros ao cliente se mantiver no nível pré-fixado atual, a Creditas afirma que é possível atingir o chamado breakeven (equilíbrio entre lucro e prejuízo) até o final do ano.
Margens pressionadas
A Creditas viu as margens operacionais se reduzirem à medida que o Banco Central elevou a taxa de juros do Brasil de 2%, em março de 2021, para o atual patamar de 13,75%. Isso impactou o custo de captação de seus veículos de securitização, como os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) emitidos pela fintech para originar empréstimos, comprimindo a margem financeira.
“Com juros planos, nossa margem operacional é de 43%. Quando há uma subida rápida de juros nossa margem cai. Caiu de 50% para 10% no segundo trimestre de 2022. Com a Selic estabilizada, a nova carteira está sendo originada a uma taxa de juros maior, e portanto reprecifica o portfólio”, disse Furio.
A Creditas tem 70% de sua carteira de crédito atrelada a juros pré-fixados. Os demais 30% são atrelados ao IPCA+ no ativo e no passivo na securitização. Mas a unidade de financiamento de carros e crédito consignado tem pré-fixado no ativo, e no passivo com CDI+.
A empresa disse que o preço dos empréstimos pré-fixados continuou subindo de 32% em setembro de 2021 para 56% em dezembro de 2022. “Devido à natureza de longo prazo de nossos empréstimos (prazo médio de 4 anos para empréstimos pré-fixados e 15 anos para empréstimos flutuantes), nosso preço médio de carteira continua aumentando, de 32% em setembro de 2021 para 41% em dezembro de 2022″, disse a fintech em comunicado.
Em 2022, a empresa teve receita de R$ 1,8 bilhão, um aumento de 118% em relação a 2021. A Creditas disse que teve um lucro bruto 60% maior no último trimestre de 2022 em comparação com primeiro trimestre do ano passado por conta da reprecificação de sua carteira de empréstimos e diminuição do custo do crédito.
Reestruturação
Nesta semana, a empresa comunicou o fechamento de seu centro de recondicionamento de veículos. Agora, a empresa deixará de comprar carros para revendê-los. Em 2021, a Creditas adquiriu a Volanty, startup de compra e venda de carros usados, para entrar na competição com a Kavak com a unidade de negócios Creditas Auto. A partir de agora, para o negócio de automóveis, a empresa continuará apenas com financiamento e seguros.
Dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostram que o desempenho da indústria automobilística brasileira no primeiro bimestre de 2023 foi limitado pelas condições de crédito e oferta de suprimentos. Nos últimos dias, o Santander (SANB11) firmou um acordo para vender 40% da Webmotors, de compra e venda de carros usados de forma online, para a australiana Carsales, por R$ 1,24 bilhão, em transação que avaliou a empresa brasileira de compra e venda de automóveis online em R$ 3,1 bilhões.
Com a operação, a Carsales passou a ter 70% da Webmotors, sob condição de que o Santander mantenha exclusividade na oferta de financiamento e seguros na plataforma.
Furio disse que o encerramento da fábrica de Barueri, onde a empresa tinha em torno de 90 pessoas trabalhando no recondicionamento de veículos usados, já vinha sendo trabalhado desde o ano passado com a redução do inventário.
Nessa fábrica, a Creditas recondicionava os veículos usados comprados para depois fazer a venda e complementar com financiamento e seguros. Agora, a empresa pretende terceirizar esse serviço de recondicionamento para ter uma “operação mais eficiente” e apenas atuará como intermediária na transação entre duas pessoas físicas, indicando pontos de venda físicos e inspeção por meio de parceiros como mecânicas.
“Nas próximas semanas vamos oferecer alternativas para essas pessoas que estão neste centro para que, em alguns casos, sejam realocadas para nossos parceiros terceirizados”, disse Furio. Sem a instalação e inventário de carros, a empresa pretende preservar investimento Capex.
Mesmo assim, a Creditas optou por não fechar o negócio de automóveis porque “o tipo de crédito e seguro que o Creditas Auto gera é muito bom”, segundo o CEO, que alega que a Creditas Auto representa cerca de 3 a 4% da operação da Creditas.
A Creditas disse que por ter uma carteira colateralizada para crédito de pessoa física, teve um impacto de provisões “muito baixo”, e que não foi impactada como incumbentes que tiveram que aumentar o número de provisões pelo ciclo do mercado de crédito.
A última emissão da Creditas foi um CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) listado com a Kinea, de R$ 400 milhões. A empresa tem 35 veículos de securitização e continuará as emissões este ano, agora em parceria com o banco adquirido no final de 2022, o Andbank, que será um assessor de depósitos para compor a captação da Creditas para além do mercado de capitais.
A Creditas tem cerca de 3 mil funcionários e disse que seu valuation se mantém o último da transação com a Fidelity, quando foi avaliada em US$ 4,8 bilhões.
Furio espera levar a empresa a um IPO (oferta pública inicial) se o mercado de ações ficar mais aberto em 2024 e se a empresa estiver rentável.
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