Bloomberg — Mesmo diante da pressão do governo Lula por uma flexibilização da política monetária, o Banco Central adotou o caminho contrário e subiu o tom de preocupação com a desancoragem “adicional” das expectativas de prazos mais longos, além de repetir que pode voltar a subir a Selic se necessário.
As projeções de inflação pioraram para este ano e o próximo.
O Copom manteve a Selic estável em 13,75%, como amplamente esperado pelo mercado, mas o tom duro surpreendeu analistas que esperavam alguma moderação por parte do BC.
Com isso, a curva deve passar por ajuste de alta dos juros futuros mais curtos, já que os contratos de DI embutiam precificação de corte da Selic entre maio e junho. O real também pode se apreciar, dado o BC “hawkish” (isto é, favorável a juros mais altos).
Uma eventual reação do governo, no entanto, “pode gerar mais estresse nos DIs longos e no real”, diz Guilherme Foureaux, sócio e gestor da Vista Capital.
O BC também manteve a visão de que “permanecem fatores de risco em ambas as direções”. Houve uma menção ao trabalho do governo com relação ao fiscal, ao citar a recente reoneração dos combustíveis, que “reduziu a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo”.
Sobre o arcabouço fiscal, a frase mudou de “elevada incerteza” para “incerteza”.
Entre os alertas, o BC citou o risco de uma desaceleração na concessão doméstica de crédito e as “condições adversas no sistema financeiro global”, ambos no balanço de riscos. “Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento”.
Confira a seguir o que dizem analistas do mercado financeiro:
Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, do JPMorgan
- Apesar de algumas mudanças no comunicado, o Copom manteve sua mensagem hawkish majoritariamente inalterada;
Gustavo Arruda, do BNP
- Comunicado mais hawkish do que o esperado, reforçou a preocupação do BC com as expectativas de inflação desancoradas;
- Provavelmente o mercado vai diminuir os cenários com cortes de juros nas proximas reuniões. O BNP prevê cortes só em 2024;
Mirella Hirakawa, da AZ Quest
- A palavra “expectativa” aparece sete vezes, um pouco mais do que a comunicação anterior, mostrando o grau de preocupação;
- BC tira a expressão sobre “manter a Selic por período mais prolongado do que o cenário de referência”, não se amarra a períodos e indica que por algum tempo a Selic vai se manter estável;
Cecília Machado, do Banco BOCOM BBM
- BC manteve o entendimento de que pode retomar o ciclo de ajustes caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”;
- “O balanço de riscos se manteve equilibrado, sem nenhuma assimetria”;
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- Uma mensagem clara, focada e hawkish;
- BC ainda está muito preocupado com a alta das expectativas de inflação e parece totalmente focado em cumprir seu mandato de conduzir a inflação para a meta;
Rodolfo Margato, economista da XP
- Comunicado mais hawkish, mais duro do que o esperado pelo mercado;
- Mantém previsão de Selic estável em 13,75% ao longo do ano, mas reconhece a possibilidade de cortes antecipados;
Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital
- Não é um comunicado que concede espaço para corte imediato, mas foi menos duro que o de fevereiro;
- Tenax espera corte da Selic na reunião de agosto;
- No balanço de riscos, a frase sobre o fiscal como pressão altista foi suavizada; risco de hiato mais apertado também não está mais na lista;
- Antes falava-se de período mais prolongado que o cenário de referência e agora fala-se de considerar o próprio cenário de referência, que considera corte de juros em novembro, como base;
Mauricio Oreng, superintendente de pesquisa macroeconômica do Santander
- Desancoragem de expectativas segue como preocupação do comitê e projeções de inflação subiram no horizonte relevante;
- Plano de voo não parece incluir corte de juros no curto prazo;
Gustavo Pessoa, sócio fundador da Legacy Capital
- Copom ainda não indicou início de corte;
- BC mostrou maior preocupação com cenário externo;
- O balanço de riscos ficou mais simétrico;
Brendan McKenna, estrategista de câmbio da Wells Fargo
- Não há indícios de começar a sinalizar cortes;
- BC manteve a mesma postura hawkish;
- Ciclo de flexibilização deve começar no terceiro trimestre;
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital
- Comunicado foi duro, na esteira dos comunicados dos principais bancos internacionais, Fed e BCE e compõem um cenário duro para condução da política monetária;
- “Algumas mudanças significativas foram vistas, como a menção sobre a piora do cenário econômico global e crescimento das incertezas, que acontecem pelos movimentos no setor financeiro dos EUA”.
-- Com a colaboração de Barbara Nascimento, Patricia Xavier e Raphael Almeida Dos Santos.
Veja mais em bloomberg.com
Leia também:
Mensagens divergentes de Powell e Yellen criam estado de confusão nos mercados
China retoma importações de carne bovina brasileira após caso de vaca louca