O que esperar da decisão do Banco Central sobre a taxa Selic nesta quarta-feira

Traders esperam cortes de juros a partir de junho, mesmo com a inflação bem acima da meta e as regras de gastos públicos ainda em aberto

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Bloomberg — O Banco Central (BC) provavelmente manterá a taxa básica de juros estável pela quinta reunião consecutiva, resistindo à pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por custos de empréstimos mais baixos, à medida que os esforços do governo para recuperar a credibilidade fiscal são adiados.

Todos os economistas em uma pesquisa da Bloomberg esperam que os membros do conselho mantenham a Selic inalterada em 13,75% ao ano nesta quarta-feira (22).

Os formuladores de políticas liderados por Roberto Campos Neto elevaram as taxas em 11,75 pontos percentuais ao longo de um ano e meio antes de fazer uma pausa em setembro e, desde então, enfatizaram que ainda não discutiram o início do ciclo de flexibilização.

A autoridade monetária se reúne em meio aos efeitos cascata da crise bancária dos Estados Unidos e também diante de uma piora nas perspectivas de crédito doméstico. Os traders esperam cortes de juros a partir de junho, mesmo com a inflação bem acima da meta e as regras de gastos públicos permanecendo em aberto.

O BC também está enfrentando crescente pressão política, já que o presidente Lula e os principais membros do Partido dos Trabalhadores (PT) pressionam por uma Selic mais baixa. Na véspera da reunião do Banco Central, o presidente disse que o banco estava sendo “irresponsável” por manter a Selic no nível mais alto em seis anos.

O que diz a Bloomberg Economics:

“Apesar da intensa pressão política para um corte de juros, espera-se que o Banco Central do Brasil mantenha sua taxa básica de juros em 13,75%. Dados divulgados desde a reunião de fevereiro mostram que a inflação subjacente segue acima do que seria consistente com a meta. As expectativas de inflação aumentaram ainda mais e ainda não estão ancoradas até 2026. Esses fatores argumentam contra um corte nas taxas, apesar da desaceleração do crescimento e da queda nos preços das commodities”.

Adriana Dupita, economista da Bloomberg Economics

A reunião desta quarta ocorrerá algumas horas depois que o Federal Reserve (Fed) divulgar sua própria decisão sobre as taxas. É improvável que uma pausa no aperto monetário do Fed – ou mesmo uma declaração mais branda – provoque um corte de juros no Brasil, mas pode suavizar o tom da comunicação pós-reunião do BC.

A decisão do Brasil será publicada no site do Banco Central a partir das 18h30 (horário de Brasília) com nota da diretoria.

Confira a seguir o que ficar de olho no comunicado:

Ciclo de atenuação

Os investidores vasculharão o comunicado em busca de sinais sobre quando as taxas poderão cair. Dado que a nova estrutura fiscal do Brasil ainda não foi revelada e seu impacto nas previsões de inflação ainda está longe, os formuladores de políticas provavelmente se absterão de assumir um compromisso rígido de flexibilização.

“Ainda não há informações suficientes” para avaliar a trajetória dos gastos do governo, disse Gustavo Arruda, chefe de pesquisa latino-americana do BNP Paribas. “A inflação ainda está alta, as previsões para os preços ao consumidor ainda são elevadas e realmente não sabemos como será a regra fiscal no final”.

As estimativas de inflação anual permanecem bem acima das metas de 3,25% para este ano e de 3% para 2024. As medidas básicas que excluem itens voláteis como alimentos e combustíveis ainda estão subindo.

Ainda assim, os membros do governo de Lula esperam que o banco central reconheça que os recentes anúncios, como a eliminação gradual das reduções de impostos sobre os combustíveis, abrem as portas para cortes nas taxas.

Os membros do conselho também podem remover frases-chave da declaração, como a ameaça de retomar o ciclo de aperto se necessário, enquanto ainda comunicam que as perspectivas exigem atenção, avaliam Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, analistas do JPMorgan & Chase (JPM), em nota.

Preocupações bancárias

A perspectiva internacional estará na frente e no centro das atenções, já que os formuladores de políticas devem comentar sobre as crescentes incertezas econômicas no exterior.

Nas últimas semanas, o colapso de três bancos regionais nos Estados Unidos e a compra do Credit Suisse (CS) pelo UBS Group (UBS) abalaram os mercados globais. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que os impactos domésticos da emergência bancária foram “menos turbulentos” do que o esperado.

Em particular, a equipe econômica vê a crise bancária global como motivo suficiente para afrouxar a política monetária, em um momento em que a nova regra fiscal também deve abrir caminho para taxas mais baixas, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto que pediu anonimato porque as conversas não são públicas.

A crise global “parece ser uma situação de aversão ao risco”, disse Natalie Victal, economista da Sul Americana Investimentos DTVM. “Há uma necessidade de monitorar, caso isso contrarie o atual aperto global.”

Atividade Doméstica

Os analistas também revisarão os comentários do Banco Central sobre a atividade depois que o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu no final do ano passado.

De fato, os investidores esperam que a crise econômica do Brasil continue este ano.

-- Com a colaboração de Martha Beck

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