Bloomberg — Todos os olhos do mundo financeiro e econômico estarão focados nesta quarta-feira (22) no Federal Reserve, enquanto o presidente Jerome Powell tenta equilibrar sua luta contra a inflação enquanto lida com uma súbita crise bancária.
Powell e seus colegas do FOMC (o Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês) começaram a reunião na terça-feira (21) com o resultado incomumente incerto. Embora a maioria dos economistas espere um aumento de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros, alguns dizem que os formuladores de políticas monetárias devem fazer uma pausa para fortalecer a estabilidade financeira.
“Essa tensão está levando à angústia existencial”, disse Derek Tang, economista da LH Meyer/Monetary Policy Analytics em Washington. “Eles foram longe demais ou não o suficiente? As duas coisas podem ser verdadeiras ao mesmo tempo.”
Outro elemento importante da reunião desta semana: os formuladores de políticas devem emitir projeções de taxas atualizadas pela primeira vez desde dezembro, oferecendo orientações cruciais sobre se ainda esperam aumentos adicionais neste ano.
A decisão e as previsões serão divulgadas às 14h em Washington (15h de Brasília). Powell dará a tradicional entrevista coletiva de imprensa 30 minutos depois.
Probabilidades de mercado
Na tarde de terça-feira (21), os mercados precificavam cerca de 80% de chances de que o Fed aumentará as taxas em um quarto de ponto, para uma faixa de 4,75% a 5%, a maior desde 2007, às vésperas da crise financeira global.
Ainda assim, a incerteza sobre a decisão está entre as mais altas desde que a pandemia de Covid-19 provocou cortes emergenciais nas taxas nos primeiros meses de 2020.
As expectativas de aumentos de juros entre investidores e economistas diminuíram nas últimas duas semanas, em meio ao colapso de três bancos regionais dos EUA e à aquisição do Credit Suisse (CS) pelo UBS (UBS).
Até que a turbulência bancária estourasse, esperava-se que as autoridades do Fed continuassem - ou até mesmo intensificassem - sua campanha que já dura um ano para aumentar as taxas de juros e conter o aumento dos preços.
“O difícil para o FOMC nesta reunião será a tensão entre reduzir a inflação e os riscos de estabilidade financeira”, disse Jonathan Millar, economista sênior do Barclays Plc em Nova York.
O que a Bloomberg Economics diz:
“Não há opções fáceis. Uma pausa pode sinalizar que o Fed não está confiante na resiliência do sistema bancário ou da economia, ou vê problemas que ainda não são visíveis para o mercado. Por outro lado, um aumento pode aumentar o estresse bancário e assustar os investidores.”
Anna Wong, economista-chefe para os EUA
Previsão do FOMC
No início de março, Powell disse que comitê de política monetária poderia aumentar as taxas mais do que o esperado anteriormente, indicando que o “gráfico de pontos” poderia mover-se acima da mediana de 5,1% prevista pelas autoridades para o final de 2023. A restrição recente nas condições financeiras após a crise a crise bancária, se perdurar, sugere que há menos necessidade de ir mais alto.
“A dificuldade não é apenas o que está acontecendo nos mercados financeiros agora, mas também estimar até que ponto os bancos podem reduzir os empréstimos como resultado”, disse Sonia Meskin, chefe de US Macro do BNY Mellon.
Torsten Slok, economista-chefe da Apollo Global Management, estimou que a crise teve um efeito equivalente a um aumento de 1,5 ponto percentual na meta de taxa de juros do Fed.
O Fed poderia optar por suspender suas projeções como fez em março de 2020, quando Powell disse que “as perspectivas econômicas estão evoluindo diariamente” devido à pandemia e apontar uma previsão não parecia útil.
A divulgação das projeções agora “poderia apenas adicionar mais confusão do que clareza”, disse Diane Swonk, economista-chefe da KPMG LLP.
Declaração do FOMC
É provável que a declaração do FOMC tenha mudanças substanciais, e o comitê pode optar por abandonar sua promessa de “aumentos em andamento” e substituir por uma linguagem mais branda ou condicional que ainda insinue um maior aperto.
O Fed provavelmente também dirá que está “monitorando de perto os desenvolvimentos nos mercados financeiros e suas implicações para as perspectivas econômicas”, disse Millar.
Dissidentes
Com o FOMC enfrentando escolhas difíceis, o julgamento sobre os juros nesta quarta pode gerar divergências, o que tem sido raro nos últimos dois anos. Uma possível dissidência dovish pode vir do presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, enquanto Neel Kashkari, presidente do Fed de Minneapolis, poderia argumentar a favor de um movimento mais hawkish (rigoroso).
Atenção ao balanço patrimonial
O balanço patrimonial do Fed, que vinha diminuindo constantemente com as reduções graduais do banco central de compras de títulos do Tesouro e outros lastreados em hipotecas, se recuperou para quase US$ 8,6 trilhões com as últimas medidas de emergência para sustentar o sistema bancário.
Mesmo assim, o FOMC vê o chamado aperto quantitativo como um assunto separado que acontece em segundo plano e isso provavelmente continuará sem mudanças, disseram economistas.
“Espero que o aperto quantitativo continue”, disse o ex-presidente do Fed de Nova York Bill Dudley, consultor sênior da Bloomberg Economics, em entrevista à Bloomberg Television.
Conferência de imprensa
É provável que Powell seja questionado sobre como a última turbulência afeta as condições financeiras e as perspectivas econômicas e se ele vê um caminho para reduzir a inflação sem causar uma recessão.
Seu trabalho é “separar claramente a questão da instabilidade financeira e as medidas tomadas para resolvê-la do problema da inflação e da economia forte”, disse Ellen Meade, professora de economia da Duke University e ex-funcionária sênior do Fed.
Ele também certamente receberá perguntas difíceis sobre por que os supervisores do Fed de São Francisco falharam em detectar ou evitar problemas no Silicon Valley Bank, que sofreu perdas em títulos quando as taxas de juros subiram. A senadora Elizabeth Warren criticou Powell por “uma lista surpreendente de fracassos” que, segundo ela, ajudou a alimentar a crise atual.
- Com a colaboração de Catarina Saraiva, Jonnelle Marte e Rich Miller.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Novas linhas do Fed podem fornecer até US$ 2 tri ao mercado, estima JPMorgan
Os escândalos e a desconfiança que acabaram com o Credit Suisse após 166 anos