Divulgação de nomes para diretorias do Banco Central gera desconforto no governo

Rodolfo Froes, ex-conselheiro do Fator, e Rodrigo Monteiro, funcionário do BC, foram indicados para as diretorias de Política Monetária e de Fiscalização, mas Lula ainda avalia nomes

Lula da Silva
Por Martha Beck - Maria Eloisa Capurro - Simone Iglesias
22 de Março, 2023 | 04:06 PM

Bloomberg — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estuda os nomes de um ex-executivo de banco e um funcionário de carreira do Banco Central para preencher duas vagas na diretoria da autoridade monetária, embora a divulgação de seus nomes pela imprensa tenha deixado as indicações incertas.

Rodolfo Froes, ex-membro do conselho do Banco Fator que virou investidor em startups, pode ser escolhido para assumir o cargo-chave de diretor de Política Monetária, substituindo Bruno Serra, cujo mandato expirou no mês passado, segundo uma pessoa com conhecimento da decisão ouvida pela Bloomberg News. Ele é próximo do secretário-executivo Gabriel Galípolo, que presidia o Fator antes de ingressar no governo.

Rodrigo Monteiro, que atualmente supervisiona cooperativas de crédito e instituições não bancárias no Banco Central, deve ser anunciado como diretor de Fiscalização, acrescentou a pessoa, pedindo anonimato porque a decisão não foi anunciada oficialmente.

No entanto, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse em sua conta de Twitter após as reportagens que qualquer nome para o BC agora é “especulação”. Um funcionário do governo com conhecimento da discussão explicou posteriormente que os comentários de Padilha refletem um desconforto do governo com o vazamento dos nomes, o que pode levar Lula a repensar o assunto.

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O porta-voz do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que sugeriu os nomes a Lula, não quis comentar.

Se indicados por Lula, Froes e Monteiro precisam ser aprovados pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado antes de iniciarem seus mandatos de quatro anos. A lei de autonomia do Banco Central estabelece que, durante seus mandatos, nenhum conselheiro pode ser demitido sem autorização de senadores e em circunstâncias extremas. Seus nomes já haviam sido noticiados anteriormente pelo jornal O Globo.

As escolhas de Lula para o Banco Central passaram a preocupar os investidores desde que o presidente e membros do Partido dos Trabalhadores começaram a criticar abertamente a autoridade monetária e seu chefe Roberto Campos Neto por manter as taxas de juros em 13,75%, o maior nível em seis anos. O presidente disse que a taxa Selic no nível atual é “absurda” e um impedimento ao crescimento.

Alguns investidores mostraram-se cautelosamente otimistas sobre as escolhas, destacando que Froes tem alguma experiência de mercado, apesar do nome pouco conhecido.

“O diretor de Política Monetária eu não conheço de nome”, disse Patrícia Urbano, gestora de fundos na Edmond de Rothschild. “Parece ter experiência de mercado, então diria que embora alinhado com o governo, pode ser alguém moderado.”

Três ex-membros do conselho do Banco Central também disseram não conhecer Froes. Ainda que, Tony Volpon, ex-diretor do BC que trabalhou com Froes no Bank of America duas décadas atrás, tenha dito que Froes conhece bem os mercados financeiros. “Será excelente diretor”, disse.

Decisão sobre juros

Froes e Monteiro não participam da reunião do Banco Central que definirá as taxas de juros ainda nesta quarta-feira. O Copom, que anunciará a decisão após o fechamento dos mercados, deve manter a taxa Selic em seu nível atual, apesar da crescente pressão política para mudança de rumo.

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O comitê pode sinalizar, no entanto, que o início de um ciclo de flexibilização monetária está próximo, à medida que o governo busca aprovação de nova regra fiscal que pode apaziguar os temores dos investidores de gastos públicos excessivos. A economia brasileira está perdendo força, pressionada por altas taxas de juros, e há preocupação com os efeitos em cascata da crise bancária americana sobre o crédito às empresas brasileiras.

-- Com a colaboração de Patricia Xavier.

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