Bloomberg — O Copom deve suavizar alguns pontos do seu comunicado diante da turbulência financeira global e dos receios internos com a economia, segundo analistas do mercado.
A indefinição sobre o novo arcabouço fiscal, entretanto, impede as chances de uma sinalização de corte da Selic para a reunião seguinte, em maio — a curva de juros teve forte alívio recente e precifica chance marginal de início do ciclo de alívio no próximo encontro. Da mesma forma, as apostas para o Fomc, que decide sobre os juros nos Estados Unidos horas antes, também recuaram e apontam para alta de 0,25 pp, em vez de 0,50pp previsto antes da recente crise dos bancos.
Os riscos de desaceleração global da economia, a partir dos problemas dos bancos nos EUA e do Credit Suisse, a queda dos preços das commodities e os temores com o mercado de crédito local, depois da derrocada da Americanas, são os fatores que podem levar o Banco Central a amenizar o tom.
Dois pontos do comunicado serão especialmente observados para eventuais mudanças. No balanço de riscos, o BC pode dar mais ênfase à chance de baixa da inflação. Atualmente, o Copom diz que “permanecem fatores de risco em ambas as direções”.
Além disso, poderia ser retirado o trecho do comunicado que aponta possível retomada da alta da Selic caso não haja convergência da inflação para a meta.
A visão positiva sobre estes pontos, porém, não é consensual. Economistas apontam a desancoragem das expectativas como fator que pode manter o BC mais cauteloso, além da incerteza com a tramitação da regra fiscal no Congresso. A alta recente do dólar também vai nessa direção.
A expectativa entre os economistas é de que a Selic será mantida em 13,75% na quarta-feira. Na B3, as opções para maio indicam 12% de chance de uma redução de 0,25 ponto percentual e 19% de probabilidade de corte de 0,50pp. Veja o que dizem os analistas:
Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco
- Call não mudou após eventos recentes, mas o banco acredita que o BC deverá incorporar os temas bancários globais em seu balanço de riscos para a atividade e commodities
- Espera Selic no fim do ano em 12,25%, com cortes a partir de agosto
Cassiana Fernandez, Vinicius Moreira, economistas do JPMorgan
- Como os eventos domésticos e globais sobre crédito, crescimento do PIB e inflação seguem se desenvolvendo, BC deve comunicar que o cenário ainda exige atenção
- No entanto, deve remover a ameaça, vista nos recentes documentos, de retomar o ciclo de alta e deve sinalizar um balanço de riscos mais equilibrado nos meses seguintes
Alberto Ramos, economista para América Latina do Goldman Sachs
- Existem muitos "bons motivos" para o Copom permanecer conservador no curto prazo e a pressão política por corte de juros costuma ser contraproducente
- Parece "bastante provável" que o governo não consiga divulgar nova regra fiscal antes da reunião do BC
- Importância do anúncio do arcabouço tem sido "superestimada" à medida que o Copom costuma reagir apenas à legislação aprovada, e não a propostas
Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú
- Copom deve reforçar a sinalização de manutenção da postura vigilante da política monetária e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado, devendo também sinalizar que ainda vê riscos simétricos para a inflação
- Projeções de inflação do Copom no cenário de referência devem avançar em todo o horizonte relevante
Gustavo Pessoa, sócio e gestor da Legacy Capital
- BC deve ser bem cauteloso em sinalização futura, sem apontar cortes ainda
- Copom "deve mostrar maior preocupação com crescimento e restrição de crédito na economia"
Adriana Dupita, da Bloomberg Economics
- "Esperamos um comunicado um pouco mais dovish, com o BC reconhecendo os riscos de uma crise financeira global e desaceleração doméstica"
- BC pode reconhecer menor incerteza fiscal se proposta do arcabouço sair antes da reunião
Bruno Carvalho, gestor de renda fixa da Asset 1
- Postura do BC pode ser mais dovish com alteração na caracterização do balanço de riscos
- "Ele vai ter que considerar a situação do mercado de crédito, isso muito provavelmente vem"
- "Claro que tem muitos outros fatores que influenciam a decisão de iniciar um ciclo de cortes ou não mas, neste momento, o novo arcabouço fiscal me parece condição necessária"
Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest
- "Não tem muito clima para o BC mudar o tom nesse Copom"
- Há contínua desancoragem das expectativas, incluindo nos prazos longos, mostrando que há riscos estruturais com o risco de uma política monetária de menor potência e a taxa de juros neutra mais alta
Rodolfo Margato, economista da XP
- Não deve haver uma sinalização clara de quando poderia começar um ciclo de afrouxamento de juros já nesta reunião
- Dificilmente o Copom vai trazer uma sinalização ou uma garantia de convergência da dívida publica, porque ainda tem todo o processo de tramitação do arcabouço no Congresso
- Por outro lado, o Copom pode citar algo, como medidas propostas na direção correta
Sergio Zanini, sócio e gestor da Galapagos Capital
- "Eu acho que no mínimo sinaliza que estamos mais perto de começar a cortar. Especialmente se for apresentado o arcabouço fiscal"
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