Gestores veem crise sistêmica de crédito como maior risco atual, mostra pesquisa

Levantamento do BofA com gestores mostra que a inflação perdeu o lugar no topo das preocupações para dar espaço a um evento de crédito sistêmico

Um evento de crédito foi citado por 31% dos participantes da pesquisa como a maior ameaça
Por Farah Elbahrawy
21 de Março, 2023 | 03:27 PM
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Bloomberg — Na visão de investidores cada vez mais pessimistas, um evento de crédito sistêmico substituiu a inflação persistente como o principal risco para os mercados, segundo a mais recente pesquisa global do Bank of America (BAC) com gestores de fundos.

A fonte mais provável de um evento de crédito é o sistema bancário paralelo dos Estados Unidos, seguido por dívida corporativa americana e mercados imobiliários de países desenvolvidos, de acordo com a pesquisa, que consultou 212 gestores com US$ 548 bilhões sob gestão.

Um evento de crédito foi citado por 31% dos participantes como a maior ameaça.

O levantamento foi realizado entre os dias 10 e 16 de março, quando gestores de recursos testemunhavam o colapso dos bancos americanos Silicon Valley Bank e Signature Bank e monitoravam a turbulência no Credit Suisse (CS), antes de sua aquisição histórica pelo UBS (UBS).

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O índice S&P 500 tem se mostrado bastante resiliente, com queda inferior a 1% este mês, pois investidores esperam que os esforços do Federal Reserve para garantir a liquidez serão suficientes para evitar uma crise.

Mas os estrategistas estão cada vez mais preocupados. Michael Wilson, do Morgan Stanley (MS), diz que o risco de uma crise de crédito aumentou significativamente.

O S&P 500 pode atingir um piso em 3.800 pontos, mas investidores devem vender em qualquer rali se o índice de referência atingir 4.100 a 4.200, disse Michael Hartnett, do BofA, em nota nesta terça-feira (21). O S&P 500 fechou a segunda-feira (20) em cerca de 3.952 pontos.

Além disso, a pesquisa mostrou que a percepção do investidor está “próxima dos níveis de pessimismo vistos nas mínimas dos últimos 20 anos”, escreveu Hartnett, que estava certo ao adotar uma visão baixista no ano passado, quando alertou que os temores de recessão incentivariam um êxodo da renda variável.

O posicionamento e a percepção de investidores na pesquisa com gestores são “as únicas medidas-chave no território da ‘capitulação’ até agora”.

Além dos riscos de crédito, investidores estão cada vez mais preocupados com a economia. A probabilidade de uma recessão subiu pela primeira vez desde novembro: a pesquisa do BofA mostrou que 42% dos participantes esperam uma desaceleração nos próximos 12 meses.

Enquanto isso, as expectativas de estagflação permanecem acima de 80% há 10 meses consecutivos. Na série histórica do levantamento, “os investidores nunca tiveram uma convicção tão forte sobre o cenário econômico”, escreveu Hartnett.

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Investidores veem 0,75 ponto percentual de aumentos de juros pelo Federal Reserve neste ciclo, com taxas entre 5,25% e 5,5%. Quase 25% dos consultados esperam que o Banco Central Europeu (BCE) eleve sua taxa de depósito em mais 0,5 ponto percentual.

A rotação de ações dos EUA para a Europa se acelerou este mês: o posicionamento “overweight” (acima da média do mercado, equivalente a compra) de gestores de fundos na Europa atingiu o maior nível em relação aos EUA desde outubro de 2017.

A maioria das estratégias com maior demanda tem foco em posições compradas (aposta na alta) em ações na Europa, compradas em dólar e compradas em ações chinesas.

Os participantes agora têm posicionamento “underweight” (abaixo da média do mercado, equilavente a venda) no setor bancário em meio aos riscos de contágio dos bancos regionais dos EUA, o que levou investidores a sairem do segmento no ritmo mais rápido desde a invasão da Ucrânia pela Rússia.

-- Com a colaboração de Michael Msika.

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