Coinbase elege o Brasil como um dos principais mercados em expansão global

Exchange americana listada na Nasdaq chega ao país com plataforma própria, em vez de parcerias, e enfrentará Binance, Mercado Bitcoin, BTG Pactual, XP e outros

Pelo novo acordo, os usuários brasileiros da Coinbase podem transferir reais para a exchange de criptomoedas por meio de Pix
21 de Março, 2023 | 08:21 AM

Bloomberg Línea — A competição pelo mercado de criptomoedas no país vai ficar mais acirrada. A exchange de criptomoedas americana Coinbase (COIN), listada na Nasdaq e uma das maiores do mundo, entra no mercado brasileiro com uma nova plataforma para investidores do país com suporte específico em português e pagamentos em reais por meio de uma parceria com o unicórnio brasileiro Ebanx.

A Coinbase vai enfrentar gigantes como a Binance, players locais dedicados como o Mercado Bitcoin e corretoras e fintechs brasileiras com operações de criptos, como BTG Pactual (BPAC11), Mercado Livre (MELI), XP (XP) e Nubank (NU), entre outras.

Pelo acordo, os usuários brasileiros da Coinbase podem transferir reais para a exchange de criptomoedas por meio de Pix, disse Nana Murugesan, vice-presidente de desenvolvimento de negócios e internacional da Coinbase, em entrevista à Bloomberg Línea.

O lançamento no Brasil segue o programa de expansão internacional de oito semanas que a Coinbase vem realizando desde a semana passada, quando anunciou uma parceria com o banco Standard Chartered para uma plataforma localizada em Cingapura.

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Murugesan disse que as estratégias da Coinbase para expansão global têm uma iniciativa “vá fundo” e “espalhe”. O “vá fundo” reúne no máximo 10 mercados, incluindo o Brasil. A Coinbase já se expandiu para o Reino Unido, alguns países europeus, Austrália, Cingapura e agora o Brasil. O “vá fundo” é uma estratégia específica por país. Já o “espalhe” é sem fronteiras.

“Não podemos fazer investimentos em todos os países ao mesmo tempo, então nos aprofundamos em alguns países à medida que expandimos. Há muitas coisas que temos feito como parte da expansão, uma delas é a carteira da Coinbase. É sem fronteiras. Da mesma forma, temos algumas coisas que estão em andamento como parte de nossa estratégia de expansão. E nosso objetivo é trazer a Coinbase para o mundo maximizando nossa cobertura global.”

A Bloomberg News informou na segunda-feira (20) que clientes institucionais da Coinbase foram contatados pela empresa sobre planos de potencialmente estabelecer uma nova plataforma de negociação de criptomoedas no exterior, de acordo com três pessoas com conhecimento do assunto. Sobre isso, Murugesan disse que não há nada específico para anunciar, mas há “várias coisas em andamento”.

Enquanto em 2022 a Coinbase estava em negociações para adquirir o Mercado Bitcoin, unicórnio apoiado pelo SoftBank, que passou por 190 demissões no ano passado em uma tentativa de cortar custos devido ao ambiente macroeconômico, a empresa decidiu expandir “por conta própria”.

“Estamos sempre pensando em estratégias orgânicas e inorgânicas de expansão. A marca Coinbase, especialmente hoje, está associada à confiança e conformidade, e também sendo uma empresa de capital aberto com auditorias trimestrais de um Big Four como a Deloitte; essas são coisas com as quais as pessoas realmente se preocupam muito agora”, disse Murugesan.

Embora tenha optado por um lançamento orgânico no Brasil, a empresa afirma que está aberta para investimentos de risco por meio de seu braço de VC, o Coinbase Ventures, além de aquisições.

A Coinbase Ventures já investiu na Hashdex no Brasil, uma empresa de gerenciamento de criptoativos, na Bitso, um unicórnio de exchange cripto no México, Argentina e Brasil, e na Ledn, uma plataforma de serviços financeiros baseada em cripto.

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“Algumas semanas atrás, adquirimos uma empresa de gestão de ativos. Estamos sempre em busca de aquisições que fazem sentido, mas sentimos que neste momento a marca Coinbase é o que os brasileiros estão procurando”, disse. “No entanto, as parcerias serão muito importantes, pois nos ajudam a trazer experiências mais localizadas.”

Além do Ebanx, Murugesan afirma que a Coinbase também está em negociações para parcerias com bancos no Brasil. “Leva tempo, obviamente”, disse ele, acrescentando que a exchange de criptomoedas tem uma abordagem de portfólio com vários bancos “em vez de apenas alguns”.

Com passagens por Uber e PicPay, Fabio Plein assumiu a função de country manager para o Brasil em meados de 2022 e agora é diretor regional das Américas da Coinbase.

“A Coinbase tem 110 milhões de usuários e pretendemos atingir pelo menos 1 bilhão de pessoas. Para alcançar esse objetivo, o Brasil é um mercado importante para nós, porque tem uma grande população, e o Brasil é um dos melhores países no índice de adoção de criptomoedas, o que ilustra a oportunidade que vemos aqui”, disse Plein.

No Brasil, a Coinbase disponibilizará inicialmente sua exchange, um marketplace de NFT e uma carteira, mas pretende lançar outros produtos posteriormente. A empresa não descarta trazer um cartão de débito como tem nos EUA sob a bandeira Visa.

Crise bancária

De acordo com a Coinbase, a empresa não tinha fundos nos bancos americanos Silvergate e Signature, que foram fechados pelo FDIC (equivalente ao Fundo Garantidor de Crédito brasileiro) nas últimas semanas. A empresa disse que não alavanca investimentos em cripto com outros produtos.

“Todos os ativos de nossos clientes são respaldados na proporção de 1-1 em depósitos. Por isso que a Coinbase está bem em meio ao inverno, principalmente por causa da abordagem de portfólio que adotamos.”

Embora seja um mercado em baixa com ventos contrários para cripto, Murugesan diz que o momento para a expansão global é bom, e a turbulência financeira no setor financeiro dos EUA pode levar as pessoas a diversificarem olhando para cripto. “É uma área em que acredito que haverá uma quantidade enorme de confiança”, disse.

“O Brasil está em uma posição muito interessante porque estará no G-20 ainda este ano e cripto é uma grande parte da agenda de inovação do grupo. Portanto, ao termos uma equipe local no Brasil, bem como nos envolver com associações locais, com formuladores de políticas e com o governo mostra uma grande aposta de trabalhar com o Brasil para moldar a agenda global”, disse o executivo.

A exchange de criptomoedas dos EUA disse que também está conversando ativamente com os reguladores brasileiros, além do presidente do Banco Central, e acompanhando de perto a agenda do Brasil em relação à inovação e cripto, com visitas recentes a Brasília.

A Coinbase começou a operar no Brasil no final de 2021 contratando engenheiros para desenvolver tecnologias cripto e Web 3.0 para o Brasil e outros países. Esses engenheiros estão espalhados pelo Brasil, já que a Coinbase tem uma política de trabalho remoto.

A empresa está contratando apenas para cargos-chave, já que também está buscando reduzir gastos com pessoal.

-- Com a colaboração de Ana Carolina Siedschlag.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups