Bloomberg Línea — A primeira versão do plano de reestruturação da Americanas (AMER3), apresentado à Justiça na segunda-feira (20), propõe pagar aos credores em março de 2043 apenas 20% do valor da dívida, ou seja, um desconto de 80%, caso tenham ações judiciais contra a companhia. A varejista espera uma redução da sua dívida de quase R$ 43 bilhões para R$ 4,9 bilhões. A proposta precisa ser votada e aprovada pelos credores, em assembleia ainda sem data definida.
“Modalidade de pagamento geral: os saldos remanescentes serão reduzidos no percentual de 80% e pagos em apenas uma parcela, no mês de março de 2043, nos termos do Plano de Recuperação Judicial”, diz o fato relevante divulgado pela companhia na manhã desta terça-feira (21).
A proposta de pagamento apresentada é composta de aporte de R$ 10 bilhões em novos recursos, conversão equivalente de dívida em capital em até R$ 10 bilhões, venda de ativos (como o Hortifruti Natural da Terra, a participação no Grupo UniCo, dono das marcas Imaginarium, Puket e Love Brands; e a aeronave da companhia) e reestruturação da dívida remanescente entre recompra e repactuação.
@bloomberglineabrasil Plano de reestruturação da dívida da Americanas exige desistência de ações judiciais para credores terem opções com descontos e recebimento mais rápido #americanas #tiktoknoticias ♬ Cooking Time - Lux-Inspira
No caso dos bancos credores, a Americanas prevê a recompra de dívida por parte da companhia, por meio de leilão reverso e também compra direta, além da conversão de dívidas financeiras, parte em capital e parte em dívidas repactuadas.
“A companhia utilizará até R$ 2 bilhões dos recursos provenientes das alienações de ativos, para maximizar a redução de sua dívida remanescente, sendo o primeiro R$ 1 bilhão levantado destinado à recompra de dívida a mercado e o saldo de recursos levantados, limitados a R$ 1 bilhão, para recompra de dívida subordinada. Com isso, a companhia pretende reduzir seu endividamento a mercado, pós reestruturação, para R$ 4,9 bilhões”, cita o fato relevante.
Ações judiciais
O desconto de 80% é proposto aos credores que não se comprometerem a desistir de processos contra a companhia. Atualmente, os principais bancos do país travam batalhas judiciais para reaver recursos emprestados à Americanas.
Aos fornecedores, a Americanas propõe pagar integralmente aos credores com créditos de até R$ 12 mil em até 30 dias contados da data da homologação do plano.
Esse mesmo prazo é dado aos credores fornecedores com créditos superiores a R$ 12 mil e que aceitarem receber R$ 12 mil em troca da quitação total de seus créditos.
Para quem tem crédito acima de R$ 12 mil e rejeitar receber apenas esse valor, serão pagos em 48 parcelas mensais iguais, após aplicação de deságio de 50%.
Já os credores das classes 1 e 4 (de natureza trabalhista e micro e pequenas empresas) já foram excluídos da recuperação judicial conforme decisão anterior, pendente de resposta a recurso impetrado por alguns credores para pagamento do saldo residual, informou a Americanas.
Leilão reverso
Os bancos credores só poderão participar do leilão reverso se retirarem as ações judiciais contra a companhia. A proposta indica um “desconto não inferior a 70%” do crédito.
Outra opção oferecida pela varejista, além do leilão reverso, é participar do aumento de capital no valor de R$ 10 bilhões, de uma recompra de créditos de até R$ 2,3 bilhões com desconto de 60% sobre o valor de face, e uma emissão de R$ 5,9 bilhões em debêntures simples.
Há ainda a opção de reestruturação da dívida subordinada, em que a companhia emitirá debêntures conversíveis em ações.
Discussões com credores
“O plano de recuperação apresentado é consistente e já conta, na largada, com R$ 1 bilhão dos acionistas de referência, por meio do financiamento DIP já realizado”, disse Camille Faria, CFO da Americanas, em comunicado à imprensa.
A executiva acrescentou que segue “em discussões construtivas” com cada grupo de credores para chegar a um denominador comum.
“A proposta de capitalização com novos recursos e a conversão de dívida de grandes bancos credores, o pagamento de credores colaboradores sem “haircut” e um “recovery” médio acima de 50% para credores financeiros complementam o plano e lhe conferem a característica de ser um dos mais equilibrados do mercado já na partida”, disse a CFO.
A partir desta terça-feira, todos os credores poderão enviar notificações, requerimentos, pedidos e outras comunicações a respeito do plano, informou a varejista, que entrou em processo de recuperação judicial no dia 19 de janeiro, após revelar um rombo de R$ 20 bilhões em sua contabilidade, ocorrência descrita pelos bancos credores como uma “fraude”.
Leia também
Corte da Selic ganha força com exterior, mas é improvável com Fed ativo, diz BTG