Bloomberg Opinion — As autoridades suíças forçaram problemas inesperados a duas fontes vitais de capital para o sistema bancário. Os detentores dos chamados títulos AT1 do Credit Suisse (CS) perderam tudo no casamento arranjado do banco com o UBS Group (UBS). Os acionistas do banco comprador conseguiram um acordo massivo, indesejado e arriscado. Será que tudo foi por água abaixo? Ainda não.
A decisão do órgão regulador bancário suíço de anular os títulos AT1 enquanto os acionistas do Credit Suisse conseguiram embolsar a oferta de aquisição do UBS foi um choque, mas não parece ser uma violação dos termos dos valores mobiliários. Os investidores tiveram uma rápida aula sobre como é necessário se informar bem, e o mercado será mais perspicaz a partir de agora.
Do lado do UBS, a queixa é que os acionistas não terão direito a voto em um negócio. Bem, o preço – ações do UBS no valor de US$ 3,2 bilhões – é baixo em relação ao valor de mercado do banco comprador de US$ 64 bilhões. Mas essa ainda é uma transação gigantesca considerando o tamanho do balanço patrimonial do Credit Suisse e os riscos potenciais envolvidos.
No entanto, reclamar sobre a votação não é algo prático. O negócio não existiria em primeiro lugar se estivesse condicionado à aprovação dos acionistas: acrescentar esse tipo de incerteza teria derrotado o propósito da transação como um resgate quase certo que ajuda a estabilizar o sistema bancário.
O conselho do UBS poderia ter sido categoricamente contrário às medidas do banco central e do órgão regulador financeiro de combinar o banco com seu rival em dificuldades? O Credit Suisse teria então enfrentado a nacionalização e isso teria causado um novo choque para o setor bancário. O UBS receberia a culpa por agravar uma situação ruim e teria sofrido terríveis danos colaterais. No estado atual das coisas, suas ações acabaram subindo ligeiramente no pregão europeu desta segunda-feira (20).
Também vale a pena lembrar que o UBS recebeu um resgate na última crise financeira. Mais cedo ou mais tarde, é hora de retribuir.
Realisticamente, as opções da administração do UBS limitavam-se a negociar proteções contra a aquisição que não correu bem no futuro. As proteções obtidas são bastante substanciais – o preço relativo ao valor contábil de US$48,5 bilhões do Credit Suisse; o capital levantado pela extinção da dívida AT1; e indenizações totais e parciais por perdas acima de determinados níveis.
Se os acionistas ainda acreditarem que a administração do UBS fez um trabalho ruim considerando as circunstâncias, eles terão a oportunidade de fazer ouvir sua voz na assembleia ordinária que se aproxima. Mas é difícil ver como deixar de fazer um acordo foi uma opção realista. Três limites foram cruzados para isso – a remoção dos votos dos acionistas de ambos os lados, a eliminação dos títulos e a suspensão de uma investigação nacional antitruste. No entanto, não haveria nenhum valor em preservá-los apenas para desencadear o caos.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Chris Hughes é colunista da Bloomberg Opinion e cobre negócios. Trabalhou anteriormente para a Reuters Breakingviews, bem como para o Financial Times e o jornal Independent.
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