Bloomberg — O estrategista-chefe para ações e CIO (Chief Investment Officer) do Morgan Stanley (MS), Michael Wilson, disse que o estresse no sistema bancário marca o que provavelmente será o início de um fim doloroso e “vicioso” para o mercado de baixa das ações dos Estados Unidos.
“Com o bloqueio dos depósitos bancários pelo Fed/FDIC, muitos investidores em ações estão se perguntando se essa é outra forma de afrouxamento monetário e, portanto, apetite ao risco”, disse o estrategista, que previu corretamente o sell off das ações no ano passado e a recuperação em outubro.
“Achamos que não e, em vez disso, representa o começo do fim do mercado em baixa, já que a queda na disponibilidade de crédito pressiona o crescimento da economia.”
O índice S&P 500 permanecerá pouco atrativo até que o prêmio de risco das ações suba para 400 pontos-base do nível atual de 230, de acordo com Wilson, que é conhecido por ser um dos estrategistas mais pessimistas (ou realistas) de Wall Street.
“A última parte da baixa pode ser cruel e altamente correlacionada”, disse ele. “Os preços caem acentuadamente por meio de um aumento no prêmio de risco das ações que é muito difícil de prevenir ou defender no portfólio de alguém.”
O colapso do Silicon Valley Bank e a liquidação das ações do Credit Suisse (CS) alimentaram preocupações sobre a saúde do sistema financeiro global neste mês, agitando os mercados.
Os futuros de ações dos EUA caem nesta segunda-feira (20) depois que o acordo do UBS para comprar o Credit Suisse e os movimentos de bancos centrais para aumentar a liquidez do dólar não conseguiram acalmar as preocupações dos investidores sobre a saúde do sistema bancário global.
Deterioração das perspectivas de crescimento
“É exatamente assim que os mercados de baixa terminam – um catalisador imprevisto, que é óbvio em retrospectiva e força os participantes do mercado a reconhecer o que estava bem na frente deles o tempo todo”, escreveu Wilson, em relatório.
A atual turbulência no sistema bancário deve levar os investidores a se concentrarem na deterioração das perspectivas de crescimento em meio a condições de crédito restritivas, de acordo com Wilson.
“Os eventos da semana passada significam que a disponibilidade de crédito está diminuindo para uma ampla faixa da economia, o que pode ser o catalisador que finalmente convence os participantes do mercado de que as estimativas de ganhos são muito altas”, escreveu ele, acrescentando que o risco de uma crise de crédito aumentou materialmente.
O estrategista espera que os analistas reduzam as expectativas à medida que a temporada de relatórios corporativos do primeiro trimestre se aproxima, enquanto as empresas se preparam para reduzir o guidance (perspectivas futuras) de maneira notável, disse ele.
Ele recomenda o posicionamento em setores e ações defensivos e de baixo beta (volatilidade), ao mesmo tempo em que adverte contra a visão de que as ações de tecnologia de mega capitalização são imunes a preocupações com o crescimento.
Wilson não está sozinho em prever um período difícil para os mercados. Os estrategistas do JPMorgan (JPM) liderados por Mislav Matejka disseram que a curva de rendimento invertida será “provada certa”, sinalizando uma recessão à frente.
O primeiro trimestre provavelmente será o ponto alto para as ações este ano, escreveu ele em nota, acrescentando que as ações não atingirão pontos mínimos até que o Fed mude para cortes nas taxas.
-- Com a colaboração de Michael Msika e Sagarika Jaisinghani.
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