Bloomberg — Apesar de todo o foco sobre uma possível pausa no ciclo de aumentos dos juros do Federal Reserve, há outra decisão crítica que certamente chamará muita atenção na quarta-feira (22): o que o banco central dos Estados Unidos faz com sua enorme pilha de títulos.
A turbulência no setor bancário, que dá sinais de se aprofundar, combinada com um aumento nas pressões de financiamento, deixou os mercados financeiros muito sintonizados com o que o Fed dirá sobre seu balanço de US$ 8,6 trilhões.
Até este mês, o estoque vinha diminuindo como parte dos esforços do Fed para colocá-lo nos níveis pré-pandemia. Mas agora começou a se expandir novamente, à medida que o Fed atua para fortalecer o sistema bancário por meio de uma série de programas de empréstimos de emergência.
Seu último passo foi dado no domingo (19), quando se uniu a outros bancos centrais para aumentar a liquidez em dólares.
Alguns dizem que a preocupação com a estabilidade financeira pode levar as autoridades monetárias a desacelerarem a redução de sua carteira de títulos, um processo conhecido como aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês), pensado para drenar as reservas do sistema.
Ainda assim, outros argumentam que, mesmo que o Fed pare de elevar os juros, com o objetivo geral do banco central de domar a inflação, é improvável que a instituição sinalize qualquer mudança nesta semana nos esforços para reduzir as posições em Treasuries e dívidas lastreadas em hipotecas.
A única exceção, observam, seria se o estresse no setor bancário se tornasse muito mais grave.
A decisão do banco central americano de apoiar os bancos dos EUA “expande claramente o balanço patrimonial do Fed”, disse Subadra Rajappa, chefe de estratégia de juros dos EUA no Société Générale.
Se o uso das linhas de liquidez do Fed for “pequeno e contido, provavelmente continuarão com o QT, mas se a aceitação for grande, podem parar, pois isso vai começar a levantar preocupações sobre a escassez de reservas”.
O destino da carteira do Fed é objeto de debate depois que o colapso de vários bancos americanos levou a autoridade monetária a disponibilizar um novo suporte de emergência, conhecido como Programa de Financiamento a Prazo de Bancos, anunciado em 12 de março.
Na semana encerrada em 15 de março, bancos tomaram emprestados US$ 153 bilhões da janela de desconto do Fed – tradicional suporte de liquidez de instituições financeiras –, mostram dados do BC americano, uma máxima que eclipsou o recorde anterior estabelecido durante a crise financeira de 2008. Também acessaram o novo programa em US$ 11,9 bilhões.
Os vários programas de liquidez do banco central dos EUA acrescentaram cerca de US$ 300 bilhões ao balanço do Fed na semana passada, revertendo cerca da metade da redução obtida pela instituição desde quando começou a enxugar a carteira de títulos em junho passado.
Mas alguns economistas dizem que os dois programas podem funcionar em conjunto, com as medidas para o setor bancário focadas na estabilidade financeira, e o QT como uma parte constante do plano do Fed de retirar o apoio fornecido durante a pandemia.
“Supõe-se que o QE (flexibilização quantitativa) opere em uma base muito mais ampla, reduzindo o custo de financiamento para consumidores e empresas, enquanto essa linha especial é direcionada muito estritamente aos bancos que têm problemas para obter dinheiro no curto prazo”, disse Darrell Duffie, professor de finanças da Universidade Stanford.
Mesmo antes da falência dos três bancos neste mês, já havia sinais de que algumas instituições precisavam acessar os mercados de financiamento de atacado para substituir as saídas de depósitos, devido às transferências de clientes para alternativas de maior rendimento à medida que o Fed subia os juros.
Os adiantamentos totais do programa “Federal Home Loan Banks” (FHLBs) aos membros já tinham mais do que dobrado, para US$ 819 bilhões no ano passado.
E até que o FHLBs aumentasse a emissão na semana passada para apoiar as instituições do programa, os volumes no mercado de fundos federais – onde o FHLBs é o maior credor de dinheiro overnight – atingiram os maiores níveis em sete anos em meio à maior necessidade de financiamento dos bancos.
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