Bloomberg Línea — Depois de dois meses em recuperação judicial (RJ), a Americanas (AMER3) deve apresentar a primeira versão do plano de reestruturação nesta semana, possivelmente nesta segunda-feira (20), com as medidas propostas para reforçar a sua estrutura de capital. É justamente o vencimento do prazo legal de 60 dias, a contar da data da aprovação da recuperação pela Justiça (19 de janeiro).
O plano a ser apresentado, no entanto, não será a versão definitiva, dado que a empresa e seus principais acionistas, o trio de bilionários formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, ainda negociam um acordo com os principais credores, que são alguns dos maiores bancos do país, disse uma pessoa a par do assunto à Bloomberg Línea.
O plano deve indicar como deverá será a gestão de passivos, a injeção de capital e a venda de ativos.
O trio de acionistas de referência da empresa propôs aporte de R$ 10 bilhões, mas os bancos credores só aceitam fechar um acordo com uma injeção de capital na casa dos R$ 12 bilhões, como noticiou a Bloomberg News na última quarta-feira (15).
Neste domingo (19), uma nota publicada pelo site do jornal O Globo disse, sem citar a fonte, que o trio de bilionários já teria sinalizado aos bancos a intenção de elevar sua proposta para um valor acima de R$ 10 bilhões. A Americanas não comenta oficialmente o assunto.
Na B3, a ação da Americanas acumula desvalorização da ordem de 89% neste ano, até a última sexta-feira (16), quando o papel terminou cotado a R$ 1,04 (-0,95% na sessão). Em 52 semanas, o papel AMER oscilou entre uma mínima de R$ 0,64 e uma máxima de R$ 35,25.
A varejista diz ter 9.654 credores e uma dívida de R$ 42,5 bilhões. O prazo para contestação de valores terminou na quarta-feira passada (15). O decreto de RJ na Justiça do Rio ocorreu após a revelação de um rombo estimado em R$ 20 bilhões, em fato relevante publicado na noite do dia 11 de janeiro, que informava ainda a renúncia do CEO Sergio Rial após assumir o cargo no começo do ano.
De lá para cá, os principais bancos credores travaram batalhas jurídicas para reaver valores, acusando a varejista de cometer fraude contábil. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu 12 investigações sobre o caso, mas ainda não concluiu os trabalhos de apuração.
Um dos efeitos colaterais da crise da Americanas foi o aumento do rigor dos bancos na concessão de empréstimos aos grupos varejistas, resultando na cobrança de maiores taxas para financiamentos. Um pente-fino em operações do chamado “risco sacado” (antecipação de recebíveis) foi feita em todo o setor, segundo revelaram os principais executivos dos bancos na última safra de balanços.
Em dois meses de RJ, a Americanas fechou algumas unidades, mas alegou que as medidas já estavam previstas desde o ano passado e se devem ao desempenho insatisfatório das vendas dessas lojas, e não ao processo de RJ. Não houve anúncios de demissões em massa. O grupo também chegou a descartar a venda da Natural da Terra, uma rede de hortifrutigranjeiros adquirida em 2021.
Operacionalmente, a varejista tenta manter o clima de normalidade, apesar da apreensão das equipes de funcionários com o risco de enxugamento da folha de pessoal. A empresa, no entanto, perdeu market share no segmento de vendas pela internet, cedendo mercado para competidores diretos como Mercado Livre (MELI), Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Amazon, entre as maiores.
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