Vinho ocupa parte do espaço da cerveja entre as bebidas preferidas no Brasil

Consumo cresce quase 20% no segundo semestre do ano passado e ela já responde por mais 16% das vendas de bebidas alcoólicas no país

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Bloomberg Línea — O vinho tem ganhado mais espaço na mesa e no gosto dos brasileiros. As vendas da bebida em supermercados cresceram 17,7% no segundo semestre de 2022 em relação aos primeiros seis meses do ano passado, e o vinho tomou uma pequena fração de mercado da cerveja, ainda líder absoluta entre as bebidas alcoólicas preferidas no país.

Dados da Horus, empresa de inteligência de mercado que compila informações das notas fiscais emitidas no varejo alimentício, indicam que o vinho ocupava cerca de 16,1% dos carrinhos de compras de acordo com as notas fiscais registradas no período pela empresa.

O resultado indica um crescimento de quase dois pontos percentuais em relação ao primeiro semestre de 2021, quando o vinho estava presente em 14,2% das compras. Em relação ao mesmo período de 2021, o avanço foi de 0,8 ponto percentual.

O vinho é a segunda bebida alcoólica mais vendida, seguida da cerveja, que ainda mantém a liderança disparada com presença de 72,5% nas compras, embora a participação tenha diminuído. No primeiro semestre de 2021, por exemplo, a fatia da cerveja era de 75,8% - e de 73,1% no mesmo período do ano.

Os dados da empresa levam em conta as notas fiscais emitidas em supermercados, hipermercados, atacarejos e em pequenos varejistas.

A lista das bebidas mais vendidas é seguida de cachaça (7%), bebida alcoólica mista (5,6%), vodca (2,7%), espumante (2,7%) e uísque (1,4%). Outras bebidas têm menos de 1% cada. A soma dos valores é maior do que 100% porque uma mesma nota fiscal pode incluir mais de um tipo de bebida.

Luiza Zacharias, diretora de novos negócios na Horus, disse que o consumo de vinho tende a ser maior no segundo semestre por causa dos meses de inverno, com as temperaturas mais frias, enquanto a cerveja tem vendas maiores durante o verão, no primeiro semestre, durante o calor e festas de fim de ano.

Ainda assim, os dados da empresa mostram um crescimento da participação do vinho quando são comparados períodos equivalentes (veja o infográfico abaixo).

“O verão atrai o consumo de bebidas geladas, como a cerveja. O vinho acaba sendo mais presente no segundo semestre como uma atração do inverno e cresceu nos últimos anos em especial por causa da pandemia, porque o consumidor, em casa, sem poder beber fora, começou a procurar outras opções e experimentar outras bebidas, aumentando seu cardápio etílico”, afirmou a executiva.

Outras pesquisas também indicam o crescimento do consumo do vinho no Brasil. Segundo a consultoria inglesa Wine Intelligence, o consumo per capita da bebida no Brasil foi de 2,5 litros em 2022, um aumento ante 1,93 litro por pessoa em 2018. Em 2020, no primeiro ano da pandemia da covid-19, o consumo bateu um recorde, chegando a 2,8 litros. A consultoria também apontou que, no país, 51 milhões de pessoas adultas beberam vinho ao menos uma vez por mês no ano passado.

Para Luiza Zacharias, diretora da Horus, o aumento da oferta de sites especializados em vinhos, como a Wine e Evino, facilitou o acesso à bebida no país e existe uma tendência contínua de popularização da bebida. “Vimos que a cerveja era soberana na cesta de bebidas alcoólicas, mas que ela foi perdendo o espaço para dividir com outros tipos de bebidas, como gim e bebidas mistas, que foram se incorporando nesse cardápio do consumidor, que começou a diversificar um pouco mais”, afirmou.

O movimento contribui para o crescimento de varejistas especializadas, como a loja online de vinhos Wine. De janeiro a setembro de 2022, a empresa registrou receita líquida de R$ 530 milhões, valor 39% maior do que no mesmo período de 2021.

“O mercado de vinhos no Brasil ainda é muito emergente. Por aqui o consumo começou através dos imigrantes, que passaram a produzir aos poucos, e isso foi se incorporando um pouco mais, mas demora uma eternidade para que uma cultura mude. Ainda há espaço para crescer”, afirma Alexandre Magno, diretor de operação da Wine no Brasil e diretor de relações internacionais da Wine.

“Vemos uma característica muito marcante nos últimos anos: as pessoas estão descobrindo que não é necessário gastar muito para beber vinho. No início dos anos 90 e 2000, era muito caro. Essa não é mais a verdade”, disse.

Para Magno, a pandemia também ajudou no aumento de novos consumidores de vinho.

“Entre 2018, antes da pandemia, e 2020, o mercado brasileiro aumentou em 9 milhões de consumidores de vinho por ano. Quando falamos de consumidores regulares, o crescimento foi de 7 milhões de consumidores. Então temos muitos interessados, mas sem saber como dar o primeiro passo, e, por isso, nós usamos o modelo de assinatura”, afirmou.

Empresas mais tradicionais do varejo, como o Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), apostam no potencial da bebida, com a criação do Pão de Açúcar Adega em 2018, uma plataforma para a venda de vinhos online e presencial. Segundo o site oficial do GPA, são mais de mil rótulos disponíveis.

Entre as bebidas não-alcoólicas, o destaque fica com o refrigerante, seguido pelo suco pronto e pelo suco em pó. Mas, segundo a Horus, os energéticos vêm ganhando espaço no país, passando de 4,5% no segundo semestre de 2021 para 5,3% no mesmo período de 2022.

Nos Estados Unidos, de acordo com a IWSR, a tequila, a bebida de origem mexicana feita à base de agave, ultrapassou o uísque e se tornou a segunda categoria de bebida mais vendida em 2022. Por aqui, a tequila ainda tem baixa representação.

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