De Wall St à Faria Lima, gestores mudam rotina no fim de semana com nova crise

Partidas de tênis canceladas, trabalho de casa ou no escritório, checagem nos preços de títulos: traders e gestores se preparam para próximos capítulos de crise bancária

Trabalho no fim de semana até do escritório se tornou imperativo em algumas gestoras diante de crise bancária
Por Thyagaraju Adinarayan - Abhinav Ramnarayan - Priscila Azevedo Rocha
19 de Março, 2023 | 09:00 AM
Últimas cotações

Bloomberg — 6 horas da manhã: toca o despertador. Partidas de tênis com os amigos canceladas. Checagem ansiosa sobre os preços dos títulos durante o passeio com o cachorro.

Essas são apenas algumas das cenas de traders e gestores neste fim de semana, enquanto o mundo das finanças se prepara para o próximo e, talvez, ato final da crise impressionante e espetacular do Credit Suisse (CS), um dos gigantes globais do mercado financeiro.

PUBLICIDADE

Pelo segundo fim de semana consecutivo, traders e gestores de todo o mundo, de Londres a Nova York e São Paulo, ficaram grudados em seus telefones celulares e notebboks, assistindo ao noticiário, convocando chamadas improvisadas do Zoom e aguardando ordens de marcha - em alerta máximo à sequência de mais uma crise bancária. Da última vez, foi o Silicon Valley Bank, um banco regional dos EUA para startups. Desta vez, é o Credit Suisse, um titã do importante setor bancário global.

Com exceção das negociações de títulos no mercado de balcão, havia pouco para a maioria dos operadores realmente fazer com os mercados fechados, já que as autoridades suíças e o UBS (UBS) correram para fechar um acordo para todo ou partes do Credit Suisse no sábado (18). No entanto, uma sensação silenciosa de pavor sobre “o que vem a seguir” para o setor bancário em geral - e a economia global - quando os mercados reabrirem na segunda-feira (20) era palpável.

“O Credit Suisse e a situação dos bancos regionais dos EUA levantam preocupações sobre o que não sabemos”, disse Trevor Bateman, chefe de pesquisa de crédito com grau de investimento da CIBC Asset Management. “Passamos um tempo no fim de semana para considerar possíveis cenários, resultados e implicações de segunda e terceira ordem desses resultados. E as implicações desconhecidas.”

PUBLICIDADE

Muitos trabalhavam em casa, uma rotina familiar da era da covid. Alguns ainda se dirigiam ao escritório e organizavam teleconferências. O Goldman Sachs (GS) e o Morgan Stanley (MS) estavam entre as mesas de títulos abertas no fim de semana, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

Um representante do Goldman se recusou a comentar, enquanto o Morgan Stanley não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da Bloomberg News.

Como os títulos são negociados no balcão, eles podem tecnicamente mudar de mãos a qualquer momento. Mas é altamente incomum que as negociações ocorram no fim de semana.

PUBLICIDADE

Ainda assim, houve níveis incomuns de atividade nos títulos do SVB e do Credit Suisse. Pelo menos dois conjuntos de cotações de títulos do Credit Suisse foram enviados no sábado, cópias das quais foram vistas pela Bloomberg News. Os títulos seniores estavam sendo cotados em alta pelos traders, em alguns casos subindo 12 pontos. Dado que é fim de semana, não está claro se as negociações foram feitas nesses níveis.

A questão-chave em qualquer negócio do Credit Suisse é descobrir como os ativos serão divididos e como isso afetará a estrutura de dívida da empresa, de acordo com um investidor, que negocia swaps de inadimplência de crédito para um detentor de títulos do banco suíço.

Ele, como muitos outros, planejava ficar em casa no fim de semana e monitorar as notícias de seu telefone.

PUBLICIDADE

“Todo mundo está verificando ativamente as notícias”, disse Michael Sandberg, trader de vendas de derivativos de ações da United First Partners. “Muitos de nós estamos recebendo ligações de clientes que estão procurando oportunidades à medida que as coisas se desenvolvem na situação do Credit Suisse.”

Calma antes da tempestade

Um gestor de recursos em Bruxelas, que pediu para não ser identificado porque não estava autorizado a falar publicamente, disse que a última vez que se lembrava de uma situação semelhante foi depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, quando as pessoas no mercado não tinham certeza se o pagamento de juros sobre títulos poderia ser honrado.

Em São Paulo, um operador de crédito de um grande banco disse que o fim de semana foi como a calmaria antes do tsunami, quando as águas baixaram e o paredão de água ainda não caiu.

O trader, que pediu para não ser identificado, não chegou em casa antes das 2h na noite de sexta-feira e acordou cedo no sábado, depois de algumas horas de sono. Ele estava trabalhando em casa com suas roupas de ginástica, tendo desistido dos planos de jogar tênis pela manhã. Estava sem parar desde quarta-feira, disse ele, mas o trader ainda planejava ir ao escritório ainda no sábado.

- Com a colaboração de Giulia Morpurgo e Reshmi Basu.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Quebras de bancos menores provocam corrida para gigantes de Wall Street

Perdas de bancos com Americanas azedam safra de bônus na Faria Lima