Bloomberg Línea — A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu mais dois processos de investigação relacionados ao caso Americanas (AMER3), segundo informou ao mercado no fim da tarde desta sexta-feira (17).
Um deles tem como objetivo “analisar eventuais irregularidades a respeito do recebimento por Sergio Rial de remuneração paga pela companhia durante o período compreendido entre o anúncio de sua escolha como CEO, em agosto de 2022, e sua efetiva posse no cargo, em janeiro de 2023″.
Em nota enviada à Bloomberg Línea, Sergio Rial afirmou: “esclareço que estou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos a todas as autoridades com a mais absoluta tranquilidade e afirmo categoricamente que o contrato em questão firmado com a Americanas foi 100% regular” (leia a íntegra mais abaixo).
Outro processo administrativo será para “analisar a eventual falha de divulgação de informações relevantes pela companhia, nos termos da Resolução CVM 44 e da Resolução CVM 80, a respeito das propostas de capitalização e renegociação de dívidas com os credores e à avaliação de venda de ativos, conforme notícias divulgadas na mídia”.
Já são 12 processos administrativos sobre o caso em andamento pela CVM, responsável pela fiscalização do mercado de capitais, desde que a empresa revelou no dia 11 de janeiro “inconsistências contábeis” da ordem de R$ 20 bilhões. A divulgação foi acompanhada pela renúncia de Rial como CEO, bem como do início de uma disputa judicial com bancos que estão entre os principais credores.
Uma semana depois, a Americanas entrou com pedido de recuperação judicial, que foi acatada pela Justiça no dia seguinte, com dívidas hoje declaradas de R$ 42 bilhões com cerca de 9.000 credores.
“Neste momento, as áreas técnicas da CVM estão avaliando, por exemplo, o conteúdo de documentos recebidos e de respostas enviadas pela referida companhia a questionamentos realizados pela autarquia”, disse a CVM nesta sexta sobre os processos administrativos em andamento.
Há também processos que correm na Justiça que pedem em nome de bancos credores e de investidores minoritários a responsabilização dos principais acionistas da Americanas, o trio de bilionários formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Outro lado das investigações da CVM
Lemann, Telles e Sicupira negaram que tivessem conhecimento das práticas contábeis suspeitas de serem ilegais em um comunicado divulgado dias após a revelação do rombo contábil.
Em declarações anteriores, Rial disse que tomou conhecimento do rombo contábil ao assumir a empresa no começo deste ano. Veja a seguir a íntegra da nota enviada à Bloomberg Línea nesta noite:
“Esclareço que estou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos a todas as autoridades com a mais absoluta tranquilidade e afirmo categoricamente que o contrato em questão firmado com a Americanas foi 100% regular, assim como todo o trabalho que desenvolvi nos quatro meses de sua vigência que antecederam minha posse com CEO, em 2 de janeiro passado.
Eventuais deveres informacionais a respeito do mesmo devem ser questionados junto aos responsáveis pelas relações com investidores da época da celebração do contrato de consultoria, que visava a transição de um CEO que conduziu as Americanas por 20 anos, o Sr. Miguel Gutiérrez.”
A Americanas declarou anteriormente que colabora com as investigações para descobrir as causas das tais “inconsistências contábeis”.
- Matéria atualizada às 22h24 de sexta-feira, com a nota enviada por Sergio Rial.
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