Bloomberg — As instituições financeiras da América Latina provavelmente sairão relativamente ilesas da turbulência que atingiu os bancos nos Estados Unidos e na Europa.
Regulamentação rigorosa, negócios diversificados e ampla experiência com juros altos e inflação elevada devem ajudar a proteger os credores da região do contágio da crise provocada pelos colapsos do Silicon Valley Bank e Signature Bank, e as preocupações com o Credit Suisse (CS), de acordo com analistas e investidores.
Essa visão é confirmada pelos mercados. Embora as ações de bancos da região tenham sido afetadas pela turbulência global, o indicador da MSCI para o setor financeiro na América Latina sofreu apenas uma fração das perdas dos papéis de bancos nos EUA.
“Não vejo bancos latino-americanos com exposição direta a essa situação”, disse Malcolm Dorson, gestor da Mirae Asset Global Investments em Nova York. “Dada a sua história, esses bancos também estão acostumados com a volatilidade das taxas de juros e sabem como proteger seu risco.”
Tanto a Moody’s quanto a S&P veem bancos na região com exposição limitada ou nenhuma às quebras do SVB e do Signature Bank. “As altas taxas de juros, em geral, também apoiam a estabilidade dos depósitos como fonte de recursos para bancos em toda a região”, disse a Moody’s em relatório na quinta-feira (16).
Para Carlos Asilis, os bancos da região estão bem capitalizados, principalmente no Brasil, onde as instituições têm “jogado na defesa”. O diretor de investimentos e fundador da consultoria Glovista Investments não vê impacto direto da turbulência além do aumento dos spreads globalmente.
“O Brasil estava saindo de um período de crescimento abaixo da tendência”, disse Asilis. “Portanto, os bancos vinham se protegendo há algum tempo e estavam basicamente acumulando reservas de capital.”
Mesmo assim, a deterioração da qualidade dos ativos devido a economias desaceleradas e altas taxas de juros representam obstáculos, de acordo com os analistas Cynthia Cohen Freue e Sergio Garibian, da S&P. Instituições financeiras e fintechs menores e concentradas na região podem sofrer “efeitos de fuga para a qualidade”, disseram em um relatório na quarta-feira (15).
Banco | País | Variação semanal | Variação mensal |
---|---|---|---|
Itaú Unibanco | Brasil | -2% | -7,3% |
Bradesco | Brasil | +0,3% | +4% |
Nubank | Brasil | +3,3% | -7,9% |
Banorte | México | -2,2% | -3,5% |
Banco del Bajio | México | -12% | -14% |
Gentera | México | -6,2% | -11% |
Banco Santander Chile | Chile | -4,4% | -1,7% |
BCI | Chile | -9,3% | -8,1% |
Índice MSCI EM LatAm/Financials | - | -5,2% | -4,5% |
Os mercados emergentes foram amplamente poupados do tumulto desta semana, com queda de apenas 0,1% nos indicadores de ações e dívida em dólar, embora os resgates no período tenham sido de US$ 4,5 bilhões, de acordo com o JPMorgan.
“O México é visto como um país que possui um sistema bancário saudável, bem capitalizado e pronto para enfrentar períodos de volatilidade”, disse Raul Martinez-Ostos, diretor executivo do Barclays Mexico, em coletiva de imprensa durante um evento do setor.
“Mesmo assim, estaremos muito atentos e muito vigilantes, porque claramente a volatilidade continuará.”
-- Com a colaboração de Maria Elena Vizcaino e Michael O’Boyle.
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