IA generativa, como ChatGPT, terá impacto significativo nos negócios, diz McKinsey

Consultoria já faz provas de conceito concretas com clientes, diz Pepe Cafferata, sócio e líder da área para a América Latina, em entrevista à Bloomberg Línea

ChatGPT
16 de Março, 2023 | 08:00 AM

Bloomberg Línea — A corrida pela inovação com o uso de ferramentas de IA (Inteligência Artificial) generativas como o ChatGPT chegou também ao concorrido mercado das consultorias globais. Em entrevista à Bloomberg Línea, o sócio da McKinsey Pepe Cafferata, que comanda a prática de Inteligência Artificial, dados e análise na América Latina sob o guarda-chuva da QuantumBlack, adquirida pela consultoria, disse que a empresa já realiza “provas de conceito” concretas da tecnologia com clientes.

“Nós achamos que a IA generativa, da qual o ChatGPT é uma aplicação bastante conhecida, vai ter um impacto significativo em negócios”, disse Cafferata.

Para o sócio, a IA pode criar um valor importante para as empresas que têm a ver com a criação de conteúdos, sejam textos, imagens ou linhas de software (programação).

Tecnologias de IA generativa têm a capacidade gerir um oceano de diferentes dados para responder perguntas e comandos de uma forma muito mais completa. Hoje, esse tipo de técnica de IA generativa já é utilizado quando o buscador ou o e-mail autocompleta frases ou palavras.

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O diferencial das novas tecnologias, ancoradas pela OpenAI, é que, além de completar palavras, é possível escrever textos e pintar imagens.

“Todas aquelas profissões que têm a ver com conteúdos vão estar impactadas pelo surgimento e, após alguns tempo, pela massificação da IA”, disse Cafferata. “Mas nós achamos que está no começo da aplicação dessas tecnologias e, como todo o começo, é mais experimental.”

Por ser ainda incipiente, no entanto, Cafferata disse não atribuir a essa tecnologia os cortes massivos anunciados por grandes empresas de tecnologia nos últimos meses. A própria McKinsey planeja eliminar 2.000 empregos, segundo reportou a Bloomberg News recentemente.

“Temos dentro da McKinsey um grupo de pessoas dedicadas a explorar o potencial desse tipo de tecnologia, um grupo bastante importante de pessoas que estão na fronteira do conhecimento nesse assunto. E estamos fazendo provas de conceito concretas com os clientes, mas não posso falar muito mais do que isso por causa de acordos de confidencialidade”, disse Cafferata.

Disseminação no setor privado

Os novos serviços com uso de IA generativa estão desenvolvidos de forma crescente no segmento de consultorias e de tecnologia em geral.

Nos últimos dias, a Bain & Company anunciou uma aliança global de serviços com a OpenAI, empresa dona do ChatGPT e do DALL-E. O primeiro cliente da parceria é a Coca-Cola, que vai usar a IA geradora de conteúdo para aprimorar o marketing.

Com a parceria, a Bain pretende construir centros de contato para bancos de varejo, empresas de telecomunicações e serviços públicos para dar suporte a agentes de vendas e serviços automatizados para acelerar o tempo de resposta para os profissionais de marketing, além de ajudar consultores financeiros para melhorar a produtividade e a capacidade de resposta aos clientes.

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Além das consultorias, a tecnologia atraiu grandes empresas como a Microsoft (MSFT), investidora da OpenAI, que está usando o serviço em seu mecanismo de busca Bing. A Salesforce (CRM) anunciou que seu braço de capital de risco está lançando um fundo de US$ 250 milhões, o maior até o momento, para investir em startups geradoras de inteligência artificial.

A empresa também integrou o ChatGPT ao Slack para fornecer resumos instantâneos de conversas, ferramentas de pesquisa e assistência de redação aos usuários da plataforma de mensagens corporativas.

O Google (GOOG) também anunciou um rival para o ChatGPT chamado Bard, e a Meta (META) e o Snapchat (SNAP) anunciaram projetos próprios de IA generativa.

A Brex, uma das startups mais valiosas do Vale do Silício, fundada e comandada pelos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi, também lançou recentemente uma integração do ChatGPT em seu aplicativo de gastos corporativos, com foco especialmente em diretores financeiros.

O objetivo é que o CFO possa perguntar ao aplicativo se já estourou o orçamento, por exemplo, e o ChatGPT ajude com respostas para a gestão financeira da empresa.

Embora as iniciativas de IA que se tornaram mais populares estejam nos Estados Unidos, a América Latina também tem startups que pesquisam o setor. No ano passado, a Bain comprou a chilena Spike, também especializada em inteligência artificial.

Pontos positivos, riscos e falhas da IA generativa

Segundo Cafferata, da McKinsey, ferramentas como o ChatGPT funcionam para temas “mais conceituais”, mas ainda não estão preparadas para resolver equações matemáticas complexas.

Hoje, as aplicações para os negócios podem funcionar para vendas, informando produtos que podem ser interessantes, serviços aos cliente, além da “próxima geração de chatbots”, que, de acordo com o executivo, poderão dar respostas mais inteligentes, aprimoradas e mais adequadas.

“Também há usos na saúde, para permitir o diagnóstico mais rápido”, disse.

Esse tipo de tecnologia ajuda a escrever mais rapidamente, inclusive para programadores. A IA generativa ainda pode ser aplicada na documentação legal, para explorar textos, analisar e avaliar contratos e descobrir respostas a alguns temas, de acordo com o executivo.

“Hoje é uma tecnologia produtora de rascunhos, que acelera muito o trabalho das pessoas, mas ainda não está pronta para ser massificada”, disse.

Ao mesmo tempo, instituições financeiras se preocupam com a privacidade dos dados utilizados pelos algoritmos de IA. No mês passado, os bancos americanos JPMorgan (JPM), Bank of America (BAC) e Citigroup (C) tomaram decisões para restringir o uso do ChatGPT.

“Aconselhamos aos clientes que a abordagem é ser muito cuidadoso neste momento, porque a tecnologia é muito recente”, afirmou Cafferata.

Um dos riscos relacionados ao ChatGPT é que ele utiliza dados que estão disponíveis ao público na internet. Essas informações podem estar corretas, mas não necessariamente.

Além disso, os dados podem ser enviesados, ou seja, assumir que um artigo de medicina tenha sido escrito por um homem em vez de uma mulher, por exemplo.

“Por essa razão acho que os bancos, que têm o risco como uma parte importantíssima da razão de ser, estão sendo cuidadosos com esse gerenciamento”, disse Cafferata.

A tecnologia ainda precisa evoluir para garantir que a informação coletada seja correta ou que não viole propriedade intelectual ou patentes. O sócio da McKinsey disse recomendar que, por enquanto, o uso de ferramentas como o ChatGPT seja focado em estratégias específicas, como marketing, e “não para tentar resolver o mundo”.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups