Investidores buscam refúgio em títulos diante de temor renovado com bancos

Queda de até 24% das ações do Credit Suisse nesta quarta reflete sentimento de aversão a risco que volta a ganhar força no mercado; rendimento de Treasuries recua

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Bloomberg — Os preços de títulos se recuperam nesta quarta-feira (15), revertendo quedas anteriores, enquanto investidores reduzem as apostas em taxas de juros mais altas, à medida que crescem os temores de que a turbulência no setor bancário dos EUA pudesse se espalhar para a Europa.

O rendimento das notas alemãs de dois anos caiu até 34 pontos-base depois que o principal acionista do Credit Suisse (CS) descartou fornecer mais ajuda por meio de capital. Os títulos do Tesouro dos EUA também ganharam, pois os investidores buscaram proteção em ativos mais seguros, reduzindo o rendimento em vencimentos com datas semelhantes em até 25 pontos-base.

“O mercado é sensível a evidências de estresse financeiro – antigo ou novo – dado o nervosismo recente em relação a qualquer possível leitura sistêmica do desastre do SVB”, disse o estrategista do Rabobank Richard McGuire, referindo-se ao banco americano Silicon Valley Bank, o SVB.

As ações do Credit Suisse caíam cerca de 16% por volta das 16h na Suíça (meio-dia no Brasil), para uma cotação mínima recorde, depois que o presidente do Banco Nacional Saudita, Ammar Al Khudairy, disse em entrevista à Bloomberg TV que “absolutamente” não fornecerá mais assistência ao banco suíço.

O CS está no meio de uma complexa reestruturação de três anos em uma tentativa de retornar à lucratividade e foi duramente atingido pelo pessimismo do mercado desde a quebra do SVB.

O euro caía 1,1%, para US$ 1,0620, enquanto outras moedas europeias sensíveis ao risco, como a coroa norueguesa, recuavam em relação aos pares. Enquanto isso, o iene japonês - normalmente considerado uma moeda de refúgio - superou outras moedas do Grupo dos 10.

O nervosismo sobre a saúde do setor bancário global levou os investidores a interromper as apostas em novos aumentos de juros pelo Federal Reserve e pelo Banco Central Europeu.

Depois de reduzir drasticamente essas apostas na segunda-feira (13), os investidores começaram a retornar a essas posições na terça-feira (14) e no início da quarta-feira, antes que as notícias do Credit Suisse atingissem a confiança do mercado.

Treasuries e títulos alemães foram afetados na semana passada pela perspectiva em constante mudança para os custos de empréstimos.

Embora os movimentos das autoridades dos EUA para apoiar o setor bancário tenham estimulado pedidos para que o banco central suavize sua política, os sinais de inflação arraigada apoiaram o argumento de mais aperto. Os preços subjacentes ao consumidor dos EUA subiram em fevereiro para o maior nível em cinco meses, segundo os dados do CPI divulgados nesta terça.

Os rendimentos alemães de dois anos subiram até 13 pontos-base na quarta, depois que a Reuters informou que o BCE ainda almeja uma alta de 50 pontos-base nesta quinta-feira (16) diante da avaliação de que a inflação deve acelerar ainda mais.

Os swaps atualmente precificam em 38 pontos-base uma alta nesta semana, ante 47 no início do dia. Para o Fed, os mercados monetários implicam na reunião 14 pontos-base de aperto na próxima semana.

“O mercado continua nervoso, o que leva a uma volatilidade excessiva”, disse Jan von Gerich, estrategista-chefe da Nordea. “Acho que o BCE demorará a mudar, a menos que as condições do mercado realmente se deteriorem.”

- Com a colaboração de Neha D’silva, Marcus Wong, Masaki Kondo, Libby Cherry e Alice Gledhill.

- Matéria atualizada às 12h10 com as cotações do dia.

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