Credit Suisse vai precisar de seus parceiros agora mais do que nunca

O banco não é nenhum Silicon Valley Bank, mas não está tentando ajudar as pessoas a entender isso

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Bloomberg Opinion — Geralmente, quando você enfrenta suas maiores dificuldades, descobre que quase não tem amigos. É o que está acontecendo com o Credit Suisse (CS). As ações do banco despencam novamente nesta quarta-feira (15), chegando a tocar recordes de baixa.

Em mercados que estão à beira do pânico há dias após três bancos americanos terem quebrado, os investidores estão abandonando qualquer coisa que pareça risco bancário. Eles estão preocupados com a fuga de depósitos e os problemas causados pelo aumento dos juros. E o Credit Suisse está no topo da lista de bancos contra os quais apostar por causa dos saques no ano passado e sua incapacidade de ficar longe de manchetes ruins.

O banco está no meio de uma reestruturação complicada e radical, e sua posição fica mais precária com a queda do preço de suas ações e à medida que o custo do seguro de seus títulos contra a inadimplência aumenta.

Mas sejamos claros: o Credit Suisse está muito longe do Silicon Valley Bank. O banco suíço tem níveis muito saudáveis de ativos líquidos se necessário, acesso a muitas linhas de crédito de bancos centrais de diversos países e menos sensibilidade a movimentos bruscos nas taxas de juros do que muitos concorrentes.

Mesmo assim, as manchetes ruins continuam aparecendo. O presidente de seu maior acionista, o Saudi National Bank, disse na quarta-feira à Bloomberg TV que não colocaria mais capital no banco se solicitado. Ele investiu cerca de US$ 1,4 bilhão para chegar à sua participação de 9,9% no ano passado.

Também nesta quarta-feira, o Banco Nacional Suíço não quis comentar a situação difícil do banco – embora as garantias de bancos centrais ou governos possam ter justamente o efeito errado em momentos de maior medo. Posteriormente, o Credit Suisse havia solicitado uma demonstração de apoio, de acordo com o Financial Times.

O Credit Suisse também cometeu outro erro esta semana: teve que admitir fraquezas substanciais em alguns procedimentos de apresentação de relatórios e controle após uma intervenção dos órgãos reguladores americanos. Separadamente, seu relatório anual divulgado na terça-feira (14) mostrou que clientes ricos continuaram sacando seu dinheiro do banco nos primeiros meses de 2023, embora a um ritmo muito reduzido em comparação com outubro de 2022.

O CEO Ulrich Koerner disse à Bloomberg TV na terça-feira que o Credit Suisse havia recebido algumas entradas, inclusive na segunda-feira, quando os mercados estavam em sell-off. No entanto, suas palavras não ajudaram muito. As ações do banco caíram quase 30% em seu pior momento na quarta-feira. A queda foi de mais de um terço em cinco dias. Seus títulos mais novos estão sendo negociados a preços desanimadores.

O que importa agora é se o banco pode resistir a esta tempestade sem que uma crise de credibilidade afete os fundamentos de seu balanço, que ainda são sólidos, principalmente no que diz respeito às preocupações de investidores neste momento: liquidez e riscos de taxas de juros.

Desde o saque de seus depósitos no ano passado, o Credit Suisse reconstruiu sua reserva contra mais saques. A maneira técnica de medir isso é com seu índice de cobertura de liquidez, mas em termos ainda mais simples o banco tem ativos líquidos semelhantes a dinheiro suficientes para pagar a metade de todos os seus passivos em depósitos e empréstimos de outros bancos. Isso é muito.

Mais da metade desses ativos líquidos são dinheiro. O banco tem US$ 67 bilhões depositados em bancos centrais, que fazem parte de seus ativos líquidos no valor de US$ 127,2 bilhões. Estes são mantidos com US$ 251,2 bilhões de depósitos e US$ 13 bilhões de empréstimos interbancários. Suas saídas de depósitos para todo o quarto trimestre do ano passado foram de US$ 149 bilhões.

O Credit Suisse também está muito menos exposto a perdas decorrentes de movimentos de taxas de juros do que muitos concorrentes. “O CS está realmente indo bem nessa métrica”, disse Jérôme Legras, especialista bancário e chefe de pesquisa da Axiom Alternative Investments de Paris.

Os bancos europeus são obrigados pelos órgãos reguladores a modelar seus ganhos ou perdas esperados a partir das mudanças nos valores de mercado de seus ativos e passivos devido aos choques das taxas. Para o Credit Suisse, sua pior perda seria de US$ 1,9 bilhão com uma mudança para cima nas curvas de taxas. Isso equivale a apenas 3,6% de sua base de capital; o nível em que seu órgão regulador começaria a se preocupar é de 15%.

Em suma, o banco conseguiria suportar muito mais saques e certa pressão com as taxas de juros. Entretanto, clientes e investidores precisam continuar acreditando nisso para que o Credit Suisse supere essa turbulência.

Nada acontecerá a menos que o Banco Nacional Suíço veja provas realmente preocupantes de que o Credit Suisse está sendo fatalmente prejudicado. Nesse ponto, a especulação é que o banco central tentaria realizar uma aquisição, possivelmente pelo UBS Group, seu concorrente local, ou possivelmente outro grande banco ou seguradora da Europa.

Para as coisas chegarem nesse nível, os EUA e a Europa precisariam estar em uma crise de confiança total sobre qualquer outro banco que não fosse o maior. Se é isso que vem pela frente, então o Credit Suisse não estará sozinho.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Paul J. Davies é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre bancos e finanças. Trabalhou para o Wall Street Journal e o Financial Times.

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