Bloomberg Línea — O economista-chefe do Itaú (ITUB4), Mario Mesquita, não vê espaço para o Banco Central antecipar os cortes da taxa de juros no curto prazo, incluindo já na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) na semana que vem, como seria o desejo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em encontro com jornalistas nesta quarta-feira (15), em São Paulo, o economista lembrou a experiência mal-sucedida do Banco Central de cortar os juros em agosto de 2011, na contramão do que os indicadores de preço e de atividade econômica sugeriam na época.
“Cortar a taxa de juros agora, no curto prazo, seria muito arriscado, provavelmente com boas chances de dar errado. Não vejo tanto espaço assim”, disse o economista em resposta à pergunta da Bloomberg Línea.
“Claro que há um cenário global que está mudando. Tem um cenário global com incerteza sobre o setor bancário americano. E essas coisas podem se alterar.”
“Mas a experiência mostra que, quando o Banco Central, lá atrás em 2011, buscou se antecipar a um possível choque negativo para defender a atividade econômica, colocando em segundo plano a meta da inflação, deu bastante errado. Acho que o BC tem alguma memória institucional daquele erro”, completou.
Para Mesquita, o cenário atual ainda mostra uma inflação elevada no Brasil, apesar da desaceleração dos preços desde meados do ano passado. Além disso, as expectativas para o IPCA extraídas dos preços dos ativos continuam distantes da meta do Banco Central.
O último relatório Focus, do Banco Central, divulgado na segunda-feira (13), indica que o mercado prevê na mediana uma inflação de 5,96% ao final do ano, uma alta considerável em relação a quatro semanas atrás (5,79%). O centro da meta deste ano é de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem trabalhado para apresentar um novo arcabouço fiscal antes da próxima reunião do Copom em 20 e 21 de março, segundo o jornal O Globo.
Mesquita, do Itaú, avaliou que a proposta pode contribuir para reduzir o prêmio de risco e a volatilidade da moeda, fortalecendo o real, o que pode melhorar as perspectivas inflacionárias. A mudança pode, eventualmente, abrir caminho para um cenário no corte de juros, mas não no curto prazo, segundo ele.
“Na época [em 2011], o Banco Central cortou pensando que a crise europeia poderia ter um efeito similar ao do Lehman Brothers, o que não se materializou. O BC depois teve que subir os juros agressivamente e deu bastante errado”, afirmou. A Selic acabou subindo gradualmente até 14,25% em 2015.
Embora a proposta do novo arcabouço fiscal do governo ainda não seja conhecida, os cálculos das simulações feitas pela equipe de economistas Itaú baseadas nas medidas em discussão indicam que elas não seriam suficientes para deter a trajetória de alta da dívida pública.
Para isso seria necessário realizar um corte maior das despesas ou um aumento da carga tributária. Nas projeções do Itaú, a dívida bruta deve sair de um patamar de 72,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para 76,1% em 2023 e 79% em 2024.
“A trajetória de crescimento da dívida é algo com que devemos se acostumar nos próximos anos”, afirmou o economista.
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