Bloomberg Línea — Em uma crise bancária, os bancos centrais vão ter que escolher entre a estabilidade financeira e a luta contra a inflação persistentemente alta. E, com isso, não veremos um aperto monetário como deveria ser feito. É o que avalia Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital.
Em painel durante o “Safra Invest Day” realizado nesta quarta-feira (15) em São Paulo, o experiente gestor disse não esperar uma forte desaceleração da inflação pela frente.
“Vamos ter uma inflação se acomodando em patamar mais baixo, mas não nos níveis perseguidos pelas autoridades monetárias. Vai ser difícil vermos o índice de preços abaixo de 3% [nos EUA] nos próximo anos, a não ser que tenhamos um colapso financeiro”, disse.
Segundo o sócio de uma das maiores gestoras do país em ativos administrados, mesmo controlada a crise bancária, há outras complicações que impedem que a inflação caia abaixo desse nível. É o caso da desglobalização das cadeias produtivas (que tem impacto nos preços), por exemplo.
A avaliação é a de que o nível nominal de juros nos EUA tende a se estabilizar por volta de 3% a 3,5% - mas não em nível estimulante para economias emergentes.
“Um nível de juros nominais mais baixos que o atual é possível, mas não resultará em uma expansão de liquidez que vai beneficiar o Brasil”, disse.
Aftershocks
Rodrigo Azevedo, sócio da Ibiuna Investimentos, tem uma visão diferente. O gestor, que também é ex-diretor do Banco Central, avalia que um alívio na taxa de juros dos EUA pode contribuir para uma volta da liquidez do mundo.
“Esse é o ambiente que pode ter um impacto bem relevante para o Brasil e, do ponto de vista de médio e longo prazo, tentar mitigar o baque que a desaceleração global pode trazer”, disse durante o painel.
Segundo ele, a inflação nos EUA ainda não está reagindo como o esperado à retirada dos estímulos.
“Vimos nesta semana que o sistema financeiro começou a engasgar – e acho que é só o começo. No geral, quando começa, isso tem reverberações. É meio que um terremoto: ele dá o primeiro impacto e depois vêm os aftershocks”, afirmou.
Azevedo avaliou que a instabilidade financeira vai fazer com que o Federal Reserve não suba mais as taxas de juros. “Independentemente de quão grave a história fique, teria que cair a taxa.”
Hoje, a principal oportunidade no mercado financeiro, de acordo com ele, recai sobre a posição aplicada (à espera da queda dos juros) em taxas no Brasil e no mundo, com a inflação em queda em reação às políticas de bancos centrais.
Pausa do Fed?
Xavier, da SPX, também disse ver uma maior proximidade do pico de juros nos EUA, seja pelas condições de inflação e atividade econômica, seja pelos riscos associados à estabilidade financeira, “‘pipocando’ uma crise bancária em alguns países desenvolvidos”.
“Isso me parece que vai gerar uma reflexão por parte dos BCs. Possivelmente vamos ver uma pausa na alta dos juros dos EUA e, talvez, um risco menor de puxada do BCE. Isso vai ser determinante nos próximos dias e semanas e vai ser importante para as estratégias [de investimento]”, disse o gestor da SPX.
Credit Crunch
André Jakurski, fundador da gestora JGP, que também participou do painel, avaliou que os Estados Unidos devem ver uma desaceleração pela frente. O aperto de crédito, que já estava sendo visto, por sua vez, deverá ser ampliado ainda mais dada a crise atual, levando a um possível credit crunch.
“Os bancos pequenos e médios levaram um tiro forte, mesmo os que não quebraram. O mercado está preocupado com eles, que terão que tomar medidas para melhorar seus balanços, o que vai piorar o aperto do crédito”, disse Jakurski, da JGP.
Isso implica em maior dificuldade para novas emissões no mercado de capitais, além de uma redução no financiamento para pequenas e médias empresas, completou.
No Brasil, com a taxa de juros real (descontada a inflação) alta, o investidor pessoa física deveria estar em ativos atrelados ao CDI, destacou Jakurski. Segundo ele, o investidor deve estar com exposição ao CDI, ao juro real e a fundos multimercados.
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