Stone: melhora de indicadores não se reflete ainda em preços de ativos, diz VP

VP de Finanças, Rafael Martins diz à Bloomberg Línea que aumento da geração de caixa no quarto trimestre ajudou a reduzir o endividamento da empresa

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Bloomberg Línea — A Stone (STNE) apresentou resultados acima do consenso no quarto trimestre, com ganhos em rentabilidade, base de clientes e geração de caixa, mas os ativos da empresa no mercado ainda não refletem essa melhora, na avaliação de Rafael Martins, vice-presidente de Finanças e diretor de Relações com Investidores da Stone, em entrevista à Bloomberg Línea.

Os títulos denominados em dólares da Stone, por exemplo, tiveram perdas acima de 10% em fevereiro, em um momento em que subiram os prêmios de risco de papeis de dívida corporativa do Brasil em geral após o colapso da Americanas (AMER3) e como reflexo do aumento dos juros futuros.

“Tenho dificuldade de entender por que o bond caiu tanto dada essa dinâmica de que a companhia está aumentando rentabilidade, aumentando margem, crescendo e gerando mais caixa. Nossa visão é que tem a ver com sentimento de risco de indústria, de país, talvez”, disse Martins.

Nesta terça-feira (14), a Stone divulgou resultados para o quarto trimestre de 2022 com um lucro líquido ajustado de R$ 234,8 milhões, superando a estimativa dos analistas, de R$ 191,4 milhões.

As ações tinham leve alta nas negociações do after market perto das 20h de Brasília, depois de ganho de 5,82% na sessão. No acumulado em 12 meses, a cotação acumula alta perto de 10%, mas ainda está 90% abaixo do pico histórico de 2021.

“O principal motivo do crescimento foi um TPV [volume total de pagamentos] acima do que esperávamos e esse crescimento veio somado a um nível de preço positivo e de rentabilidade do cliente”, disse Martins.

Analistas de mercado estimavam um volume de pagamentos de R$ 98,32 bilhões no último trimestre, enquanto o TPV consolidado foi de R$ 100,1 bilhões, um crescimento de 12,4% ano contra ano. A Stone implementou uma nova estratégia de preços para seus clientes que usam a maquininha de cartões desde o final de 2022 para refletir as mudanças no cenário macro.

A empresa de pagamentos divulgou um caixa e equivalente de caixa de R$ 1,51 bilhão, queda de 66% ano contra ano. Os analistas estimavam R$ 2,61 bilhões. Martins disse que a Stone tem flexibilidade para decidir qual o nível de caixa a empresa quer ter.

“As contas a receber de emissores são maiores que as contas a pagar. É nossa decisão se eu vou transformar em caixa ou não o excesso que eu tenho de conta a receber e de conta a pagar. Se eu tenho uma necessidade, por algum motivo, de um caixa mais alto, posso transformar em caixa muito rápido”, disse.

Segundo o executivo, a Stone aumentou sua posição de caixa líquido ajustado no trimestre e usou parte dos valores para pagar dívidas.

“Temos gerado caixa cada vez mais no ano e isso fez com que tivéssemos conforto de pegar parte do caixa e usar para reduzir dívida, porque os juros estão altos. Como temos um caixa robusto, ao mesmo tempo reduzimos endividamento da companhia”, disse.

A volta do produto de crédito

A Stone, que enfrentou problemas com inadimplência de pequenas e médias empresas em 2021 e decidiu na ocasião suspender sua operação de crédito, disse que em 2022 trabalhou para reconstruir o produto e os sistemas, repensando as políticas de risco.

A empresa, que tem sua área de serviços financeiros para além da adquirência, pretende relançar o produto de crédito no segundo semestre, mas a velocidade da originação dependerá do ambiente econômico e do apetite de risco da fintech.

“No último trimestre de 2022 começamos a testar com uns poucos clientes esses sistemas que construímos. Vamos ampliar o tamanho desse teste no primeiro semestre e nosso foco é estar na posição de relançar [o produto de originação de crédito] no segundo semestre”, disse Lia Matos, diretora de estratégia da Stone.

Será um produto de capital de giro para o pequeno e médio empreendedor e um produto de cartão de crédito para os micro e pequenos empreendedores.

“Acho que todo mundo ficou mais receoso com crédito no Brasil com o caso da Americanas, mas a nossa captação vem da venda de recebíveis para diferentes bancos e fundos. Eles têm risco de bancos emissores. Teve, sim, um aumento de custo de captação, mas não é relevante para o nosso negócio”, disse Martins.

Segundo o VP, em momentos de mercado mais assustado, a Stone pode utilizar seu caixa próprio. “A companhia tem bastante liquidez para crescer.”

A fintech ainda teve um aumento de despesa administrativa no quarto trimestre, o que Martins atribuiu a uma sazonalidade em razão do pagamento de bônus, mas que deve cair no próximo trimestre.

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