Credit Suisse diz que encontrou ‘fraquezas’ de controle após SEC questionar

Banco suíço, em amplo processo de reestruturação, disse que tomará medidas para corrigir procedimentos, o que pode demandar despesas adicionais

Credit Suisse diz que vai reforçar procedimentos de controle após questionamentos da SEC nos EUA
Por Marion Halftermeyer
14 de Março, 2023 | 08:55 AM

Bloomberg — O Credit Suisse (CS) disse que encontrou “fraquezas materiais” em seus procedimentos de controle e relatórios nos últimos dois anos, após questionamento de reguladores dos EUA na semana passada.

O banco com sede em Zurique disse nesta terça-feira (14) que tomará medidas para corrigir controles ineficazes no processo que segue para produzir seus relatórios financeiros. Mas a empresa disse que suas declarações para 2022 e 2021 “apresentam razoavelmente” sua condição financeira.

O Credit Suisse foi forçado a adiar a divulgação de seu relatório anual da semana passada depois que a Securites and Exchange Commission, a SEC - o equivalente americano da Comissão de Valores Mobiliários - levantou questões de última hora sobre as demonstrações de fluxo de caixa de 2019 e 2020, discussões que o banco disse terem sido concluídas.

O CEO Ulrich Koerner está tentando conduzir o banco a uma reestruturação complexa em uma tentativa de devolvê-lo à lucratividade, um processo que agora corre o risco de emperrar em uma onda vendedora mais ampla de ações do setor financeiro ligada ao colapso do americano Silicon Valley Bank, o SVB.

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A reavaliação ocorre paralelamente a uma “opinião adversa” emitida pela empresa de contabilidade PwC sobre a eficácia dos controles internos do grupo.

O banco disse que as fraquezas materiais tiveram um papel importante nas revisões que teve de fazer há um ano em algumas declarações de exercícios anteriores.

O Credit Suisse disse que seus esforços para resolver o problema “podem exigir que gastemos recursos significativos para corrigir as fraquezas ou deficiências materiais”.

As ações do banco suíço caíram até 5,6% nesta terça-feira na Bolsa de Zurique. As ações estão sendo negociadas perto de uma baixa recorde após uma queda de 20% neste ano.

Os títulos do governo saltaram quando o anúncio aumentou a preocupação com o estresse no setor bancário e impulsionou a demanda por ativos seguros. O rendimento do título do Tesouro de dois anos estendeu uma queda na terça antes de se recuperar para ficar em torno de 4%.

Os futuros do S&P 500 e do Nasdaq 100 subiram cerca de 0,2%. O índice de referência de ações europeias Stoxx 600 pouco mudou depois da maior queda desde dezembro na segunda-feira (13). As ações do Credit Suisse caíram quase 10% na segunda.

Em 2021, o Credit Suisse sofreu um golpe multibilionário vinculado ao Archegos Capital Management, o family office vinculado ao investidor Bill Hwang. Posteriormente, emitiu um relatório que identificou deficiências processuais que levaram ao desastre. O banco também reformulou completamente a alta administração desde então e está em seu segundo plano de reestruturação em dois anos.

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Chairman abre mão de bônus

Em relatório divulgado na terça-feira, o banco disse que o presidente do conselho Axel Lehmann está abrindo mão de um pagamento de 1,5 milhão de francos suíços (US$ 1,6 milhão) por seu primeiro ano completo no cargo, após o pior desempenho anual do banco desde a crise financeira de 2008.

Lehmann, que assumiu o cargo em janeiro de 2022, não receberá a taxa padrão que normalmente é paga além dos salários dos membros do conselho, de acordo com o relatório de remuneração do banco publicado na terça-feira após um atraso de vários dias.

Lehmann recebeu um total compensation de 3 milhões de francos para o período de abril de 2022 a abril de 2023 e planeja propor um pagamento total inferior de 3,8 milhões de francos para o próximo período de pagamento na assembleia anual de acionistas. O banco também está planejando aumentar a parcela da remuneração do presidente que é paga em ações de 33% para 50%.

Ao abrir mão de seus honorários, Lehmann espelha os membros do conselho executivo que não estão recebendo um bônus no ano passado, quando o banco sofreu saídas recordes de fundos de clientes e uma queda no preço de suas ações em meio a preocupações com seus planos de reestruturação.

O banco cortou seu pool de bônus de 2022 para todos os funcionários pela metade, reservando 1 bilhão de francos, abaixo dos 2 bilhões de francos do ano anterior.

A remuneração total de Koerner para 2022 totalizou 2,5 milhões de francos suíços, incluindo o período como membro do Conselho Executivo antes de se tornar CEO.

Fluxos de saída continuam

O Credit Suisse tem sido prejudicado por saídas de dinheiro de clientes desde o último trimestre de 2022, quando mais de 110 bilhões de francos (cerca de US$ 120 bilhões) foram resgatados. O banco disse na terça-feira que os saques continuaram neste mês de março, mesmo depois de ter iniciado uma grande campanha para reconquistar a confiança dos clientes.

A reformulação do banco depende da divisão de partes do negócio de banco de investimento sob a marca Credit Suisse First Boston. Na terça, o banco disse que os líderes seniores da cisão serão donos de até um quinto desse negócio se prosseguirem com os planos de uma oferta pública inicial (IPO).

Os funcionários receberiam units de ações restritas na CS First Boston, que seriam adquiridas três anos após a oferta e estariam sujeitas a uma exigência de participação adicional, de acordo com o relatório anual. Os prêmios também se destinam a cobrir pagamentos para futuras contratações seniores.

- Com a colaboração de Paul Dobson.

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