Após SVB, como ficam os bancos brasileiros com exposição a títulos públicos

Players financeiros do país possuem fatia relevante de títulos na carteira, mas indicadores não apontam impacto com alta do juro, segundo analistas do UBS BB e da XP

Colapso do SVB e perdas com títulos acenderam um sinal de alerta sobre o sistema bancário ao redor do mundo
14 de Março, 2023 | 04:45 AM

Bloomberg Línea — O colapso do Silicon Valley Bank, o SVB, conhecido como o banco das startups, acendeu um sinal de alerta sobre o sistema bancário ao redor do mundo. Com ampla exposição a títulos do governo americano, o SVB teve que vendê-los às pressas para cobrir capital e aumentar a liquidez, amargando perdas.

No domingo (12), mesmo dia em que anunciaram o resgate aos clientes do SVB, autoridades americanas informaram o fechamento de outro banco, o Signature Bank, sem abrirem maiores informações.

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Nesta segunda-feira, bancos americanos em geral, mas particularmente os regionais, amargaram perdas de até 60% das ações apesar do resgate do governo americano, diante do temor de investidores de que outras instituições enfrentem dificuldades financeiras semelhantes em seu balanço.

É uma questão que chegou também ao Brasil, mas que, em tese, não deve ser motivo de preocupação de investidores, na visão de analistas de diferentes instituições.

Apesar de os bancos brasileiros terem historicamente uma exposição maior a títulos, principalmente do governo, em relação aos de outros países, isso não deve ser visto como um problema. A avaliação é de Thiago Batista e Olavo Arthuzo, analistas do UBS BB.

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O eventual impacto foi alvo também de relatório de Matheus Guimarães, analista do setor financeiro da XP (XP) (veja mais abaixo).

Segundo Batista e Arthuzo, do UBS BB, os títulos representavam 40% dos ativos totais do Bradesco (BBDC4) no quarto trimestre de 2022, dada a grande relevância do mercado de seguros para o banco.

O percentual caía para 30% no caso do Itaú Unibanco (ITUB4) e representava uma proporção de 20% no Santander (SANB11).

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O tema é discutido considerando o forte aumento dos juros que levou a prêmios extremamente altos na renda fixa. No Tesouro Direto, por exemplo, o título prefixado com vencimento em 2026 (antiga LTN) subiu de 6,3%, ao fim de 2020, para cerca de 12,50% atualmente.

Já nos papéis atrelados à inflação (Tesouro IPCA+ ou antiga NTN-B), os prêmios chegam a IPCA mais 6,44%, no caso do título com vencimento em 2045. Em 2020, o investidor encontrava o mesmo papel a IPCA mais 3,80%.

Com a marcação a mercado, os títulos sofrem variações diariamente. Caso os papéis sejam vendidos na data de vencimento, são mantidas as taxas combinadas no momento da compra. Já no caso de venda antecipada, haverá variação – para cima ou para baixo, a depender do mercado.

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Em outras palavras, se os juros caem em relação ao contratado no momento da compra, os papéis se valorizam. Porém, se os juros sobem, como foi o caso do SVB, nos Estados Unidos, os bancos que eventualmente precisarem vender os títulos irão amargar perdas.

Em relatório divulgado nesta segunda-feira (13), Batista e Arthuzo, do UBS BB, chamam a atenção para o fato de que a maior parte do aumento dos juros no Brasil aconteceu entre 2021 e 2022 e que o impacto negativo da marcação a mercado aconteceu nesse período.

Segundo os analistas, o impacto da marcação a mercado nos três principais bancos privados brasileiros alcançou R$ 11,6 bilhões em 2021 e R$ 6,5 bilhões em 2022, representando 3,1% e 1,6% da posição, respectivamente.

“Impactos menores são esperados para este ano, considerando o nível atual das taxas de juros”, escreveu o time de análise.

Além de prêmios atrativos nos títulos públicos no Brasil, a maioria dos grandes bancos brasileiros possui seguradoras relevantes – e as reservas do negócio de seguros compreendem uma parte relevante desses títulos, destacam Batista e Arthuzo.

A visão da XP sobre os bancos brasileiros

Guimarães, da XP, analisou quatro indicadores dos bancos: crédito a depósitos; NII (margem financeira) com mercado; participação até o vencimento e LFTs; e Índice de Cobertura de Liquidez.

As conclusões foram as seguintes, segundo o relatório:

  • Empréstimo por depósitos: “os bancos brasileiros apresentam índices saudáveis.”
  • Margem com mercado: “novos impactos são esperados para 2023, mas não tão grandes quanto no ano anterior, já que não há expectativa de novos aumentos na taxa Selic.”
  • Títulos mantidos até o vencimento e participação das LFTs: “a existência de LFTs (títulos flutuantes de longo prazo emitidos pelo governo – Letra Financeira do Tesouro) traz um nível adicional de proteção aos balanços dos bancos.”
  • Indicador de Liquidez de Curto Prazo (LCR): “os bancos incumbentes excedem facilmente o requisito mínimo de liquidez (>100%).”

Segundo o analista do setor financeiro da XP, “embora vejamos uma maior deterioração do sentimento em relação ao setor bancário brasileiro (já impactado no início deste ano pelos eventos de crédito corporativo), os indicadores do balanço dessas empresas nos levam a acreditar que o setor está em boa posição para superar o overhang trazido pelo caso SVB”.

“Como resultado, reiteramos nossa visão de que, apesar do desafiador ano de 2023, os balanços dos bancos brasileiros estão saudáveis e os atuais descontos no valuation dessas empresas funcionam como um colchão para as ações”, concluiu Guimarães.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.