Bloomberg — Títulos públicos globais experimentam forte rali em meio à busca por ativos mais seguros, com a aposta de investidores de que o colapso de três bancos dos Estados Unidos vai obrigar autoridades a aliviar o aperto monetário.
Esse movimento chegou a encolher os rendimentos das notas de dois anos do Tesouro dos EUA – as mais sensíveis às mudanças na política monetária – em até 45 pontos base nesta segunda-feira (13), enquanto as taxas dos títulos alemães de prazo equivalente caíram 51 pontos base.
“Tanto a velocidade quanto o ponto final do ciclo de aumentos do Fed devem diminuir”, escreveu George Saravelos, chefe global de pesquisa cambial do Deutsche Bank. “A barreira para o Fed voltar a acelerar o aperto é significativamente maior.”
Os mercados monetários agora precificam apenas 14 pontos base de aumentos na reunião do Fed da próxima semana, em comparação com 44 pontos base na semana passada.
O Goldman Sachs (GS) descartou por completo sua previsão de alta dos juros em março. O cenário também mudou na Europa, com o pico da taxa básica do Banco Central Europeu abaixo de 3,5%, em relação a 4,2% na semana passada.
É outra mudança abrupta na trajetória de novos aumentos das taxas de juros nos últimos meses, pois traders precificam o risco de contágio bancário juntamente com as perspectivas para o crescimento e preços. Alguns analistas alertam que o quadro pode mudar novamente se os dados de inflação dos EUA, previstos para terça-feira (14), ficarem acima das expectativas.
As Treasuries (títulos de 10 anos dos EUA) enfrentaram volatilidade nas últimas sessões devido às constantes mudanças nas projeções para os juros.
Os rendimentos dos títulos de dois anos dos EUA chegaram a subir acima de 5% na semana passada, depois que o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que o banco central provavelmente elevaria a taxa básica mais rápido do que o previsto anteriormente devido à persistência da inflação.
Tudo isso mudou depois da quebra de três bancos nos últimos dias, entre eles o Silicon Valley Bank, que destacou o impacto das taxas de juros mais altas.
“Temos que adicionar mais um fator à avaliação das autoridades do Fed, que é a carga sobre o sistema financeiro”, disse Kenta Inoue, estrategista sênior de renda fixa do Mitsubishi UFJ Morgan Stanley Securities, em Tóquio. “Ficou muito difícil optar por uma alta de 50 pontos base. O colapso do SVB elevou a probabilidade de que o fim dos aumentos do Fed não esteja muito longe agora.”
O impacto do colapso dos bancos também provocou ondas de choque no mundo todo. Os rendimentos dos títulos de três anos da Austrália caíram até 29 pontos base, mas depois recuperaram parte das perdas.
O “yield” das notas de 10 anos do Japão recuou para 0,315% – o nível mais baixo desde que o banco central do país dobrou inesperadamente o teto da curva de juros em 20 de dezembro.
Atenção à resposta de autoridades monetárias
Após a quebra do SVB, o Fed criou um mecanismo de emergência para permitir que bancos possam oferecer como garantia uma série de ativos de alta qualidade em troca de fundos no prazo de um ano. Reguladores também se comprometeram a proteger totalmente até mesmo depositantes não segurados no banco.
O colapso do SVB com a liquidação pela FDIC – a segunda maior falência de um banco dos EUA depois do Washington Mutual, em 2008 – surpreendeu na sexta-feira (10), na sequência de alguns dias de saques de sua antiga base de clientes, entre eles startups de tecnologia.
Ainda assim, crescem as preocupações de que a quebra dos três bancos possa ser apenas a ponta do iceberg.
“Os riscos estão claramente presentes” de que o colapso do SVB possa ser o “canário na mina de carvão”, escreveram estrategistas da TD Securities liderados por Priya Misra, em nota de pesquisa no domingo (12).
“As consequências macro do SVB no setor de tecnologia e nos padrões de empréstimos bancários como um todo devem pesar na percepção de risco e nas expectativas de crescimento de longo prazo.”
-- Com a colaboração de Liau Y-Sing.
Veja mais em bloomberg.com
Leia também:
EUA anunciam resgate a clientes do SVB para evitar crise sistêmica
Startups brasileiras buscam levantar crédito com base em capital preso no SVB