Colapso do SVB se espalha do Reino Unido ao Canadá e deixa startups sem caixa

Fundadores temem pela falta de dinheiro para o pagamento de funcionários e operações do dia-a-dia e pedem intervenção federal para evitar efeito dominó no setor

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Bloomberg — As consequências do colapso do Silicon Valley Bank, ou apenas SVB (SIBV), estão começando a se espalhar pelo mundo.

Fundadores de startups na área da baía da Califórnia estão em pânico em relação ao acesso (ou não acesso) ao dinheiro e às condições para pagar os funcionários. O medo de contágio chegou ao Canadá, onde a carteira de empréstimos do banco agora quebrado dobrou no ano passado.

A unidade do SVB no Reino Unido deve ser declarada insolvente, já encerrou suas atividades e não está mais conquistando clientes. Neste sábado (11), os líderes de cerca de 180 empresas de tecnologia enviaram uma carta pedindo a intervenção do secretário do Tesouro do Reino Unido, Jeremy Hunt.

“A perda de depósitos tem o potencial de paralisar o setor e atrasar o ecossistema em 20 anos”, disseram eles na carta vista pela Bloomberg News. “Muitas empresas serão enviadas para liquidação involuntária da noite para o dia.”

Isso é apenas o começo. O SVB também tinha filiais na China, na Dinamarca, na Alemanha, na Índia, em Israel e na Suécia. Fundadores estão alertando que a falência do banco pode acabar com startups em todo o mundo sem que haja tempo para uma intervenção do governo.

A joint venture do SVB na China, o SPD Silicon Valley Bank, buscava acalmar os clientes locais da noite para o dia, lembrando-os de que as operações têm sido independentes e estáveis.

“Essa crise começará na segunda-feira [dia 13] e, portanto, pedimos que você a evite agora”, disseram os fundadores e CEOs de startups do Reino Unido na carta a Hunt. As empresas listadas na carta incluem Uncapped, Apian, Pockit e Pivotal Earth.

Hunt conversou com o presidente do Banco da Inglaterra, o banco central do país, sobre a situação na manhã de sábado, e realizou uma mesa redonda com as empresas afetadas no final do dia, disse o Tesouro.

Ressaltando o desafio que os governos enfrentam para lidar com toda a extensão das consequências.

O Tesouro do Reino Unido começou a sondar as startups e a perguntar quanto elas têm em depósito, o consumo aproximado de caixa e o acesso a facilidades bancárias no SVB e além, segundo duas pessoas familiarizada com o assunto, pedindo para não serem identificadas porque a informação não é pública.

O Tesouro se recusou a comentar a consulta.

Fundadores aguardavam ansiosamente o resultado da mesa redonda e qualquer informação sobre como seus depósitos no banco seriam tratados.

‘Vida ou morte’

Toby Mather, CEO da startup de software educacional Lingumi, com sede no Reino Unido, disse que tem 85% do caixa de sua empresa em SVB. Ele tentou transferir algumas de suas contas, mas no sábado à noite não tinha certeza se isso funcionaria. “Isso é vida ou morte para nós”, disse ele. “Essas coisas pareciam tão mundanas antes.”

Jack O’Meara, fundador da startup genômica londrina Ochre Bio, passou o fim de semana tentando, sem sucesso, retirar os depósitos do SVB. “Se não houver intervenção”, disse ele, “isso pode realmente acabar com uma geração de empresas empreendedoras.”

Assim como nos EUA, alguns depósitos do SVB no Reino Unido são segurados, mas não está claro quando esses fundos estarão disponíveis. Uma preocupação mais profunda entre os líderes de startups é que o colapso do SVB limitaria o financiamento futuro de capital de risco para o Reino Unido, onde as empresas já estão prejudicadas pelo Brexit.

O congressista norte-americano Ro Khanna, de Santa Clara, realizou uma reunião municipal na sexta-feira a qual compareceram mais de 600 pessoas, incluindo fundadores de startups, líderes de tecnologia e funcionários da SVB. Durou mais de duas horas e meia com o foco principal nas pequenas empresas que tentavam fazer a folha de pagamento em todo o país na segunda-feira.

Os clientes do SVB na Califórnia, muitos deles fundadores de startups, ficaram do lado de fora da agência do banco na famosa Sand Hill Road, no Vale do Silício, no frio e na chuva da sexta-feira, batendo nas portas de vidro trancadas e tentando fazer com que representantes da Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), que assumiu como liquidante, respondessem às suas perguntas.

A fundadora de uma startup de drones disse que uma retirada que ela fez na quinta-feira não foi concluída e que ela estava preocupada com a folha de pagamento de seus 12 funcionários em período integral. Ela tentou ligar para o FDIC várias vezes, “mas o número não atende”, disse ela.

Número que não atende

Outro cliente comentou que ele deveria ter trazido uma garrafa de uísque para distribuir enquanto esperavam. Ao tentar obter mais informações de um representante do FDIC, ele disse: “Coloque-se no nosso lugar”. O representante pediu desculpas antes de fechar a porta de vidro mais uma vez.

Alguns no mundo do VC e das startups estão tentando criar correções temporárias.

A Uncapped, uma startup de tecnologia financeira do Reino Unido que empresta a outras startups, disse que está lançando um programa de financiamento de emergência para ajudar as empresas a cumprir a folha de pagamento e outras obrigações, bem como empréstimos-ponte de longo prazo para ajudar no capital de giro.

Alexander Fitzgerald, fundador da startup de banda larga Cuckoo e ex-funcionário do Tesouro, observou que as finanças das startups britânicas já estão sobrecarregadas devido a uma desaceleração no mercado de financiamento de capital de risco. “As startups britânicas precisam que o Tesouro intervenha rapidamente”, disse ele.

No Canadá, a unidade do SVB Financial Group no país reportou 435 milhões de dólares canadenses (US$ 314 milhões) em empréstimos garantidos no ano passado, o dobro dos C$ 212 milhões do ano anterior, mostram registros regulatórios.

Seus clientes incluem o provedor de software de comércio eletrônico Shopify e a empresa farmacêutica HLS Therapeutics, de acordo com uma declaração anterior do banco.

A AcuityAds Holdings, uma empresa de tecnologia de publicidade com sede em Toronto, revelou no sábado que tinha 55 milhões de dólares canadenses em depósitos no SVB, totalizando mais de 90% de seu caixa. A empresa interrompeu a negociação de suas ações na sexta-feira após uma queda de 14%, citando a “situação em desenvolvimento” com o Silicon Valley Bank.

- Com a colaboração de Paige Smith.

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