A era dos assistentes executivos 2.0: novas funções e mais responsabilidade

Com salários que podem superar US$ 100 mil ao ano nos EUA, tais profissionais agora trabalham com tarefas e habilidades mais complexas e digitais

Assistentes executivos acreditam que nome do cargo não reflete mais conjunto de tarefas e habilidades necessárias para o trabalho
Por Arianne Cohen
11 de Março, 2023 | 06:02 PM

Bloomberg — Antes da pandemia, a assistente executiva Yasmin Chung administrava milhares de reuniões diretamente de sua mesa no escritório, vigiando as salas de conferência, os participantes e seus chefes – um dos quais era o prefeito de Londres. Hoje em dia, seu trabalho é frequentemente virtual.

“Às vezes, meu chefe envia uma mensagem de última hora se uma reunião estiver atrasada, mas depende se está fácil para ele se comunicar”, disse Chung sobre seu trabalho como assistente executiva na Juro, plataforma de contratos legais para a qual ela agora trabalha. “É um pouco mais difícil antecipar onde as pessoas estão. Eu me sinto mais presa a uma tela.”

Assim como as funções de secretariado foram alteradas pela tecnologia e pelo movimento das mulheres, o trabalho de assistentes também está mudando.

Desde a pandemia, o cargo passou de predominantemente presencial e prático para um cargo muitas vezes virtual e digital, com foco em uma tarefa aparentemente impossível: manter o controle de pessoas em diversos locais. Por sua vez, os nomes dos cargos, as responsabilidades e as tarefas diárias também estão mudando.

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“Eles estão fazendo muitas chamadas de vídeo e também participando de mais reuniões do que antes da pandemia, a fim de permanecerem informados”, disse Bonnie Low-Kramen, proprietária da Ultimate Assistant Training & Consulting, que trabalhou para a atriz Olympia Dukakis por 25 anos. “Estamos vendo a palavra ‘assistente’ ser completamente eliminada em algumas empresas.”

Alguns dos novos cargos preferidos causam ceticismo, como “parceiro comercial estratégico”, “parceiro administrativo”, “líder ou coordenador administrativo”, “gerente de projetos comerciais” e “associado de gerência”. Mas os assistentes afirmam que os novos cargos refletem melhor responsabilidades cada vez maiores.

“O estigma da palavra ‘assistente’ tem a ver com os estereótipos das secretárias como ‘fazem-tudo’ submissas retratadas em O Diabo Veste Prada”, disse Low-Kramen. “Algumas pessoas realmente sofrem com as velhas ideias do que é um assistente.”

Os cargos de assistente agora atraem consistentemente pessoas que não querem ser rotuladas como administradores, particularmente em empresas competitivas em que ser assistente pode ser o ponto de entrada mais fácil.

A trajetória de mudança dos assistentes é evidente na TransPerfect, uma empresa de tradução com 7.500 funcionários. Alguns assistentes chegaram a liderar divisões, e um ex-assistente atualmente é líder de pessoal, segundo o CEO Phil Shawe, que emprega oito assistentes em todo o mundo. O trabalho não é mais majoritariamente básico como marcar reuniões e viagens.

“Muitas vezes eles fazem as reuniões por mim e representam a empresa, se tornando executivos por mérito próprio”, disse Shawe. “Sempre digo às pessoas que você deve contratar alguém com quem gostaria de firmar uma sociedade, mesmo que isso não pareça ser o conjunto de habilidades necessárias.”

As assistentes executivas americanas são 93% mulheres, com um salário médio de US$ 66.870 por ano em 2021, de acordo com os últimos dados do Departamento de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos.

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Assistentes executivos em áreas como tecnologia e finanças ganham muito mais, com uma média de quase US$ 90 mil por ano. Low-Kramen disse que cargos de apoio a executivos de alto escalão geralmente têm piso salarial de US$ 100 mil por ano, e um líder de pessoal começa recebendo de US$ 125 mil a US$ 150 mil por ano. Os dados não refletem funcionários que subiram de cargo.

Os aumentos atrelados aos novos cargos podem ser substanciais.

“Se eu me chamar de associada, tenho mais chances de receber uma remuneração de nível gerencial”, disse Jill Larmer, que trabalhou como secretária e assistente em quatro continentes desde 1979.

À medida que suas funções se expandiram de tarefas de nível básico até a redação de atas de diretoria que se alinham com a estratégia legal e a redação de resoluções da diretoria, até assumir projetos inteiros dos executivos, ela sentiu que a palavra “assistente” não era mais o termo apropriado.

“Eu auxiliei líderes incríveis, e eles me orientaram em habilidades de gestão”, disse ela. “Chegou ao ponto em que, como uma marca de respeito a eles, e também para reconhecer o nível de habilidade que eu havia adquirido, decidi mudar meu cargo para associada de gerência.”

Talvez a maior mudança na área seja uma nova preferência por pessoas extremamente proativas. As funções de apoio sempre envolveram ficar três passos à frente do chefe, mas o trabalho agora muitas vezes envolve descobrir como fazer as coisas acontecerem enquanto se trabalha fisicamente separado dos outros.

“Ninguém está passando listas de tarefas todo dia”, disse Shawe.

Embora as funções de assistente variem muito entre setores, o espírito da pandemia de mão na massa resultou em cargas de trabalho maiores, e os assistentes acabaram fazendo uma gama mais ampla de trabalho especializado.

“Estou envolvida em detalhes mais específicos do negócio, e provavelmente é mais intenso agora”, disse Rebecca Burgess sobre seu cargo de assistente executiva do CEO da empresa Interpolitan Money. “Participo de muitas reuniões em nome do CEO”.

Uma tarefa que tem crescido muito é o monitoramento das comunicações. Uma propensão para várias reuniões seguidas no Zoom está deixando os chefes mais ocupados agora que antes da pandemia.

Alguns assistentes fazem reuniões com seus chefes até duas vezes ao dia, o que era desnecessário quando trabalhavam juntos no mesmo escritório. Outros agora atuam como orientadores para equipes funcionários híbridas, respondendo a perguntas que antes eram feitas casualmente no ambiente corporativo.

“Já falei com a maioria das pessoas da empresa, porque elas se sentem à vontade para me mandar uma mensagem no Slack”, disse Chung.

A empresa média trabalha com 187 aplicativos. Para Chung, isso inclui e-mail, mensagens de texto, Slack, Google Drive, uma plataforma de RH e o Notion, onde é possível ver quais tarefas seu chefe está fazendo.

Chung também administra sete e-mails: o seu próprio, o do seu chefe, diversas contas gerais da empresa e as contas pessoais de seu chefe. Outras empresas utilizam ferramentas organizacionais como Trello ou Asana, bem como aplicativos de comunicação interna.

“A informação está fluindo de forma muito fragmentada”, disse Low-Kramen. “Isso é muito novo até mesmo para os assistentes mais experientes, e muitos estão considerando isso um problema. As coisas acabam passando batido.”

Chung observou que as novas funções expansivas dos assistentes são mais apreciadas pelos líderes, que enxergam seus esforços no dia a dia. “Em comparação com outros cargos que tive, agora há mais respeito.”

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