Magazine Luiza investiga denúncia sobre bônus a fornecedores

Após reportar prejuízo de R$ 500 milhões em 2022, empresa diz que investiga supostas práticas irregulares em compras de produtos, em novo caso da crise no varejo

Magalu contrata assessores independentes para investir denúncia de bonificação irregular com três fornecedores
10 de Março, 2023 | 09:27 AM

Bloomberg Línea — Além de reportar um prejuízo de R$ 499 milhões em 2022, o Magazine Luiza (MGLU3) avisou ao mercado sobre a abertura de uma investigação para apurar uma denúncia anônima sobre supostas irregularidades envolvendo operações de bonificação nas compras de distribuidores e fornecedores, que atingem o equivalente a cerca de 3,5% do total de suas compras de mercadorias.

Na abertura do pregão na B3, as ações do Magalu recuaram cerca de 11%, mas depois passaram a amenizar a queda; perto das 13h, recuavam cerca de 3%. E, próximo ao fechamento, caía 0,6%.

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Em 2022, o saldo anual de contas a pagar com fornecedores somou R$ 350 milhões. Os três distribuidores envolvidos no caso também têm contratos com o Kabum, e-commerce de tecnologia e games, adquirido pelo Magalu em 2021, disse uma fonte a par da situação, que pediu anonimato, pois a informação não é pública. A denúncia anônima foi recebida pela EY (Ernst & Young), firma de auditoria que trabalha para a varejista, e encaminhada ao conselho de administração, segundo a fonte.

Em teleconferência com analistas sobre o balanço, o CEO da companhia, Fred Trajano, evitou fornecer detalhes da denúncia e os desdobramentos. Na conversa, ele destacou como focos de 2023 a melhoria das margens de lucro, esforços para captura de sinergias com operações de logística, aceleração dos prazos de entregas no e-commerce e repasse de novas despesas tributárias para os preços.

O fato relevante, divulgado no início da madrugada desta sexta-feira (10), representa mais um capítulo na crise de confiança que atinge o varejo brasileiro desde a revelação de um rombo da ordem de R$ 20 bilhões na contabilidade da Americanas (AMER3) no dia 11 janeiro, que resultou no aumento do rigor dos bancos para aprovar crédito para o setor.

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O Magalu informou, sem revelar nomes, ter contratado assessores externos independentes para conduzir a apuração das supostas irregularidades em operações com certos distribuidores e fornecedores. A varejista informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não fornecerá informações adicionais sobre o caso.

“O Comitê de Auditoria, Riscos e Compliance já iniciou a apuração dos fatos narrados e reportará suas conclusões ao Conselho de Administração ao final dos trabalhos”, cita o fato relevante, sem fornecer prazos.

O fato relevante, assinado pelo CFO Roberto Rodrigues, considera que as práticas denunciadas estão “em desacordo com o Código de Conduta e Ética” da companhia.

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A companhia diz, sem citar nomes, que a denúncia menciona três distribuidores, que representaram aproximadamente 3,5% do valor de compra de mercadorias da companhia.

Efeitos da Americanas

O Magazine Luiza é apontado por analistas como um dos players que mais se beneficiam da crise da Americanas, com esperado ganho de market share. Como reflexo, as ações chegaram a acumular ganhos de 50% desde a revelação do rombo da concorrente, embora essa valorização hoje esteja em 12%. No acumulado do ano, as ações subiram cerca de 24%

caso da Americanas, o problema envolveu operações de antecipação de recebíveis (risco sacado), que eram baixadas nos balanços na conta de fornecedores, e não como dívida bancária, o que foi considerado uma fraude pelos bancos.

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A Americanas entrou em recuperação judicial em janeiro e divulgou uma lista com mais de 9 mil credores e uma dívida superior a R$ 42 bilhões.

Enquanto negocia um acordo sobre a dívida com os bancos, a varejista prepara um plano de reestruturação, previsto para ser apresentado ainda neste mês. Há uma guerra judicial travada com bancos credores envolvendo a liberação de recursos para o pagamento de credores menores e dívidas trabalhistas, com idas e vindas nas decisões no Judiciário.

A revelação da denúncia envolvendo a Magalu ocorre também em um contexto de surgimento de diversos processos de renegociação de dívidas das varejistas com bancos e fornecedores.

As despesas financeiras do setor dispararam com o cenário de desaceleração econômica e dos juros elevados. O aperto monetário no Brasil teve início há dois anos, quando a taxa Selic, até então em 2% ao ano, começou a subir até atingir o patamar atual de 13,75%.

- Atualizado às 10h10 com novas informações do saldo de contas a pagar com fornecedores e sobre o Kabum e à EY.

- Atualizado às 12h55 com informações sobre a negociação das ações nesta sexta.

- Atualizado às 13h20 com informações sobre a teleconferência com analistas.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.