Magazine Luiza investiga denúncia sobre bônus a fornecedores

Após reportar prejuízo de R$ 500 milhões em 2022, empresa diz que investiga supostas práticas irregulares em compras de produtos, em novo caso da crise no varejo

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Bloomberg Línea — Além de reportar um prejuízo de R$ 499 milhões em 2022, o Magazine Luiza (MGLU3) avisou ao mercado sobre a abertura de uma investigação para apurar uma denúncia anônima sobre supostas irregularidades envolvendo operações de bonificação nas compras de distribuidores e fornecedores, que atingem o equivalente a cerca de 3,5% do total de suas compras de mercadorias.

Na abertura do pregão na B3, as ações do Magalu recuaram cerca de 11%, mas depois passaram a amenizar a queda; perto das 13h, recuavam cerca de 3%. E, próximo ao fechamento, caía 0,6%.

Em 2022, o saldo anual de contas a pagar com fornecedores somou R$ 350 milhões. Os três distribuidores envolvidos no caso também têm contratos com o Kabum, e-commerce de tecnologia e games, adquirido pelo Magalu em 2021, disse uma fonte a par da situação, que pediu anonimato, pois a informação não é pública. A denúncia anônima foi recebida pela EY (Ernst & Young), firma de auditoria que trabalha para a varejista, e encaminhada ao conselho de administração, segundo a fonte.

Em teleconferência com analistas sobre o balanço, o CEO da companhia, Fred Trajano, evitou fornecer detalhes da denúncia e os desdobramentos. Na conversa, ele destacou como focos de 2023 a melhoria das margens de lucro, esforços para captura de sinergias com operações de logística, aceleração dos prazos de entregas no e-commerce e repasse de novas despesas tributárias para os preços.

O fato relevante, divulgado no início da madrugada desta sexta-feira (10), representa mais um capítulo na crise de confiança que atinge o varejo brasileiro desde a revelação de um rombo da ordem de R$ 20 bilhões na contabilidade da Americanas (AMER3) no dia 11 janeiro, que resultou no aumento do rigor dos bancos para aprovar crédito para o setor.

O Magalu informou, sem revelar nomes, ter contratado assessores externos independentes para conduzir a apuração das supostas irregularidades em operações com certos distribuidores e fornecedores. A varejista informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não fornecerá informações adicionais sobre o caso.

“O Comitê de Auditoria, Riscos e Compliance já iniciou a apuração dos fatos narrados e reportará suas conclusões ao Conselho de Administração ao final dos trabalhos”, cita o fato relevante, sem fornecer prazos.

O fato relevante, assinado pelo CFO Roberto Rodrigues, considera que as práticas denunciadas estão “em desacordo com o Código de Conduta e Ética” da companhia.

A companhia diz, sem citar nomes, que a denúncia menciona três distribuidores, que representaram aproximadamente 3,5% do valor de compra de mercadorias da companhia.

Efeitos da Americanas

O Magazine Luiza é apontado por analistas como um dos players que mais se beneficiam da crise da Americanas, com esperado ganho de market share. Como reflexo, as ações chegaram a acumular ganhos de 50% desde a revelação do rombo da concorrente, embora essa valorização hoje esteja em 12%. No acumulado do ano, as ações subiram cerca de 24%

caso da Americanas, o problema envolveu operações de antecipação de recebíveis (risco sacado), que eram baixadas nos balanços na conta de fornecedores, e não como dívida bancária, o que foi considerado uma fraude pelos bancos.

A Americanas entrou em recuperação judicial em janeiro e divulgou uma lista com mais de 9 mil credores e uma dívida superior a R$ 42 bilhões.

Enquanto negocia um acordo sobre a dívida com os bancos, a varejista prepara um plano de reestruturação, previsto para ser apresentado ainda neste mês. Há uma guerra judicial travada com bancos credores envolvendo a liberação de recursos para o pagamento de credores menores e dívidas trabalhistas, com idas e vindas nas decisões no Judiciário.

A revelação da denúncia envolvendo a Magalu ocorre também em um contexto de surgimento de diversos processos de renegociação de dívidas das varejistas com bancos e fornecedores.

As despesas financeiras do setor dispararam com o cenário de desaceleração econômica e dos juros elevados. O aperto monetário no Brasil teve início há dois anos, quando a taxa Selic, até então em 2% ao ano, começou a subir até atingir o patamar atual de 13,75%.

- Atualizado às 10h10 com novas informações do saldo de contas a pagar com fornecedores e sobre o Kabum e à EY.

- Atualizado às 12h55 com informações sobre a negociação das ações nesta sexta.

- Atualizado às 13h20 com informações sobre a teleconferência com analistas.

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